sábado, 18 de dezembro de 2021

Ascânio Seleme: Os aplausos da Fiesp

O Globo

Apenas 32% dos evangélicos aprovam o governo Bolsonaro, revelou o Datafolha; número chega a 50% entre empresários

Que Bolsonaro é um idiota, todo mundo sabe. Por isso, não surpreendeu quando disse no auditório da Federação das Indústrias de São Paulo que “ripou” a diretoria do Iphan porque o órgão havia interditado uma obra do seu amigo Luciano Hang. Também não foi novidade anunciar um crime que cometeu certo que nada vai acontecer, que foi isso o que ele fez ao revelar a “ripada”. O que surpreendeu foram os risos e os aplausos entusiasmados da plateia da Fiesp à fala cabulosa e absurda. Os presentes também gostaram de ouvir de Bolsonaro que ele colocou uma ministra no TST “que não vai dar trabalho para vocês”.

Significa que aquele público, mais do que qualificado, com acesso à informação abundante e teoricamente capacitado para ver o mundo sob diversas óticas, inclusive a humanista, se lixa para o patrimônio histórico, para a justiça social e para a lei. Foi isso o que revelaram ao rir e aplaudir quando Bolsonaro disse que demitiu a diretoria porque técnicos do Iphan encontraram “azulejos” nas escavações e paralisaram a obra de Hang. Foi o que também demonstraram quando o presidente avisou que a nova ministra do TST não os incomodará. Claro que eles entenderam o recado e foi para o que aplaudiram. Em outras palavras, Bolsonaro disse que eles “podem infringir as normas trabalhistas à vontade que a ministra não vai se mexer”.

Surpreendeu também o volume do apoio que empresários brasileiros seguem dando a Bolsonaro. Segundo a pesquisa desta sexta-feira do Datafolha, 50% deles aprovam o governo. É difícil entender a razão deste respaldo, uma vez que as principais bandeiras do empresariado empacaram. A abertura econômica esperada não aconteceu, as privatizações ficaram na promessa e a reforma tributária virou miragem. Só a reforma da Previdência andou, ainda assim graças ao Congresso, não ao Executivo. Dentro do grupo de empresários pesquisados estão pequenos empreendedores, que na verdade são a maioria, mas mesmo para estes quanto maior a liberdade econômica e menor a interferência do Estado na economia, melhor.

Uma pista sobre a razão desta teimosia em favor de Bolsonaro foi revelada pela colunista Bela Megale. Segundo petistas ouvidos pela jornalista, os empresários temem que Lula se torne vingativo caso seja eleito para o seu terceiro mandato. Mais, acham que o seu governo pode retroceder nas reformas introduzidas na economia pelo governo Michel Temer, sobretudo a trabalhista. Pode ser, embora Lula não seja do tipo que gosta de dar tiro no pé. Mexer nestas reformas já consolidadas pode causar impactos negativos e fortes na economia, o que resultaria em rápido desgaste político. E Lula odeia desgaste político.

Os empresários são mais bolsonaristas que os evangélicos, já que dentre estes, apenas 32% aprovam o governo, revelou o Datafolha. A Fiesp poderia até reivindicar uma cadeira no Supremo.

O que quer a PF

Claro que de aumento de salário ninguém reclama. Mas o que a Polícia Federal precisa mesmo é de melhores condições de trabalho, mais infraestrutura tecnológica, reformas de unidades e novos equipamentos. A estrutura da Polícia Rodoviária Federal é ainda mais precária, quem trafega nas rodovias do país sabe bem disso. Desnecessário falar sobre o que passa o pessoal do Departamento Penitenciário Nacional, basta ver em que estado encontram-se os presídios brasileiros. De resto, a proposta de reajuste salarial para eles feita por Bolsonaro é de uma extravagância espetacular.

Buscando a extrema

A radicalização de Bolsonaro destes dias tem por objetivo não perder votos entre os extremistas de direita que o apoiam e que ameaçam ir para Moro se o capitão mantiver a doçura adquirida depois do Sete de Setembro. Seu medo é perder relevância no único grupo em que ainda é dominante. Por isso também quer dar aumento antecipado aos policiais federais. E isso vai piorar.

