quarta-feira, 16 de junho de 2021

Vera Magalhães - Polícias sem comando

- O Globo

É um engano pensar que os governadores dos estados estão prestes a perder o controle sobre as polícias, sobretudo a Polícia Militar. A quebra do elo de hierarquia e, além disso, a dissociação política na tropa já são uma realidade, e esse fenômeno oferece um risco adicional a tantos que vêm sendo acrescidos ao barril de pólvora da eleição de 2022.

Episódios como o motim da PM do Ceará, a forma violenta e injustificável como a polícia de Pernambuco coibiu o protesto contra Jair Bolsonaro em 29 de maio último e relatos de policiais cada vez mais adotando discurso político em defesa do presidente em detrimento dos governadores, como verificado recentemente em Alagoas, mostram que a insubordinação e a politização correm soltas entre os policiais, assim como já vem acontecendo no Exército.

Num texto em que usei o neologismo “bolsochavismo”, no início de 2020, antes da pandemia, eu já anotava que a cooptação das Forças Armadas e das polícias, combinada com a criação de milícias paraestatais, era peça decisiva na perpetuação do chavismo, começada pelo próprio Hugo Chávez e aprofundada sob Nicolás Maduro.

Ironicamente, aqueles que votaram tendo como um dos mantras-clichês aquele segundo o qual, se o PT vencesse, o Brasil iria “virar uma Venezuela” abriram as comportas para que, veja só, começássemos a importar muitos dos métodos que fizeram o país vizinho mergulhar numa ditadura que condena os cidadãos à falta de liberdade, à miséria, à fome e a violações sistemáticas dos direitos humanos.

Bagunçar a hierarquia, as regras e a disciplina militares, seja no Exército, seja nas PMs, é investir de forma bastante deliberada nesse sentido.

No último fim de semana, um incidente nos obrigou a um contato mais próximo com a PM paulista. O discurso pró-Bolsonaro e anti-Doria, reproduzindo desinformação acerca da vacinação e da pandemia e pregando ostensivamente a reeleição do presidente, é conversa corriqueira entre os policiais.

Bernardo Mello Franco – No berço do Bolsonarismo

- O Globo

Enquanto o capitão desfilava de moto em São Paulo, Lula veio ao Rio em busca de alianças. Durante quatro dias, o ex-presidente se reuniu com políticos da esquerda à centro-direita. Nas conversas, defendeu uma frente ampla para enfrentar o bolsonarismo em seu berço eleitoral.

O Rio será decisivo para a oposição em 2022. Se dependesse só do estado, Jair Bolsonaro teria sido eleito no primeiro turno em 2018. O presidente recebeu quase 60% dos votos válidos. O petista Fernando Haddad teve 15% e ficou em terceiro lugar, atrás de Ciro Gomes.

O bolsonarismo ainda emplacou o farsante Wilson Witzel, que desmoronou em menos de dois anos. Agora o clã tentará reeleger Cláudio Castro, o ex-vice do ex-juiz. O governador é uma velha novidade: além de bajular o capitão, aninhou-se com as famílias Garotinho e Picciani.

Castro loteou o governo entre personagens do submundo fluminense. O secretário de Educação, corretor de seguros, já admitiu que não é da área. O secretário de Transportes, dito empresário, atende pela alcunha de Juninho do Pneu. Como escreveu o colunista Ancelmo Gois, seu conhecimento do setor limita-se ao apelido.

Elio Gaspari - Uma cena racista no Leblon

- O Globo / Folha de S. Paulo

Negro com bicicleta é ladrão

Andando pelo Leblon, um casal de jovens viu um negro numa bicicleta elétrica. Ele julgou-se no direito de perguntar como o cidadão conseguira a bike. Esse miliciano avulso ganha uma passagem para se vacinar em Nova York se for capaz de provar que já abordou um branco ao volante de um carrão com o mesmo tipo de pergunta.

