sábado, 24 de julho de 2021

Marco Aurélio Nogueira* - O poder, os tiranos e os piores

O Estado de S. Paulo

O poderoso tirânico cerca-se de cópias de si mesmo, incompetentes, ignorantes, vulgares

Seja no Estado, no mercado ou na sociedade civil, o poder arrebata. Não há quem escape de seu fascínio. Ele oferece vantagens e recompensas, mesmo que também traga sacrifício e sobrecarga.

São as recompensas que seduzem. Ver-se obedecido, admirado e elogiado faz brilhar os olhos de muita gente. É o que leva a que se cometam excessos e estripulias, cresçam as ilusões e os autoenganos. O poderoso nunca está sozinho. Seu círculo mais próximo é fonte permanente de intrigas, inveja e cobiça, o que provoca atritos e colisões. O poder não pode tudo. Numa democracia, tem de se haver com o povo livre, a sociedade civil, o sistema de controles, os demais poderes.

O poder fascina anjos e demônios, pessoas com vocação para o bem público e pessoas mesquinhas, agarradas aos próprios interesses. Quando um anjo se deixa seduzir pelo poder, ele perde integridade e pujança reformadora. Seus planos e projetos deixam de ser factíveis e se tornam dependentes de acordos espúrios, batendo às portas da corrupção. Quando um demônio chega ao poder, ele se realiza como excrescência perversa. Exala maldade por todos os poros e trafega pelos becos escuros da sociedade, onde vicejam a boçalidade, a ignorância, a violência, o desregramento. Alia-se a quadrilhas e redes corruptas, na ilusão de conseguir com elas uma base sólida de apoio e financiamento. Apela para manobras populistas para chegar ao povo, mas o seu é um populismo regressista, malévolo, mais nefasto que qualquer outro.

Cristovam Buarque* - As armas dos desarmados

Blog do Noblat / Metrópoles

Nossas Forças Armadas parecem estar sempre do lado das forças civis conservadoras que defendem o status quo

O Brasil tem o privilégio de não ter conflito com vizinhos, ou mesmo com países distantes, nem motivações imperialistas. Nosso Exército surgiu para consolidar o território nacional, Com exceção da guerra contra a invasão paraguaia e da heróica participação na defesa da democracia nos campos de batalha da Itália, nossos tanques de guerra, mesmo quando silenciosos, parecem apontar para os centros do poder civil, o Planalto, o Congresso, o Supremo Tribunal Federal. A história mostra que nossas Forças Armadas se sentem um poder moderador, pronto para intervir diante da corrupção, de desmandos ou do que eles considerem desvios ideológicos dos políticos civis.

Com exceção da Abolição e da República, e da luta contra o fascismo na Europa, nossas Forças Armadas parecem estar sempre do lado das forças civis conservadoras que defendem o status quo contra a distribuição de riquezas e aumento nos direitos dos trabalhadores. Mas saíram delas líderes comunistas como Prestes e Lamarca, além de muitos oficiais, generais, almirantes e brigadeiros, presos, cassados e expulsos em 1964.

Ascânio Seleme - O cheiro do golpista

O Globo

Braga Netto tem sotaque de golpista, cacoete de golpista e é amigo e subordinado do golpista-mor da República. Só por um milagre ele próprio não seria um golpista potencial

Pode não ser verdade, mas é bem provável que seja. O episódio golpista que envolveu o general Braga Netto, ministro da Defesa, tem traços genuínos e cheiro de verdade. Só o “Estadão”, que publicou a matéria em que conta a ameaça às eleições feita pelo general, pode garantir a veracidade da informação. E o jornal não só garantiu como reafirmou sua convicção na correção da matéria. Todos os demais podem afirmar que ela é bem provável, ou muito provável, ou mais do que provável. O general tem sotaque de golpista, cacoete de golpista e é amigo e subordinado do golpista-mor da República. Só por um milagre ele próprio não seria um golpista potencial.

