sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Celso Ming: As incertezas e projeções para 2022

O Estado de S. Paulo.

De profeta e louco todo mundo tem um pouco, diz o ditado modificado para este texto. A cada fim de ano, a demanda por previsões aumenta. Mas é difícil separar o que são previsões propriamente ditas de meros votos ou de apostas.

Quem olha para a tabela ao lado verifica que até mesmo consultores tarimbados e gente graúda que põe dinheiro grosso a prazo, como a que está reunida pelo Banco Central, podem fracassar nas projeções. As que estão sendo feitas agora para o ano de 2022 parecem ainda mais sujeitas a erros.

De positivo para os próximos 12 meses, há as contas externas que deverão continuar excelentes. As reservas estão a US$ 364,2 bilhões, quase dois anos de importações. A produção do setor agropecuário será recorde e contribuirá para mais exportações. E certo grau de normalização dos fluxos globais de comércio também parece inevitável.

No entanto, o novo ano nasce carregado de três grandes incertezas e de outras, derivadas dessas. Uma delas é a evolução da pandemia. Ninguém sabe quanto o Brasil e o mundo estão sujeitos a novas evoluções do vírus. Faz um mês que as autoridades da África do Sul anunciaram o aparecimento da variante Ômicron e, no entanto, os infectologistas ainda não conhecem o suficiente da sua natureza. O que se pode dizer é que a população do Brasil e de grande número de países avançam na vacinação. A partir dessa mega incerteza, já não se sabe se voltará a ser necessário paralisar a atividade econômica e o quanto os fluxos de produção e comércio voltarão a se desorganizar.

A outra grande incerteza, desta vez específica do Brasil, é de natureza fiscal. O governo e o Congresso furaram o teto de gastos e oficializaram certo calote no resgate dos precatórios. Estão abertas as portas para toda a sorte de despesas eleitoreiras.

E aí chegamos à terceira maior incerteza. Sabe-se lá o que o presidente Bolsonaro aprontará para tentar convencer o eleitor a clicar seu voto na sua candidatura. Se confirmado o favoritismo das esquerdas, também poderá aparecer insegurança.

Derivadas dessas, vêm mais incertezas. São elas: o comportamento da economia global, a atuação dos grandes bancos centrais no enxugamento de recursos despejados na crise, a trajetória do câmbio e da inflação, o nível dos investimentos, o desempenho do PIB e o desemprego.

Apesar desses e outros pesares, feliz ano-novo. •

 

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