Num momento, o instrutor de surfe Matheus Nunes Ribeiro provou que não era ladrão. Convenceu-os de que era dono da peça e filmou o final da cena. O rapaz pediu desculpas três vezes, recebeu inúmeros palavrões e foi-se embora. Era um otário, pois, se estivesse confrontando um ladrão, poderia ter entrado numa fria. Mesmo no Leblon e, com muita probabilidade, num bairro da periferia, o negro poderia ter passado por maus momentos.

A calma do miliciano avulso e a prontidão com que se desculpou indicam que é um racista com tintas de boa educação. Identificado pelo vídeo, deveria botar a cara na vitrine, pedindo desculpas públicas. Não vale dizer que toma remédios tarja preta, como tem acontecido em casos similares.

Luiz Carlos Azedo - A política de Huck

- Correio Braziliense

Existe uma política dos cidadãos, que emergiu com força nas redes sociais e, no caso brasileiro, após 2013, protagonizada por movimentos cívicos e personalidades

A Globo confirmou: contratou Luciano Huck para assumir um programa aos domingos, no lugar de Fausto Silva, que deixará a emissora no final do ano, após mais de 32 anos de contrato. Com a decisão, foi para a prateleira de possibilidades futuras, mas muito futuras mesmo, a hipótese de o apresentador do Caldeirão concorrer ao cargo de presidente da República. No programa Conversa com Bial, veio a confirmação do que já se sabia nos bastidores. Na política, somente alguns entusiastas da candidatura do apresentador ainda mantinham alguma esperança de que aceitasse o desafio político. Entretanto, todas as pesquisas e o valor milionário do contrato com a emissora desencorajaram essa opção.

No documentário 2021: O Ano Que Não Começou, que é exibido na Globoplay, Huck revela o outro lado do seu talento como homem de comunicação, ao entrevistar diversas personalidades e estudiosos acerca do que será o mundo pós-pandemia, suas mudanças e os impactos que atingirão a cada um de nós. É um desfile de gente importante para a sociedade: Rutger Bregman, historiador e autor do best-seller Utopia Para Realistas; Thomas Friedman, vencedor de três prêmios Pulitzer e colunista do jornal The New York Times; Yuval Harari, professor de história e autor do best-seller internacional Sapiens; e Preto Zezé, presidente da Central Única das Favelas (CUFA).

Nesse período em que andou costeando o alambrado da política propriamente dita, como diria o falecido governador Leonel Brizola, Huck escreveu o livro De Porta em Porta, que está saindo do prelo. “Estou há 21 anos, literalmente, rodando o país inteiro por causa do Caldeirão do Huck e isso me colocou diante de uma realidade muito forte, que é a realidade deste país. A televisão me proporcionou conhecer o país de um jeito muito profundo”, expli- cou a Bial. Com certeza, o Huck de domingo será diferente daquele que conhecemos nas tardes de sábado. Não apenas por se tratar de outro público e outro conceito, mas porque o homem também mudou: “Pode parecer, nos meus programas, que eu estava impactando a vida das pessoas, mas eu posso garantir que o rio corre na direção oposta. O impactado fui eu, eu me transformei”, garante.

Ricardo Noblat - Angélica e Bolsonaro fizeram Luciano Huck desistir de ser candidato

- Blog de Noblat / Metrópoles

O novo animador das tardes de domingo na Rede Globo dá tempo ao tempo para que a fila ande

Nem nos seus melhores momentos como aspirante a candidato a presidente da República, o apresentador de televisão Luciano Huck contou com a boa vontade da sua mulher, Angélica.

Ela sempre foi contra o que julgava ser uma aventura perigosa. Temia a exposição pública que o casal e os filhos passariam a ter, e as maldades de que se tornariam alvo.

Política, de fato, não é um território para inocentes. Sabendo disso, Huck, muitas vezes, apressou-se em apagar nas redes sociais fotos onde aparecia na companhia de nomes polêmicos.

O que pesou mais em sua decisão de sair da raia para suceder Faustão nas tarde dos domingos, porém, não foi a oposição de Angélica, mas a posição de Bolsonaro nas pesquisas de voto.