Braga Netto é também subserviente ao presidente de maneira absoluta. Parece um cão de guarda, com a diferença que o militar age por vezes por imitação. O cachorro só se manifesta se ordenado pelo dono. A ameaça do general teria ocorrido depois de inúmeras declarações de Bolsonaro no mesmo sentido. No dia 8 deste mês, o presidente reafirmou que poderia não haver eleição se ela não fosse auditável (que na linguagem golpista significa voto impresso). Bolsonaro falou no cercadinho do Alvorada ao grupo de cegos apoiadores que aplaudem e riem de todas as suas tolices. No mesmo dia, Braga teria mandado alguém avisar o presidente da Câmara que se a eleição não for com voto impresso e auditável não haverá eleição em 2022. Alguma dúvida?

Um acinte. Um abuso. Uma violência típica de generaleco de republiqueta. Pode não ter ocorrido, mas Braga já deu outras demonstrações de seu afeto ao golpismo. Na posse do comandante do Exército, no dia seguinte à sua própria posse na Defesa, o general disse que as Forças Armadas estariam prontas para garantir a manutenção do projeto escolhido nas urnas pelos brasileiros. Seria o mesmo se dissesse que os militares não aceitariam um revés que ameaçasse o mandato de Bolsonaro, o presidente que cometeu mais de 30 crimes de responsabilidade pelos quais poderia ser legalmente afastado. Sob qualquer ângulo que se veja, aquela declaração só poderia ser feita por um general golpista, querendo entrar com o seu coturno pesado num jogo para o qual não foi convidado.

Pablo Ortellado – E a Venezuela?

O Globo

Militantes de esquerda ficam muito irritados quando seus políticos são questionados por jornalistas sobre Cuba ou Venezuela. Acreditam que esse tipo de pergunta é capciosa, uma espécie de espantalho que busca amedrontar o eleitorado e desviar a atenção dos temas substantivos de políticas públicas.

O antigo mal-estar foi reavivado agora quando diversos políticos de esquerda, entre eles o ex-presidente Lula, deram declarações apoiando a ditadura cubana, que enfrenta uma onda de protestos.

A esquerda não gosta de ser comparada a Bolsonaro em sua falta de compromisso com a democracia. Em parte tem razão: nos 13 anos de governos petistas não houve nenhum movimento relevante de esmorecimento da ordem democrática. Apesar de declarações criticando a imprensa ou ataques a movimentos de protesto, não houve nenhuma ação dos governos de esquerda que minimamente se aproximasse das rotineiras ameaças de Bolsonaro à integridade das eleições, à independência dos Poderes ou à liberdade de imprensa.

Carlos Alberto Sardenberg - Os bilhões da velha política

- O Globo

Mantidas as atuais regras, os partidos políticos brasileiros receberão em 2022, ano eleitoral, algo perto de R$ 9 bilhões. Dinheiro do contribuinte para financiar o dia a dia dos partidos e suas campanhas eleitorais para presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais.

É muito mais do que jamais receberam. É muito mais do que o país que mais gasta com financiamento público da política, a França (menos de R$ 300 milhões, feitas as devidas conversões de moeda — e conforme dados e observações obtidos por José Paulo Cavalcanti Filho, escritor e advogado).

Por aqui, será assim: o fundo partidário distribuirá R$ 1 bilhão. O fundo eleitoral, tal como aprovado na Lei de Diretrizes Orçamentárias, prevê R$ 5,7 bilhões para as campanhas. Os partidos terão ainda direito ao horário “gratuito” no rádio e na TV. É gratuito para eles, mas custa para o contribuinte, já que as empresas podem deduzir o custo do tempo cedido dos impostos que pagam. Não se sabe exatamente o valor dessa renúncia fiscal, mas não estará longe quem estimar algo entre R$ 1,5 e R$ 2 bilhões.

Ricardo Noblat - Está só começando o assalto do Centrão ao governo Bolsonaro

Blog do Noblat / Metrópoles

Para pelo menos completar o mandato, o presidente entrega os anéis, os dedos e o que mais for necessário

Fosse bem o governo, o presidente Jair Bolsonaro não precisaria abrir a porta para a entrada do Centrão, o que ele sempre negou que faria. Como o governo vai mal e o sonho da reeleição cada vez mais distante, restou-lhe dar o dito pelo não dito.

