sábado, 31 de julho de 2021

Hélio Schwartsman - Só provou que não tem palavra

Folha de S. Paulo

E ainda cometeu um crime contra a epistemologia

Não foram só mentiras, ataques gratuitos e crimes de responsabilidade que o presidente Jair Bolsonaro perpetrou no aguardado pronunciamento em que provaria a ocorrência de fraudes eleitorais. Ele também cometeu um crime contra a epistemologia, quando afirmou que é impossível "comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas". Como agravante, ele, numa inversão do ônus da prova, ainda exigiu dos que dizem que o sistema eleitoral é hígido que demonstrem sua infraudabilidade.

Se fosse isso mesmo, estaríamos condenados a viver num mundo ainda mais incerto do que o atual. Em termos puramente lógicos, é, sim, possível confirmar tanto a existência como a inexistência fraudes eleitorais, embora as duas tarefas sejam muito desiguais.

A missão mais fácil é a da parte que precisa demonstrar a existência de burla. Afinal, bastaria apresentar evidência de uma única instância de manipulação para encerrar o caso. Mas, como a ausência de evidência não é evidência de ausência, provar que algo não existe ou não ocorreu, mesmo quando é possível, costuma ser bem mais trabalhoso.

Demétrio Magnoli - A senha dos golpistas

Folha de S. Paulo

Citada por bolsonaristas, liberdade é termo cujo significado depende do contexto

No Império Romano, os primeiros cristãos usavam a marca do peixe como senha para reconhecerem uns aos outros. Os golpistas brasileiros que circulam em torno de Bolsonaro utilizam a sua própria senha: a palavra liberdade.

Registro 1. A nota do ministro da Defesa, general Braga Netto, de falso desmentido de sua ameaça de golpe, “reitera que as Forças Armadas atuam e sempre atuarão dentro dos limites previstos na Constituição”. Na sequência, oferece uma curiosa interpretação de tais “limites”, garantindo o compromisso das três forças com “a manutenção da democracia e da liberdade do povo brasileiro”.

Registro 2. Antes, na nota de repúdio às declarações do senador Omar Aziz, assinada pelo mesmo Braga Netto e pelos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, os chefes militares proclamam que “as Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”.

A Constituição atribui às Forças Armadas a “defesa da Pátria”, a “garantia dos poderes constitucionais” e, por iniciativa de um dos poderes, a garantia “da lei e da ordem”. Da segunda missão, pode-se extrair a conclusão legítima de que cabe aos homens em armas a defesa da democracia —mas não a da “liberdade do povo brasileiro”. As notas de Braga Netto devem ser classificadas como revisões constitucionais ou, mais claramente, senhas golpistas.

Cristina Serra - Bolsonaro e as cinzas do Brasil

Folha de S. Paulo

Incêndio na Cinemateca é uma metáfora dramática do Brasil sob Bolsonaro

O incêndio no depósito da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, é uma metáfora dramática do Brasil sob Bolsonaro, sufocado por uma nuvem tóxica de cinzas e escuridão. Cultura, arte, passado, presente e futuro devorados na fogueira da ignorância e da vulgaridade que tomou o país de assalto.

O bolsonarismo é mais destruidor que os cupins. Mas a comparação é até injusta com os insetos. Cupins têm papel fundamental nos ciclos ecológicos. Bolsonaro é praga de elevado potencial devastador, com seu cortejo tenebroso de generais, milicianos, pastores de araque, trambiqueiros de vacina, adoradores do nazifascismo, capitães do mato, jagunços no parlamento, capangas infiltrados nas instituições e aduladores do deus "mercado".

Cristovam Buarque* - O golpe da fraude

Blog do Noblat / Metrópoles

Bolsonaro está agindo em todas direções, enquanto os democratas ficam indignados, reclamam e se dividem

O presidente Bolsonaro está alertando o Brasil para a fraude que ele provocará nas eleições de 2022. Ao dizer que o sistema eletrônico sob a direção do TSE é corruptível, está preparando a grande fraude da recusa do resultado. Cria desconfiança em parte da população. Está construindo a conivência das Forças Armadas, Policias Militares, Milicias e Seguidores Armados. Este comportamento é prova de que ele sabe que perderá nas urnas e terá apoio das armas.