Huck contava com um enfraquecimento eleitoral maior do presidente do que o registrado até agora, e duvidava que Lula fosse capaz de atrair o apoio de partidos do centro.

Então deu meia volta. Tem idade para esperar que a fila ande.

Fernando Exman - Passou da hora de fazer o dever de casa

- Valor Econômico

É preciso acelerar a vacinação dos professores

Tema frequente na grande maioria dos lares brasileiros, o retorno das aulas presenciais tornou-se uma pauta com cada vez mais apelo entre parlamentares, governadores e prefeitos.

Ao governo federal, tem restado pedir aos gestores locais por um reengajamento mais rápido. O poder central parece ter perdido a capacidade de induzir um movimento nacional coordenado em relação também a este tema, que já chegou até mesmo ao plenário da CPI da Covid.

Seria interessante, aliás, que a comissão parlamentar de inquérito tivesse tempo para analisar, conforme sugere a senadora Kátia Abreu (PP-TO), o empobrecimento das nações, especialmente na América Latina e do Brasil, por causa da falta de aulas. Para ela, a CPI precisa investigar os prejuízos econômicos atuais e futuros que o Brasil terá devido às “inconsequências praticadas no combate à pandemia”.

Rosângela Bittar - O presidente está com medo

- O Estado de S. Paulo

O pesadelo de Bolsonaro é perder a reeleição, a imunidade e ser preso

O agravamento do desvario que Bolsonaro está exibindo em praça pública não é gratuito e tem uma razão nem tão secreta. Esconde uma palavra que seu machismo não permite pronunciar, mas seu comportamento revela. Medo. O presidente está com medo. 

A autoconfiança, expressa em sinais de que pode tudo, é falsa. Acompanhamos sua performance como se ele estivesse no picadeiro. Ora engolindo fogo e soprando-o sobre a seleção brasileira de futebol, que obrigou a jogar a Copa América, competição refugada por três países mais responsáveis que o nosso. Resultado parcial: 52 infectados em apenas duas rodadas.

Ora no tiro ao alvo dos palanques eleitorais, nos quais nem a motocada de 12 mil fanáticos, nem a genuflexão de militares da ativa, conseguem lhe dar consistência. Como no globo da morte, irrompe em avião prestes a decolar lotado, onde colhe o fundo musical de sua campanha à reeleição, que não será aproveitado nos jingles: Genocida! 

Roberto DaMatta* - O país dos mascarados

- O Estado de S. Paulo

No Brasil, relacionamos, confundimos ou mascaramos tudo, porque o velho e malandro Portugal é a Suíça dos engenhos e pontes entre culturas, etnias e regimes

Muito antes da pandemia, o sistema brasileiro usava máscara. No fundo, a recusa de usar máscara pelo nosso exemplar presidente da República (este “mito” revelador de como a “polícia”, no seu sentido mais barato e vil, legitima os piores e afasta os melhores) é uma ironia. Porque, com Bolsonaro presidente, ela expõe a irracional recusa contra a ciência (que universaliza pelos princípios da biologia), mas agressivamente revela um oculto particularismo: o fato de que quem manda faz o que quer. 

É mais do que dono do poder. É senhor do contrassenso ativado contra a moralidade e, por fim, mas jamais por último, da lei. Essa lei tão falada e louvada, mas feita para os inferiores. Os que não fazem parte dos vários sistemas de mando quase sempre incongruentes, vigentes no Brasil. Contradições desenhadas para inocentar legalmente os desonestos. Lei na qual a forma vale mais do que a substância, como prova a anulação de penalidade por meio de erro geográfico.

Bruno Boghossian – Bolsonaro contra 91%

- Folha de S. Paulo

Presidente cristaliza imagem de adversário da imunização ao questionar eficácia

Jair Bolsonaro insiste em ser um adversário da vacinação. Na semana passada, ele alegou que os imunizantes contra a Covid-19 são experimentais e questionou sua eficácia. Na terça (15), o presidente disse a apoiadores que vai vetar a criação de um certificado que regularia o acesso a espaços públicos e privados para quem já recebeu as doses.