Não foi o Centrão que meteu o pé na porta, foi o presidente que lhe estendeu o tapete vermelho e pediu que entrasse. Nada tem a ver com um lance de ocasião do tipo ceder os anéis e preservar os dedos. Haverá de ceder os dedos e muito mais.

Consentido por Bolsonaro, o assalto do Centrão ao governo está só começando. Uns tantos quintos colunas ali já estavam instalados, mas perdiam de longe para os militares em matéria de influência. Em breve, o placar deste jogo será invertido.

Hélio Schwartsman - Está faltando coragem

Folha de S. Paulo

No Brasil de hoje o que mais vemos são militares fugindo da raia

Se você perguntar a uma criança de sete anos qual é a principal virtude de um militar, são grandes as chances de que ela responda "coragem". Nas historinhas infantis, que exercem forte doutrinação sobre a molecada, é onipresente a figura do bravo soldado que, ignorando riscos à própria segurança, enfrenta e subjuga o inimigo.

No Brasil de hoje, porém, o que mais vemos são militares fugindo da raia. Ao ministro da Defesa, general Braga Netto, parece faltar bravura para assumir a responsabilidade por suas próprias ações. De acordo com apuração do jornal O Estado de S. Paulo, o ministro mandou ao Legislativo um recado sugerindo que, sem voto impresso, não haveria eleição. Confrontado com o golpismo, se esconde atrás de negativas pouco convincentes.

Cristina Serra - Golpe? Que golpe?

Folha de S. Paulo

Demorou, mas finalmente as instituições se mexeram e foi criada a CPI da Covid

Vai ter golpe? Não. Já teve. Não sei se você lembra, mas foi em 2016, contra Dilma Rousseff. Como o espaço é curto, eu vou resumir. Teve o tuíte golpista do general Villas Bôas ao Supremo, Lula foi preso, não pôde participar da eleição e Bolsonaro foi eleito, enquanto as instituições, claro, funcionavam normalmente. Sim, teve o Moro, hoje, sabe-se, um juiz suspeito.

Tudo ia muito bem para essa gente. Mas, no meio do caminho tinha uma pandemia. Demorou, demorou, mas, ufa, finalmente, as instituições se mexeram e foi criada a CPI da Covid. Eis que os senadores descobrem fortes indícios de corrupção na negociação para comprar vacinas! As suspeitas envolvem coronéis e o general da ativa que foi ministro --e também encostam em Bolsonaro.

Alvaro Costa e Silva - Com centrão, com golpe, com tudo

Folha de S. Paulo

A máscara de Bolsonaro caiu, e ele está como pinto no lixo

Para aprender a sobreviver e evitar surpresas desagradáveis, o urubu de baixo observa o de cima. Dos 35 aos 63 anos, tempo em que exerceu o mandato de deputado federal, Bolsonaro catou as migalhas do bolo —um desvio de dinheiro público por funcionários fantasmas ali, um superfaturamento nos gastos com gasolina acolá— e caprichou na postura histriônica. Entre outros absurdos, propôs a obrigatoriedade de cantar o Hino Nacional com a mão no peito. Ninguém lhe dava bola, e ele foi remoendo o ressentimento e aprendendo como a grande máquina funciona.

Demétrio Magnoli - Três traduções do interesse coletivo

Folha de S. Paulo

França e Austrália combatem coronavírus com leis; no Brasil, é puro arbítrio

Na França, só se entra em cinemas e museus com prova de vacinação ou teste negativo —e logo a regra valerá para shoppings, cafés e restaurantes. Na Austrália, nova rodada de lockdowns atinge a maioria da população, enquanto a Europa volta à quase normalidade.

No Brasil, prefeitos cassam o direito à imunização dos chamados “sommeliers da vacina” —e recebem aplausos de ilustres comentaristas. Interesse coletivo versus direitos individuais, em três versões.

Vacinar é direito individual ou dever cívico? O governo francês decidiu-se pela segunda alternativa.

Manifestações populares conduzidas pela extrema direita ou pela extrema esquerda contestam o “arbítrio estatal”.

Há uma certa graça nas cenas de líderes extremistas, admiradores de Putin ou do castrismo, engajando-se na apologia dos direitos civis.

