sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Bernardo Mello Franco - Grão-mestre em autopromoção

O Globo

Jair Bolsonaro concedeu a si mesmo a Ordem Nacional do Mérito Científico. O presidente se admitiu na classe de grã-cruz, a mais elevada da comenda. Aproveitou para condecorar quatro ministros e um almirante.

O capitão não precisava de esforço para ganhar a medalha. O texto que a criou, em 1993, estabelece que seu grão-mestre é o presidente da República. Desde então, seis políticos ocuparam o cargo. Só Bolsonaro assinou um decreto para se autocongratular.

A honraria deve premiar personalidades que “se distinguiram por suas relevantes contribuições prestadas à ciência, à tecnologia e à inovação”. O capitão se distinguiu por sua contribuição para enxovalhar o setor. Asfixiou o orçamento do ministério, sucateou instituições de pesquisa e cortou milhares de bolsas de estudo.

Bolsonaro é um negacionista convicto. Nega as mudanças climáticas, a importância das vacinas e a necessidade de preservar as florestas. Sua cruzada contra a ciência agravou a tragédia da pandemia. Mesmo assim, ele vai inscrever seu nome entre personagens como Carlos Nobre e Mayana Zatz.

O presidente merecia o título de grão-mestre em autopromoção. Em setembro, o governo abriu concorrência para fazer propaganda no exterior. A agência vencedora deverá receber R$ 60 milhões só em 2022.

O edital afirma que a campanha precisará “fortalecer a imagem do Brasil” e “ressaltar o comprometimento do país com a democracia, a preservação do meio ambiente, a promoção dos direitos humanos”. Uma missão inglória para qualquer marqueteiro enquanto Bolsonaro estiver no Planalto.

A oposição recorreu ao Tribunal de Contas da União para suspender o certame. Pelo histórico recente, é improvável que isso aconteça. Ontem o ministro Augusto Nardes defendeu um “pacto” para autorizar o governo a “gastar um pouco mais”. Nem parecia o relator do processo das pedaladas fiscais, usadas como pretexto para o impeachment de Dilma Rousseff.

À vontade, Bolsonaro descreveu o TCU como “um órgão integrado a nós, dada a forma como nos relacionamos”. “Aqui deixou de ser um órgão que amedrontava muitas vezes no passado”, disse. A corte que encurralava presidentes é mais uma instituição a capitular ao bolsonarismo. E o capitão nem precisou dar medalhinhas aos ministros.

 

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