Folha de S. Paulo
Imunização adulta completa ainda é baixa no
país -apenas 45% da população
O Sars-CoV-2 já mostrou que é bom em
frustrar previsões. O vírus, que, em setembro de 2020, ainda aparecia em
artigos científicos como apresentando notável “estabilidade genômica”, acabou
se revelando um mutante competente, que já rendeu meio alfabeto grego de
variantes de interesse/preocupação. Quatro delas, alfa,
beta, gama e delta, foram relacionadas a novas ondas epidêmicas em países
em que se tornaram dominantes.
Repiques e quedas inesperados, aliás, foram uma constante ao longo do último ano e meio. Países que chegaram a sentir o gostinho de vitória sobre a Covid-19, como EUA e Israel, tiveram de retroceder. Outros, que já haviam se acostumado a colecionar derrotas, caso do Brasil, podem estar na iminência de um triunfo. É preciso aqui frisar o “podem”. Se há algo que o vírus já deveria ter nos ensinado é a humildade preditiva.
Seja como for, a temível variante delta já
é a prevalente nas
amostras submetidas a análise genômica no Brasil e, até aqui, não vimos nada
parecido com a catástrofe que muitos bons cientistas prognosticaram. Não dá
para assegurar que as coisas permanecerão assim, especialmente porque existe
uma relação de
“feedback” negativo entre a intensidade da epidemia e sua percepção pela
população: quanto pior a situação nos hospitais, mais as pessoas se cuidam e a
transmissão arrefece; quanto mais seguras se sentem, mais elas relaxam e o
contágio aumenta.
Já podemos, contudo, buscar explicações
para o que vimos até agora. E a melhor hipótese é o avanço da vacinação. Embora
a proporção de brasileiros adultos com imunização completa ainda seja baixa,
45%, a dos que já receberam ao menos uma dose chega a 82%. Nossa hesitação
vacinal é baixa. Pelos estudos, a imunização parcial não é um escudo muito
eficaz contra a delta. No caso do Brasil, porém, com uma população já castigada
por uma variante 2.0, a gama, ela parece estar evitando o pior.
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