João Gabriel de Lima - As renas voadoras e o delírio do voto impresso

O Estado de S. Paulo

Temos demandas urgentes, e a urna eletrônica, que nunca deu problema, não está entre elas

Papai Noel existe e singra os céus em seu trenó de renas voadoras. Houve fraude nas eleições americanas de 2020. Só o voto impresso pode evitar que aconteça o mesmo no Brasil em 2022.

Em 2020, alguns americanos acreditaram em renas voadoras – ou melhor, no delírio de Donald Trump sobre fraude nas urnas. Trump passou. A democracia americana continua. Nem Trump impediu que o debate eleitoral de 2020 fosse um dos mais interessantes dos últimos tempos.

Uma das melhores coisas das eleições nos Estados Unidos são as primárias. Elas existem desde o início do século 20 – mas, como lembra o jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, professor do Insper, só em 1972 adquiriram o formato atual. Carlos Eduardo, que cobriu várias campanhas americanas como correspondente internacional, é o entrevistado do minipodcast da semana.

As primárias americanas possibilitam que os pré-candidatos apresentem projetos para o país. Paralelo à polarização, o debate de 2020 foi especialmente rico. Joe Biden venceu com seu progressismo moderado, herdeiro de Barack Obama. Ficou no meio do caminho entre Bernie Sanders, que empolgou o eleitorado esquerdista, e a ala moderada do Partido Republicano, que entrou na conversa para dizer que nada tinha a ver com Trump. O eleitor americano acompanhou o debate em artigos de opinião publicados nos principais jornais e fez sua escolha.

Aloísio de Toledo César* - A defesa militar do voto impresso

O Estado de S. Paulo

Os assuntos políticos são da competência exclusiva daqueles que foram eleitos pelo voto

Aquele que tem a espada nas mãos pode sentir a compulsão de atirá-la sobre a mesa na hora da negociação. Essa é a conclusão que se extrai da ameaça que o general Walter Braga Netto, ministro da Defesa, fez ao País quando avisou ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, que se não houver voto impresso não haverá eleição no ano que vem.

O general em questão está ocupando o cargo de ministro da Defesa para a defesa do Brasil, e não de uma posição política absolutamente torpe, que seria a continuidade do mandato do presidente Jair Bolsonaro. Ele não tem que se meter nesse assunto político, que é da competência exclusiva daqueles que foram eleitos pelo voto.

Para agradar ao presidente da República, assim como se estivesse gostando muito de permanecer no cargo de ministro, o general não precisaria curvar-se tanto. A sua obrigação, assim como de qualquer outro brasileiro, é esperar que Jair Bolsonaro cumpra o seu mandato até o último dia, mas sem jamais encompridá-lo por mais tempo ao pretexto de não termos voto impresso.

Marcus Pestana* - Seria o semipresidencialismo uma boa alternativa?

O Brasil é um país jovem. Em 2022, comemoraremos 200 anos da nossa Independência, após três séculos marcados pelo escravismo colonial. A República fará 133 anos de existência. Até 1930, tivemos um período dominado pelas oligarquias regionais, onde analfabetos e mulheres não tinham direito a voto e as eleições eram visivelmente manipuladas. Mesmo a Revolução de 30 foi liderada por elites excluídas do pacto do poder. Logo à frente, Vargas decretaria o Estado Novo, iniciando seu período ditatorial.

Períodos democráticos foram poucos. De 1945 a 1964, tivemos a primeira experiência democrática. Ainda assim, os analfabetos não votavam, o Partido Comunista foi colocado na ilegalidade, tivemos o traumático suicídio de Getúlio Vargas, sucessivas tentativas de derrubar JK, a renúncia de Jânio Quadros, o arranjo parlamentarista de 1962 e a queda de João Goulart. Experimentamos 21 anos de governos autoritários.

Derivado da histórica campanha das Diretas-Já, assistimos o reestabelecimento da democracia com a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, em 1985, e a nova Constituição democrática de 1988. Esse ciclo sobrevive até hoje, representando os 36 anos mais livres e democráticos de nossa história. Ainda assim, tivemos diversas crises econômicas desestabilizadoras e dois impeachments, com o afastamento de Collor e Dilma. Agora, novamente o Congresso analisa a possibilidade de um processo de impeachment.

