sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Hélio Schwartsman - O Brasil vai sucumbir à variante delta do vírus?

Folha de S. Paulo

Imunização adulta completa ainda é baixa no país -apenas 45% da população

O Sars-CoV-2 já mostrou que é bom em frustrar previsões. O vírus, que, em setembro de 2020, ainda aparecia em artigos científicos como apresentando notável “estabilidade genômica”, acabou se revelando um mutante competente, que já rendeu meio alfabeto grego de variantes de interesse/preocupação. Quatro delas, alfa, beta, gama e delta, foram relacionadas a novas ondas epidêmicas em países em que se tornaram dominantes.

Repiques e quedas inesperados, aliás, foram uma constante ao longo do último ano e meio. Países que chegaram a sentir o gostinho de vitória sobre a Covid-19, como EUA e Israel, tiveram de retroceder. Outros, que já haviam se acostumado a colecionar derrotas, caso do Brasil, podem estar na iminência de um triunfo. É preciso aqui frisar o “podem”. Se há algo que o vírus já deveria ter nos ensinado é a humildade preditiva.

Seja como for, a temível variante delta já é a prevalente nas amostras submetidas a análise genômica no Brasil e, até aqui, não vimos nada parecido com a catástrofe que muitos bons cientistas prognosticaram. Não dá para assegurar que as coisas permanecerão assim, especialmente porque existe uma relação de
“feedback” negativo entre a intensidade da epidemia e sua percepção pela população: quanto pior a situação nos hospitais, mais as pessoas se cuidam e a transmissão arrefece; quanto mais seguras se sentem, mais elas relaxam e o contágio aumenta.

Já podemos, contudo, buscar explicações para o que vimos até agora. E a melhor hipótese é o avanço da vacinação. Embora a proporção de brasileiros adultos com imunização completa ainda seja baixa, 45%, a dos que já receberam ao menos uma dose chega a 82%. Nossa hesitação vacinal é baixa. Pelos estudos, a imunização parcial não é um escudo muito eficaz contra a delta. No caso do Brasil, porém, com uma população já castigada por uma variante 2.0, a gama, ela parece estar evitando o pior.

 

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