Covardes

Um jornalista é agarrado e leva um mata- leão de um segurança do presidente. Outro é apenas advertido. Qual é o homem e qual é a mulher? Não precisa responder. A covardia contra mulheres jornalistas é evidente. Normalmente, mulheres são mais aguerridas e dedicadas no trabalho que homens, mas não é esta a razão das agressões. É por covardia machista e misógina que elas recebem duas vezes mais ataques no Twitter do que os jornalistas do sexo masculino. Por essa mesma covardia, uma repórter da TV Globo foi agarrada pelo pescoço numa chave de braço pelo segurança truculento. Outro jornalista foi agredido na ocasião, mas apenas verbalmente. Era homem e os covardes se encolheram.

Parece que bebe

Soube-se esta semana que o general Heleno toma dois Lexotan na veia diariamente. O que não foi revelado pelo militar é quantas doses ele bebe diariamente e se traga quando fuma. Deve ser em quantidade industrial. Somente muita bebida e muito fumo explica a sua fala contra o Supremo Tribunal Federal (mais uma vez) e o seu “medo” de que o presidente Bolsonaro seja assassinado. Trata-se do velho e repugnante golpista, sempre tramando.

Desleal

A derrota que o senador Fernando Bezerra sofreu na sua candidatura para o TCU mostra bem o caráter de Bolsonaro. Para o presidente, lealdade é bom e ele gosta, só não lhe peçam reciprocidade.

Desenterrando defuntos

Já começaram, mas vão ficar muito mais fundas as escavações dos órgãos federais de fiscalização (Polícia Federal, Receita, Coaf) em busca de ossadas petistas na administração pública. Velhas denúncias vão ganhar roupas novas e capas novas irão envolver velhos inquéritos. E os arredores também serão objeto de devassas. Já são. Olhem o caso de Ciro Gomes. E que não venham dizer que Bolsonaro não tem nada com isso. Tem sim, nem que seja pelo exemplo que dá. No caso de Ciro, a investigação é um tiro no pé do presidente. Conseguiu aproximá-lo de Lula e ainda pode dar ao petista vitória no primeiro turno.

Aqui não é Flamengo

Na quarta-feira, 8 de dezembro, Lula se reuniu com lideranças das centrais sindicais em São Paulo para pedir empenho na campanha eleitoral que se aproxima. Usou uma linguagem coloquial para falar com os companheiros: “Eleição presidencial é longa como o campeonato brasileiro. Temos que trabalhar muito para não passar vergonha como o Flamengo, que achou que ia ganhar tudo este ano e não ganhou nada. Nós não somos Flamengo, não vamos colocar salto alto”. Os sindicalistas, todos paulistas (palmeirenses e corintianos), foram à loucura.

Acordo pré-eleitoral

Ao tomar posse na semana passada, o novo presidente do TRE, Elton Martinez Carvalho Leme, arrancou um compromisso do governador Cláudio Castro de ampliar o tribunal através de reforma e adaptação de prédios da instituição. Há dois equívocos no pedido de Leme e na aquiescência de Castro. Primeiro, esta não é hora de gastar com reforma e ampliação de prédios. Principalmente porque quase todos os membros do TRE são do Tribunal de Justiça e podem muito bem se reunir lá. Segundo, juiz que vai arbitrar uma eleição não pode pedir nada a um dos candidatos, muito menos empenho de dinheiro público para beneficiar seu grupo, mesmo que o pleito seja legítimo.

Dinheiro desnecessário

Brasileiro residente na China passou de 1º de janeiro a 30 de novembro deste ano sem usar dinheiro vivo. Todas as operações que realizou foram via WeChat, uma espécie ampliada do WhatsApp, e o Sui Kang, um QR code pessoal que cada cidadão local é obrigado a ter. Até gorjetas e esmolas ele deu por estas ferramentas. No Brasil, gorjetas já são pagas com Pix. Esmolas ainda não.

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