sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Carlos Alberto Torres* - Não existe espaço para o antilavajatismo no palanque da 3ª Via

No momento em que já começam a se articular as candidaturas que disputarão as eleições presidenciais de 2022, não existe espaço para o antilavajatismo e para o antimorismo no palanque da 3ª Via. E Sergio Moro, candidato ou não a presidente, terá um papel destacado neste palanque, para fortalecê-lo e para levar a candidatura da terceira via à vitória. Sem isso, a 3ª Via não se viabilizará enquanto necessidade histórica.

Trata-se de uma questão estratégica, pois não terá qualquer chance o candidato da 3ª Via que queira derrotar a Lula e a Bolsonaro sem assumir, com nitidez, o caráter democrático do combate à corrupção e da luta para acabar com a impunidade. Esta não é uma questão acessória: ela deve ter a sua tradução no texto do programa dos candidatos da 3ª Via e na prática do discurso ativo e claro de campanha para denunciar e romper com os desvios éticos cometidos por Bolsonaro e por Lula. Esta questão deve ser uma marca inequívoca do compromisso democrático e histórico da 3ª Via.

Expressei, sinteticamente, esta opinião em post feito no grupo de Eduardo Jorge, no Facebook. Dada a forma simples e com poucas palavras com que estava redigido o texto, logo recebi da amiga Marialva Thereza Swioklo uma procedente crítica de que o texto deixaria depreender que eu estaria “indicando o ex-magistrado Moro como o candidato de sua (minha) preferência”. E prosseguia: “Sim, ele pode ser candidato, mas se os acontecimentos nos levarem à escolha de outro nome, com muito maior chance, devemos abraçar a luta para que esse candidato consiga expurgar a dupla diabólica”.

Considero pertinentes as considerações dela, particularmente porque eu e Marialva convergimos quanto ao papel positivo da Lava-Jato e no respeito a Moro.

Respondi-lhe, nos termos a seguir: “… já começo pelo fim, quando você me alerta de que a 2ª parte do texto pode dar ensejo à interpretação de que eu esteja defendendo a candidatura de Moro”. Mas é uma interpretação errada sobre o que realmente penso. Felizmente, já me manifestei sobre isso, por escrito, diversas vezes, em posts e comentários em minha LT no Facebook e, também, em diferentes artigos publicados no blog Decisões Interativas. Em todas as vezes, eu disse, sem exceção, que não considero Moro com o perfil e a trajetória que o indiquem para ser um candidato a presidente. Penso, mesmo, caso queira ingressar na política, que esta não é a sua melhor porta de entrada. E que, de minha filosofia política, não estou à espera de um salvador.

E tenho manifestado tantas vezes quanto, e também por escrito, que o considero um cidadão íntegro e competente, que prestou grande contribuição ao Brasil com sua participação na Operação Lava-Jato, e que demonstrou imensa coragem e senso estratégico ao ter prendido e condenado alguns poderosos criminosos de colarinho branco, inclusive ao próprio Lula.

Com todas as letras, Moro, como um democrata, não precisa pedir licença para entrar na 3ª Via, pois ele já faz parte dela, e busca, como nós, uma alternativa ao lulopetismo e ao bolsonarismo. É, pois, indispensável que ele esteja no palanque da 3ª Via, para fortalecê-la e para dar a ela perspectiva de vitória. E ele pode ter este papel sem, necessariamente, ser candidato a presidente da República.

Voltando, agora, ao início. Óbvio, seria falso dizer, ao mesmo tempo, que não existe espaço para o antilavajatismo no palanque da 3ª Via e, em seguida, vetar a presença de Moro neste mesmo palanque. Ninguém acreditaria na seriedade disso!    Tal palanque fake de 3ª Via seria o sonho de seus adversários; e seria uma arrogância delirante, ou uma malandra artimanha, neste caso, com três objetivos:

1. não querer que a 3ª Via realmente ganhe, pois seria o mesmo que dizer que a influência de Moro e os seus milhões de votos não são necessários à vitória;

2. como tática esperta para tirar votos de Bolsonaro e depois votar em Lula no 2º turno;

3. como tática esperta para tirar votos de Lula e depois votar em Bolsonaro no 2º turno.

É preciso ter claro que quem decidirá se Moro será candidato a presidente será ele mesmo, independentemente do que pense qualquer um de nós. Se se candidatar, ou não, tudo o que podemos esperar é que ele represente um papel importante e positivo no fortalecimento da 3ª Via e na construção de uma unidade que garanta a ida de um de seus candidatos para o 2º turno, ajudando a romper com o egoísmo e o personalismo que são marcas culturais de nossa política.

Permitam-me dizer como votarei no 1º turno: no candidato da 3ª via que tiver a maior chance de chegar ao 2º turno (como será revelado inequivocamente pelas pesquisas de véspera). Os nomes estão postos, não há muito o que inventar.

Escrevo este texto porque acredito que a 3ª Via poderá ganhar. Para isso, é necessário que cada um de nós saia do seu cercadinho e que, doravante, os seus candidatos articulem um palanque unitário para as manifestações e lutas democráticas que se seguirão. Desta lógica, deixemos que o PT se deslumbre com os seus próprios palanques não unitários e “vermelhos”.

Finalmente, se não é proibido sonhar: que os candidatos da 3ª Via pactuem convergir em compromisso histórico-democrático para uma candidatura unitária de 1º turno. Passos, neste sentido, já foram iniciados. Terão essa sabedoria e grandeza? Acho que vale a pena tentar!

*Professor aposentado no Departamento de Administração da Universidade de Brasilia (UnB)

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