Claudio Ferraz - Um golpe sem tanques?

O Globo

Uma quebra institucional terá consequências econômicas nefastas para o país, algo subestimado por boa parte da elite

A democracia brasileira viverá nos próximos meses sua maior prova de fogo desde a redemocratização, em 1985. Temos um presidente da República que desrespeita diariamente as instituições e ameaça as próximas eleições caso não seja aprovada uma reforma que introduza o voto impresso e auditável.

Para piorar a situação, ele conta com o respaldo das Forças Armadas, que ocupam um papel central em seu governo e ecoam suas ameaças.

A resposta institucional dos outros poderes é tímida e insuficiente. Alguns membros do Congresso, capturados por rios de dinheiro provenientes de emendas obscuras, já embarcaram na coalizão BolsoCentrão faz tempo. Outros buscam reformas políticas bizarras e casuísticas que visam equacionar a preservação do poder político com a continuidade democrática.

Adriana Fernandes - Põe na conta

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro quer recuperar popularidade com pacotão de emprego e passar fatura ao Sistema S

Sistema S é peça-chave nos planos do governo Bolsonaro de lançar um programa de estímulo à qualificação profissional e contratação de jovens e trabalhadores informais de baixa renda.

É um “pacotão” de emprego com dois programas dentro dele e dois tipos de benefícios (BIP e BIQ), que podem garantir pagamento direto de uma bolsa de R$ 550 para incentivar a contratação de jovens que não conseguem emprego e pessoas que estavam no Bolsa Família.

O BIP (Bônus de Inclusão Produtiva), de R$ 275, financiado com recursos do Sistema S, e o BIQ (Bônus de Incentivo à Qualificação), também de R$ 275, pela empresa.

Num segundo programa, o BIP de R$ 275 seria concedido para jovens com dificuldade de conseguir emprego e trabalhadores com mais de 55 anos sem vínculo formal há mais de dois anos.

Duas poderosas armas políticas para 2022, quando Bolsonaro espera conseguir recuperar a sua popularidade na esteira da retomada econômica e de outras medidas que estão no forno, como o reforço do novo Bolsa Família.

O que a mídia pensa: Editoriais /Opiniões

EDITORIAIS

O medo de Lula e Bolsonaro

O Estado de S. Paulo

Eles temem que haja um terceiro candidato competitivo e não perdem oportunidade de desautorizar uma candidatura de centro

No mesmo dia, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro manifestaram por meios diferentes – um no Twitter, o outro numa entrevista à rádio – o mesmo medo. Os dois temem que haja um terceiro candidato competitivo nas eleições de 2022 e não perdem oportunidade de desautorizar uma candidatura viável de centro.

Além de mostrar a estreiteza de horizontes políticos que Lula e Bolsonaro querem impor à população, a tática revela a plena viabilidade de um candidato honesto, competente e equilibrado. De outra forma, Lula e Bolsonaro não estariam tão empenhados – quase que de mãos dadas, pode-se dizer – ridicularizando uma candidatura de centro.

“A terceira via – escreveu Lula em sua conta no Twitter – é uma invenção dos partidos que não tem candidato. Falam em polarização... O que tem de um lado é democracia e do outro é fascismo. Quem está sem chance usa de desculpa a tal da terceira via.” E explicitando o seu receio de que haja uma reunião das forças democráticas em torno de um candidato de centro viável, o ex-presidente petista concluiu: “Seria importante que todos os partidos lançassem candidato e testassem sua força”.

Poesia | Ferreira Gullar -Aprendizado

Do mesmo modo que te abriste à alegria 
abre-te agora ao sofrimento 
que é fruto dela 
e seu avesso ardente

Do mesmo modo 
que da alegria foste 
ao fundo 
e te perdeste nela 
e te achaste 
nessa perda 
deixa que a dor se exerça agora 
sem mentiras 
nem desculpas 
e em tua carne vaporize 
toda ilusão 

que a vida só consome 
o que a alimenta. 
- Ferreira Gullar, em "Barulhos", 1987.