O Globo
O governo decidiu não cobrar o passaporte
da vacina para permitir a entrada de turistas. O anúncio recoloca o Brasil na
contramão do combate ao coronavírus. Enquanto dezenas de países adotam medidas
para conter a Ômicron, o bolsonarismo estende o tapete vermelho à nova
variante.
A exigência da imunização era defendida
pela Anvisa, ligada ao Ministério da Saúde. Em duas notas técnicas, a agência
sustentou a necessidade de barrar viajantes que não comprovassem a vacinação
completa. O capitão ignorou os apelos e mandou seus capachos abrirem as
fronteiras.
O ministro Marcelo Queiroga foi o porta-voz do servilismo federal. Em novo espetáculo de sabujice, ele invocou as liberdades individuais para justificar a ordem do chefe. “O presidente há pouco falou: às vezes é melhor perder a vida do que perder a liberdade”, macaqueou.
O discurso omite que a vacinação é um ato
coletivo. Quem rejeita o imunizante também põe em risco a vida dos outros, que
deveria ser protegida pelo poder público.
Horas antes do anúncio, Jair Bolsonaro fez
dois ataques ao passaporte da vacina. Em cerimônia no Planalto, comparou a
exigência a uma coleira. Em encontro com empresários, mentiu ao dizer que a
Anvisa planejava fechar o espaço aéreo do país.
Ao defender o indefensável, o ministro da
Saúde afirmou que “não se podem discriminar as pessoas entre vacinadas e não
vacinadas”. Conversa fiada. O governo sempre exigiu a carteirinha de quem
precisava matricular crianças na escola, participar de concursos ou se alistar
no Exército.
Para bajular o presidente, Queiroga já
havia rasgado o diploma de médico. Ontem ele usou o cargo como trampolim
eleitoral. Pré-candidato a deputado, o ministro descreveu o Brasil como um
“país abençoado por Deus” e exaltou as belezas da “minha Paraíba”. “Queremos
ser o paraíso do turismo mundial”, arengou.
Na semana passada, a Anvisa alertou que o
país estava mais próximo de virar um refúgio para turistas não vacinados. O
risco é a Embratur bolsonarista gostar da ideia. Fica a sugestão de slogan:
“Brasil, paraíso do negacionismo”.
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