Folha de S. Paulo
Nada como fomentar a baderna e o caos para
exigir medidas extremas -vide o Reichstag
Na noite de 27 de fevereiro de 1933,
em Berlim, o fogo irrompeu no edifício do Reichstag, o Parlamento alemão.
Os bombeiros foram alertados, mas, ao chegarem, o prédio já tinha sido tomado.
Poucas horas depois, o governo (chefiado por Adolf Hitler, recém-nomeado
chanceler) anunciou a prisão em flagrante do ativista Marinus van der Lubbe, 24
anos, quase cego e com problemas mentais. No dia seguinte, por instância de
Hitler, o presidente Paul
von Hindenburg suspendeu as liberdades civis. Iniciou-se a caça aos
políticos de oposição, com prisões em massa e perda de mandatos. O Partido
Nazista empalmou o poder e Hitler passou a governar por decreto.
O incêndio nunca ficou bem esclarecido. Hitler atribuiu-o aos comunistas desde o primeiro minuto e, pela manhã, a imprensa de Berlim já comprou essa versão. Mas, um mês depois, Walter Gempp, chefe dos bombeiros e que comandara a operação, foi demitido ao denunciar que o alerta viera com atraso e ele fora proibido de usar todos os recursos contra o fogo. Em 1937, Gempp foi detido por “abuso do cargo” e condenado à prisão, onde foi estrangulado e morto em 1939. De Van der Lubbe, guilhotinado em 1934, disse-se que teria sido instrumentado pelos nazistas para atear o fogo. Em 1998, o Estado alemão o inocentou.
Naquela noite fatal de 1933, ao ver o
Reichstag em chamas, Hitler definiu-o como “um sinal de Deus” para alertar os
alemães contra o terror bolchevista. Foi mais do que isso: permitiu-lhe
consolidar seu poder. Nada como a anarquia e o caos para exigir medidas
extremas.
Temem-se badernas armadas em Brasília e São
Paulo nesta terça, 7 de setembro. Serão parte de uma clara estratégia em curso
por Jair Bolsonaro: fomentar conflagrações nas ruas entre seus partidários e
adversários para justificar uma intervenção militar e eternizá-lo no poder.
É o Bolso-stag —um Reichstag ostensivo, à
luz do dia, para botar fogo não em um prédio, mas no país.
Bolso-stag ou Stag-bolso?
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