O presidente está na contramão da população. A última pesquisa do Datafolha apontou que 91% dos brasileiros já se vacinaram ou pretendem se vacinar. Só 8% recusam a imunização –número que chegou a 23% no fim do ano passado, antes da aprovação da Coronavac e da vacina da AstraZeneca pela Anvisa.

A teimosia tem potencial para se tornar um problema político. Aliados de Bolsonaro acreditam que o peso da pandemia sobre sua popularidade deve diminuir com o avanço da imunização. O presidente, no entanto, se esforça para cultivar a imagem de inimigo da vacina. Esse comportamento pode continuar fresco na memória dos eleitores em 2022.

Mariliz Pereira Jorge - Gincana da vacina

- Folha de S. Paulo

Nessa rinha política, políticos que lutem, e que vença a #VacinaParaTodos

Não sei você, caro leitor, mas eu só vislumbrava ser vacinada lá pela metade de 2022. Se dependesse da má vontade do governo federal, nem isso. Como no Brasil a única coisa que não nos mata é o tédio, alguns governadores e prefeitos anteciparam as datas de vacinação. Só acredito vendo. Por enquanto, políticos têm disputado uma gincana saudável e divertida nas redes sociais, mas com promessas que não dependem só deles.

Tanto faz se João Doria é o “pai da vacina”, como disse o prefeito do Rio, Eduardo Paes, ao pegar carona na disputa de quem vacina primeiro. Se o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, promete “gauchada imunizada na semana Farroupilha, 20/9”. Ou se Flávio Dino, do Maranhão, oferece sorteios de até R$ 10 mil para quem tomar a segunda dose.

Hélio Schwartsman - O castigo veio a cavalo

- Folha de S. Paulo

O lado positivo é que não é preciso recorrer às armas ou a revoluções populares para derrubar populistas

Dizem que os deuses punem os mortais atendendo a seus desejos. Não muito tempo atrás, nos anos 90, cientistas políticos, jornalistas e a opinião ilustrada em geral se queixavam da pouca diferenciação ideológica entre partidos políticos no Ocidente e pediam um pouco mais de polarização.

Àquela época, dizia-se, em tom de “demi-chiste”, que tanto fazia ter um democrata ou um republicano na Casa Branca, desde que Alan Greenspan seguisse no comando do Fed, o banco central dos EUA.

O castigo veio a cavalo. A partir da segunda década do século 21, vem-se tornando cada vez mais comum o diagnóstico de que a polarização é o verdadeiro “mal-du-siècle”, sendo responsável pela radicalização política e pelo retrocesso democrático experimentado em vários países. Não são poucos os que ligam o aumento da polarização ao advento das redes sociais e às bolhas de informação que elas criam.

Antônio Rangel Bandeira* - Armas para quem?

- Folha de S. Paulo

Decretos canalizam arsenal para milicianos, baderneiros e traficantes

 “Cloroquina contra a Covid, armas contra o crime”. Esta é a receita do presidente da República. Despreza a ciência e revela a falta de políticas públicas de saúde e segurança. O pior é que oculta objetivo inconfessável.

Jair Bolsonaro editou 32 decretos e atos contra o Estatuto do Desarmamento. E brada: “Vou armar o povo!”. Como vai ser isso se um revólver 38 e uma pistola não custam menos que R$ 3.500, e um fuzil T4 básico, R$ 16 mil? Mas narcomilicianos podem comprar.

Ao elevar o número de armas que os atiradores esportivos podem adquirir por ano de 16 para 60, sendo que metade de grosso calibre, o decreto ignora que as competições olímpicas são realizadas com armas de chumbinho ou baixo calibre, pois se trata de avaliar a precisão do tiro e não sua potência. Armas de grosso calibre são malvistas entre os verdadeiros esportistas, mas são empunhadas pelo número crescente de milicianos que praticam nos clubes de tiro. Se dez desses milicianos se unirem, terão 600 armas. Poderão adquirir até munição ponto 50, capaz de derrubar helicóptero e perfurar blindado.

