quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Ruy Castro - Bolsonaro mais perigoso do que nunca

Folha de S. Paulo

Há meses sugeri focinheira, camisa de força e jaula para ele. Agora é tarde

Há seis meses, escrevi neste espaço que só havia uma maneira de parar Jair Bolsonaro: neutralizando-o com uma focinheira, metendo-o numa camisa de força e trancando-o numa jaula. Ciente do risco de cada uma dessas etapas —poucos animais são tão perigosos quanto Bolsonaro—, sugeri o único plano que, a meu ver, tornaria a operação segura e factível. Transcrevo:

Seria uma ação conjunta, tipo Swat ou Mossad, envolvendo várias equipes de elite, mestras em artes marciais, resistência e coerção. Uma das equipes se jogaria sobre Bolsonaro de surpresa, imobilizando-o pelo tempo suficiente para que outra lhe aplicasse a focinheira. A salvo das mordidas e cusparadas da besta-fera, as duas equipes, com a ajuda de uma terceira, o enfiariam numa camisa de força. Por fim, as três o arrastariam a uma jaula com grades eletrificadas.

Alguns leitores argumentaram que até Bolsonaro tem direito a um processo justo, composto de indiciamento, denúncia, oitiva de testemunhas, distribuição para a respectiva vara, pedido de licença para arguição do preceito fundamental, aprovação de 2/3 da Câmara, parecer do relator, recursos infringentes, leitura da ata da reunião de condomínio, masturbação a céu aberto e outros trâmites obrigatórios da Justiça brasileira. Concordei, mas observei que a expectativa de vida do brasileiro não é suficiente para assistirmos à conclusão desse processo. Teremos todos morrido antes.

Bem, minha sugestão não foi levada em conta e chegamos ao que se viu em Brasília e São Paulo no 7 de Setembro —os rosnados de Bolsonaro atingindo o auge do paroxismo. Em resposta, os homens com voz e garras suficientes para contê-lo calçaram luvas e miaram.

O consolo é que, com sua incontrolável índole hidrófoba, Bolsonaro afugenta os próprios aliados. A fera está cada vez mais isolada. O que a fará recrudescer seu grau de bestialidade e a tornará mais perigosa do que nunca.

 

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