Com esta certeza, está agindo cuidadosamente para preparar o cenário para a grande fraude da anulação dos votos. Insinua sem provas a possibilidade de um suposto risco de fraude; acusa irresponsavelmente que servidores e direção do TSE de terem condições e já terem praticado corrupção eleitoral; cria dúvida na opinião pública; arma seus seguidores, coopta as Forças Armadas e as Polícias e mantém relações com milicianos; além disto, articula apoio da rede internacional direitista para agirem, quando a fraude pré-anunciada for alegada. A deputada neonazista recebida na semana passada no Palácio do Planalto deve ter voltado para a Alemanha avisada do risco de fraude e deve ter avisado que apoiará na Europa o golpe da anulação das eleições, Trump nos EUA dará total apoio, lamentando que ele não teve o suporte de seus militares, quando tentou a mesma fraude em 2020.

Marco Antonio Villa - O pós-Bolsonaro

Revista IstoÉ

Hoje, quem está com o presidente compactua com o nazifascismo e com o genocídio

Não é nenhum exagero pensarmos já, imediatamente, no Brasil pós-Bolsonaro. A tarefa de reconstrução nacional será longa, difícil e muito complexa. O desafio inicial será o julgamento e afastamento de todos aqueles que colaboraram com o genocídio. Isso não inclui os que no processo eleitoral de 2018 julgaram encontrar em Bolsonaro uma opção eleitoral. Deve ser recordado os diversos problemas relacionados com os governos do PT — e foram quatro — que acabaram se acumulando e gerando uma profunda insatisfação com a elite política e o funcionamento dos poderes constituídos. O desejo de renovação deve ser louvado. A questão é que, em 2018, oportunistas, extremistas e reacionários, se aproveitaram do momento para travestir seu ideário político e se identificar, provisoriamente, com o sentimento popular. Logo mostraram sua cara. Por outro lado, aliados de Bolsonaro com o passar do tempo, foram se desiludindo, inclusive aqueles que chegaram a fazer parte do seu governo.

Ricardo Noblat - Insanidade de Bolsonaro põe em risco os interesses do Centrão

Blog do Noblat / Metrópoles

Como ficarão os que se elegerem ano que vem se o presidente, uma vez derrotado, denunciar que houve fraude?

O sonho de consumo do Centrão é um presidente da República exangue, a mendigar apoio, disposto a ceder os anéis, os dedos e, se for o caso, um pouco mais para não ir ao chão antes da hora.

Não lhe interessa, porém, sustentar um presidente capaz de tocar fogo no pagode porque os pagodeiros, mesmo que o abandonem a tempo, correrão o risco de sair chamuscados.

Apoio político é um negócio como outro qualquer. Nada tem nada de pessoal. O acordo só é bom quando os dois lados ganham, embora um possa ganhar mais do que o outro.

O presidente Jair Bolsonaro sabe disso. Nasceu no Centrão e ali se criou. Prometeu a Ciro Nogueira (PP-PI), líder do Centrão e novo chefe da Casa Civil, que se comportaria bem doravante. Mas…

Mas faltou com a palavra antes mesmo de Nogueira tomar posse. Deu mais um passo em falso ao mentir durante duas horas e pouco sobre o voto eletrônico. Assim deixou mal seus avalistas.

João Gabriel de Lima - Pilotos de Fórmula 1 que dirigem sem carteira

O Estado de S. Paulo

Nosso ‘presidencialismo de coalizão’ precisa de um virtuose ao volante para andar bem

Pode-se comparar o sistema político brasileiro a um carro de Fórmula 1. Nosso “presidencialismo de coalizão” é tão complexo que, para andar bem, precisa de um virtuose ao volante. Se elegemos um Lewis Hamilton da política, o país ganha tração e ataca seus inúmeros problemas. Se colocamos no cockpit um piloto sem carteira de motorista, o carro derrapa na zebra, bate na mureta de proteção – e o país corre o risco de ziguezaguear sem perspectivas, como um bólido com a lataria amassada. 