O Exército é afastado da fiscalização desses clubes, que em dois anos passaram de 151 para 1.345. Um bom negócio, aberto só a quem pode pagar. Os militares não mais poderão controlar a venda de miras telescópicas e quebra-chamas das armas, o que só beneficia criminosos e terroristas. Tira-se também o Exército da fiscalização dos carregadores de munição, cujos aceleradores transformam simples pistolas em metralhadoras, como um aposentado demonstrou em Las Vegas em 2017. Em dez minutos, do alto de um hotel, matou 59 pessoas e feriu mais de 500 que assistiam a um show.

Armando Castelar Pinheiro* - Normalização parcial

- Valor Econômico

Em 2022 os serviços vão exercer muito mais pressão sobre a inflação ao consumidor do que no último ano e meio

Hoje à tarde o Comitê de Política Monetária (Copom) conclui sua 239ª reunião, quando deve anunciar nova alta da Selic e soltar um comunicado mais duro com relação às perspectivas da política monetária. Qual o tamanho da alta, 0,75 ou 1 ponto percentual? Acredito em 0,75, pois penso que o Banco Central (BC) não ganha nada em sinalizar mais pressa neste momento.

A hora é, me parece, de mostrar controle e compromisso em trazer a inflação para a meta, leve o tempo e o tamanho do aperto monetário que for necessário. Por isso mesmo, me alinho com a maioria, que vê o termo “normalização parcial” saindo da comunicação do BC. Não faltarão argumentos para justificar isso, das boas surpresas com o ritmo de recuperação da economia às más novidades sobre a escalada da inflação.

Assim, o BC deve abandonar a ideia de normalização parcial, em favor da normalização completa da política monetária, pois a economia como um todo já está parcialmente normalizada e deve (quase) completar esse processo em 2022, ano cuja inflação é o atual foco do BC.

Vinicius Torres Freire – A política do Risco

- Folha de S. Paulo

Medidas para evitar racionamento podem tropeçar em conflito político

O governo e os administradores do setor elétrico têm adotado medidas que devem evitar um racionamento de eletricidade neste ano, embora exista menos segurança sobre o risco de apagões pontuais. É o que dizem entendidos do setor privado, muitos com experiência de governo. Um problema maior é saber se as medidas serão implementadas.

Riscos: 1) oposição política no Congresso ou de governos locais; 2) risco de decisões acabarem na Justiça; 3) de que a oferta emergencial de energia não chegue (importação insuficiente, falta de gás para usinas termelétricas, falhas dessas usinas etc.); 4) conflito entre e instituições envolvidas na regulação da energia e do uso da água.

No final de maio, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) publicou um estudo sobre o risco de faltar energia, risco derivado em grande parte do esvaziamento dos reservatórios das hidrelétricas da bacia do rio Paraná. As premissas dessas previsões são muito “conservadoras” (supõe-se que quase tudo dá muito errado, em termos crus). Em novembro, os reservatórios chegariam a nível recorde de baixa; certas providências podem evitar o esvaziamento crítico. Com as represas abaixo de certo nível, as usinas geram pouca ou nenhuma energia. Se puderem gastar menos água, substitui-se a energia que não será gerada por aquela que viria de termelétricas, muito mais cara, ou de outras regiões do país.

Fábio Alves - Vida curta da inflação?

- O Estado de S. Paulo

É cada vez maior o nervosismo do mercado sobre quão temporária é a alta da inflação

A palavra mais repetida pelos principais banqueiros centrais do mundo nas últimas semanas é “transitório” – ou o seu sinônimo “temporário” – para descrever o forte repique da inflação em vários países, numa tentativa de tranquilizar os investidores de que a retirada dos estímulos monetários adotados durante a pandemia de covid não será feita de forma açodada.

Mas com os índices de preços ao consumidor e no atacado surpreendendo para cima há alguns meses, é cada vez maior o nervosismo do mercado sobre o quão temporário é esse processo de alta mais forte da inflação e se os dirigentes dos maiores bancos centrais não estariam atrasados em combater a aceleração de preços na economia.

