quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Bernardo Mello Franco - Bolsonaro e Queiroga oferecem refúgio a turistas sem vacina

O Globo

O governo decidiu não cobrar o passaporte da vacina para permitir a entrada de turistas. O anúncio recoloca o Brasil na contramão do combate ao coronavírus. Enquanto dezenas de países adotam medidas para conter a Ômicron, o bolsonarismo estende o tapete vermelho à nova variante.

A exigência da imunização era defendida pela Anvisa, ligada ao Ministério da Saúde. Em duas notas técnicas, a agência sustentou a necessidade de barrar viajantes que não comprovassem a vacinação completa. O capitão ignorou os apelos e mandou seus capachos abrirem as fronteiras.

O ministro Marcelo Queiroga foi o porta-voz do servilismo federal. Em novo espetáculo de sabujice, ele invocou as liberdades individuais para justificar a ordem do chefe. “O presidente há pouco falou: às vezes é melhor perder a vida do que perder a liberdade”, macaqueou.

O discurso omite que a vacinação é um ato coletivo. Quem rejeita o imunizante também põe em risco a vida dos outros, que deveria ser protegida pelo poder público.

Horas antes do anúncio, Jair Bolsonaro fez dois ataques ao passaporte da vacina. Em cerimônia no Planalto, comparou a exigência a uma coleira. Em encontro com empresários, mentiu ao dizer que a Anvisa planejava fechar o espaço aéreo do país.

Ao defender o indefensável, o ministro da Saúde afirmou que “não se podem discriminar as pessoas entre vacinadas e não vacinadas”. Conversa fiada. O governo sempre exigiu a carteirinha de quem precisava matricular crianças na escola, participar de concursos ou se alistar no Exército.

Para bajular o presidente, Queiroga já havia rasgado o diploma de médico. Ontem ele usou o cargo como trampolim eleitoral. Pré-candidato a deputado, o ministro descreveu o Brasil como um “país abençoado por Deus” e exaltou as belezas da “minha Paraíba”. “Queremos ser o paraíso do turismo mundial”, arengou.

Na semana passada, a Anvisa alertou que o país estava mais próximo de virar um refúgio para turistas não vacinados. O risco é a Embratur bolsonarista gostar da ideia. Fica a sugestão de slogan: “Brasil, paraíso do negacionismo”.

 

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