Estabeleceu-se no Brasil um debate sobre a implantação do semipresidencialismo – sistema de governo que vigora em Portugal e na França, no qual presidente e primeiro-ministro dividem poder e responsabilidades. A proposta de emenda à Constituição elaborada pelo deputado Samuel Moreira, do PSDB, foi recebida a pedradas à direita e à esquerda, com o argumento de que serve apenas para limitar a “vontade popular” ao subtrair poderes do presidente eleito. 

Para um de seus principais defensores, o cientista político Octavio Amorim Neto, o semipresidencialismo traria maior coordenação entre Executivo e Legislativo. “O sistema atual funciona bem com presidentes hábeis, moderados e centristas, como Sarney, Fernando Henrique, Lula ou Temer”, diz Amorim Neto, personagem do minipodcast da semana. “E emperra com líderes cesaristas, que tentam se sobrepor aos outros poderes – como Collor e Bolsonaro – ou voluntaristas, como Dilma Rousseff.” Estes seriam como pilotos de Fórmula 1 que dirigem sem carteira.

Bolívar Lamounier* - Dois colossais equívocos

O Estado de S. Paulo

Parlamentarismo está fora de cogitação enquanto classe política acreditar em duendes...

 O peixe não vê a água(ditado espanhol)

É deveras notável como nós, brasileiros, nos recusamos a refletir sobre dificuldades bem previsíveis que nos aguardam.

“Refletir” é dizer pouco: dezenas de milhares recusam-se a colaborar no combate à pandemia. Preferem uma “festinha” clandestina. E milhões parecem não perceber que mais uma década brincando de populismo – Lula x Bolsonaro – significará uma prolongada estagnação de nossa economia. Não percebem que megainvestidores – empresas ou fundos de pensão – não verão com bons olhos um país afundado numa polarização estéril, travejado por malquerenças dos mais variados tipos e que agora tem até insinuações militares contra o nosso principal ativo, que é a regularidade do processo eleitoral.

Dessa persistente obtusidade decorre um colossal equívoco. Tendemos a pensar que nossas várias mazelas permanecerão constantes durante anos e anos de estagnação econômica. Isso absolutamente não é verdade. O mais provável é um retrocesso ou deterioração cada vez mais difícil de reverter. A renda per capita brasileira equivale a um quarto da do Mississippi, o Estado mais pobre da Federação norte-americana. Tente o leitor imaginar este país daqui a 20 anos. É plausível supor que, em tal cenário, os níveis de violência que diariamente nos atormentam poderão ser reduzidos, ou sequer que permanecerão constantes? Que conseguiremos melhorar nossas condições educacionais e nosso nível de bem-estar, de um modo geral?

No quadro acima esboçado, uma classe política minimamente lúcida e destemida trataria de reforçar as instituições, se possível empreendendo uma reforma política séria. A nossa, infelizmente, dista muito desse padrão, o que a leva a persistir num segundo colossal equívoco. No que toca à organização constitucional, sabemos todos, ou deveríamos saber, que o busílis é o sistema presidencialista de governo, piorado, em nosso caso, por nossa fórmula de sistema eleitoral proporcional e uma legislação partidária estapafúrdia.

Almir Pazzianotto Pinto* - Fundo de Garantia das Execuções Trabalhistas

O Estado de S. Paulo

Ele estimulará a fuga ao pagamento de sentenças condenatórias, deixado para o Tesouro Nacional

No Brasil a Justiça rápida e barata pertence à esfera da utopia. Já nos idos de 1655 o padre Antônio Vieira condenava a morosidade dos juízes no Sermão da Terceira Dominga da Quaresma e, dois séculos depois, assim também o fazia Rui Barbosa na Oração aos Moços, dirigida aos bacharelandos da turma de 1920 da Faculdade de Direito de São Paulo.