Nos Estados Unidos, o índice de preços ao consumidor subiu 0,6% em maio ante abril, enquanto as previsões de analistas apontavam para alta de 0,4%. Com isso, a taxa anual da inflação americana ao consumidor saltou para 5,0% em maio, maior avanço desde agosto de 2008.

Já na zona do euro, a inflação subiu 2,0% em maio ante igual mês do ano passado, em comparação com o avanço anual de 1,6% em abril. E, na China, o índice de preços ao produtor registrou salto anual de 9,0% em maio, ante a previsão de analistas de alta de 8,6%.

Zeina Latif – Selo de qualidade

- O Globo

Está cedo para acenderem as luzes vermelhas do painel de controle, mas o cenário de retrocesso no front inflacionário está presente

A avaliação do legado de um governo precisa considerar pelo menos duas perspectivas: o quanto se avançou em relação à herança recebida e o contexto internacional, que pode produzir tanto vento de popa como de proa na economia. A mera comparação de indicadores econômicos leva a conclusões equivocadas. Um exemplo: não se pode atribuir apenas ao atual governo a taxa de juros baixa, pois houve importante trabalho de governantes anteriores para isso.

No governo Temer, a taxa Selic caiu de 14,25% ao ano para 6,5%, de forma responsável, sem esticar a corda.

O comportamento da inflação é um ponto muito importante a ser avaliado. Não apenas por suas consequências econômicas e sociais, mas por ser um indicador da qualidade da política econômica. É a temperatura do paciente indicando o grau de acerto do médico no tratamento.

Luciano Huck descarta concorrer à Presidência da República

Em entrevista ao jornalista Pedro Bial, apresentador fala da renovação de seu contrato com a Globo para substituir Fausto Silva em um programa aos domingos, revela que votou em branco em 2018 e diz que sempre terá atuação política

- O Globo

RIO — O apresentador de TV Luciano Huck afirmou ontem que não pretende concorrer à Presidência da República nas eleições do ano que vem. Em entrevista ao programa “Conversa com Bial”, da Globo, Huck contou que decidiu renovar o seu contrato com a emissora e não ingressar na política. No entanto, ele se definiu como um ator político, interessado em dar contribuições para o debate público como “cidadão ativo” e disse que pretende continuar contribuindo “com ideias”.

— Eu nunca me lancei candidato a nada, vamos deixar claro. Não estaria retirando nada porque nunca lancei candidatura — afirmou Luciano Huck ao jornalista e apresentador Pedro Bial, lembrando que sua trajetória como comunicador o levou a viajar o país e conhecer de perto a realidade brasileira. — A fumaça não volta para dentro da garrafa. Eu adoro reunir ideias, pessoas e soluções. Eu continuo na trajetória que sempre tive. Minha trajetória até hoje não foi partidária e nem eleitoral. Ela foi política, porque a política é o que transforma. É nessa política em que acredito e é essa política que a gente tem que ocupar.

Huck revelou que votou em branco nas eleições de 2018 e disse não se arrepender disso. Mas ressaltou que, em 2022, pretende estar ao lado de quem defende a democracia.

Partidos retomam diálogo por alternativa de centro

Após polarização ganhar as ruas, dirigentes aceitam discutir eventual aliança; conversas já não consideram ‘outsiders’; apresentador Luciano Huck anunciou que renovou com a TV Globo e não vai entrar na corrida eleitoral do ano que vem

Pedro Venceslau / O Estado de S. Paulo

Dirigentes de partidos do centro decidiram retomar as conversas sobre uma eventual aliança na disputa presidencial do ano que vem após a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhar as ruas em recentes manifestações pelo País. Pela primeira vez desde o início da pandemia, dirigentes partidários vão se reunir nesta quarta-feira, 16, presencialmente em um almoço em Brasília. Sem um nome natural, as legendas já não consideram nas discussões alternativas como o empresário e apresentador Luciano Huck ou o ex-juiz federal Sérgio Moro. Em entrevista ao  programa Conversa com Bial, exibido pela TV Globo nesta madrugada, Huck  afirmou que não vai se lançar como candidato à Presidência em 2022.

O almoço entre os líderes partidários foi uma ideia do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que é apresentado como pré-candidato do DEM. Foram convidados os presidentes do MDB, PSDB, PDT, Novo, Podemos, PV, Cidadania, Solidariedade e PSL. Nem todos estarão presentes porque já tinham agendas marcadas, mas a iniciativa foi bem recebida pelo grupo, que busca visibilidade na opinião pública.

A avaliação da maioria dos dirigentes é a de que os “outsiders” não estão dispostos a enfrentar as urnas no ano que vem e que é preciso ocupar esse espaço com um nome competitivo da própria política. Após um período recluso, Huck já havia perdido espaço como opção eleitoral. 

Na entrevista ao jornalista Pedro Bial, ele confirmou que renovou seu contrato com a Globo e que vai substituir Fausto Silva, o Faustão, nos domingos da emissora. A informação foi antecipada nesta terça-feira, 15, pelo jornalista Daniel Castro, do portal UOL.

“Agora não temos um candidato nosso”, admitiu o presidente do Cidadania, Roberto Freire. A legenda abrigou os grupos de renovação ligados a Huck e durante um longo período manteve proximidade com o apresentador.

Eliane Cantanhêde - Com opções de centro secando, crescem a polarização Lula-Bolsonaro e o medo de uma eleição sangrenta

-  O Estado de S. Paulo

A desistência de Luciano Huck de concorrer à Presidência da República, já esperada há pelo menos dois meses, reforça que a política não é para amadores

A desistência de Luciano Huck de concorrer à Presidência da República, já esperada há pelo menos dois meses, reforça que a política não é para amadores, a construção de uma forte opção de centro vai ficando cada vez mais difícil e a eleição de 2022 embica para uma polarização – certamente sangrenta – entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar disso, ainda é cedo para certezas.

Ao jogar a toalha, Huck seguiu os passos do ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro, que quer distância da política e do Brasil, e do meteórico João Amoêdo, que não deu para o gasto em 2018 e não consegue nem unir o próprio partido, o Novo, para uma nova empreitada tão ambiciosa.

A fila de presidenciáveis do centro vai, assim, enxugando. Ex-candidato à Presidência por duas vezes e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes segue firme em campanha, sem deslanchar e sem atrair nem centro, nem esquerda e nem direita. Apesar do recall de 2018, ainda não atingiu dois dígitos nas pesquisas.

O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais

EDITORIAIS

Bolsonaro, aprendiz de Lula

O Estado de S. Paulo

O presidente Jair Bolsonaro ainda não tem partido político. Nem precisa: usa o Estado como sua máquina partidária e os recursos públicos como verba de campanha.

Sempre que resolve passear e fazer comício, o que tem acontecido com muita frequência, o presidente obriga o Estado a se desdobrar, a um custo em geral milionário, para lhe garantir segurança e bem-estar.

Todo chefe de governo, quando se desloca, requer esse tratamento, e é justo que seja assim: afinal, o presidente é o principal líder político e administrativo do País. Mas supõe-se que essa estrutura exista basicamente para dar conforto e proteção ao presidente sobretudo quando está a trabalho, como esperam os contribuintes de cujos impostos sai o dinheiro para bancá-la.

Vá lá que o chefe de governo também tenha direito a algum descanso, razão pela qual o Estado também deve lhe providenciar escolta e tranquilidade em seus momentos de relaxamento, pois o presidente não deixa de sê-lo só porque eventualmente está de folga.

O problema é que os momentos de refrigério do presidente se multiplicaram a tal ponto que hoje se tornou difícil dizer quando Bolsonaro está de férias e quando está trabalhando. Em meio à pandemia de covid-19, que tem obrigado os brasileiros em geral aos mais duros sacrifícios, o presidente, entusiasta do dolce far niente, achou que era o caso de mobilizar o aparato oficial, a um custo estimado em R$ 2,4 milhões, para se divertir em praias de São Paulo e em Santa Catarina entre os dias 19 de dezembro e 4 de janeiro.