A morosidade se agrava no processo de execução, após o trânsito em julgado de sentença condenatória, para cobrança dos valores devidos ao vencedor da lide. A dificuldade atinge elevada proporção. Em 2002, quando presidia o Tribunal Superior do Trabalho (TST), inconformado com um milhão e meio de sentenças pendentes de liquidação, celebrei com o presidente do Banco Central, dr. Armínio Fraga, o Convênio Bacen-Jud, destinado a disciplinar o bloqueio judicial de depósitos do devedor em contas bancárias.

Decorridos 20 anos a situação se alterou, mas para pior. Analisemos o relatório do Tribunal Superior do Trabalho, sobre o ano de 2019. Nas Varas do Trabalho foi recebido 1,8 milhão de casos novos. Computados os processos entrados nos tribunais regionais e no TST, o total foi de 3,056 milhões. No mesmo período foram julgados 4,007 milhões. O tempo médio gasto entre ajuizamento e encerramento da ação, com o trânsito em julgado da sentença, é de 1,6 ano no TST, dez meses nos Tribunais Regionais do Trabalho, sete meses nas Varas do Trabalho.

Ascânio Seleme - Um país no passado

O Globo

O Brasil, que está parado desde janeiro de 2019, corre o risco de ver sua democracia destruída ao recuar pelo menos 30 anos em direção ao passado se o presidente não for impedido

A imagem que a Secom escolheu para homenagear o agricultor brasileiro, a silhueta de um homem carregando uma espingarda em meio a uma plantação, remete o espectador a um passado sombrio da História do campo brasileiro. Da mesma forma, a live abusiva de Jair Bolsonaro desta quinta-feira mostra o caminho que nos joga de novo nos anos 1980. Trata-se de passos calculados para levar o Brasil de volta às trevas. A ideia absurda mas visível que está por trás de cada um desses movimentos é terminar o ciclo fechando o país, o Congresso e o Supremo, suspendendo direitos políticos, calando a imprensa, baixando o porrete.

O agricultor armado lembra os piores momentos da guerra no campo, com a criação da União Democrática Ruralista, a UDR. Formada em 1985 como grupo de lobby para defender os interesses do setor na Constituinte, a UDR acabou se transformando no principal polo de disseminação da violência. Jagunços armados nas fazendas do interior do país se transformaram na imagem agora revivida pela Secom. Ataques contra líderes do movimento dos sem-terra, padres e sindicalistas rurais deixaram um rastro de mortes no país cujo maior símbolo foi o seringalista Chico Mendes.

A defesa tão intransigente quanto obtusa do voto impresso feita por Bolsonaro também joga luz sobre o Brasil dos coronéis do interior, que carregavam os eleitores em caminhões para votar e depois contavam seus votos, um a um. E ai de quem não votasse em quem o coronel mandou. Os mais velhos vão se lembrar das apurações das eleições que antecederam o voto eletrônico. As urnas eram abertas e as cédulas espalhadas em mesas. Cada uma delas composta por mesários, os contadores oficiais de votos, e representantes de todos os partidos. Uma algazarra, um ambiente para lá de propício para a fraude. Imagine este quadro hoje, com mais de 30 partidos ao redor das mesas de apuração.

Carlos Alberto Sardenberg - Os crimes do presidente: quem vai punir?

O Globo

Como lidar ou, se quiserem, como reagir ao presidente Bolsonaro? É mais fácil dizer o que não se deve fazer: bater boca com ele. Essa é a casa dele.

Alguns sugerem não fazer nada: deixem ele falar sozinho com a turma do cercadinho.

Não é boa ideia. Afinal, o cara é presidente eleito com 57,7 milhões de votos. Não se pode dizer que sejam todos fiéis. Muita gente, a maioria, acredito, votou nele considerando a opção melhor ou menos ruim, de modo que depositaram um mínimo de confiança em sua capacidade.

Nesse pessoal, é possível que cole a questão do voto impresso. Qual o problema, dirão, de tirar um print do voto?

Por isso, fez muito bem o Tribunal Superior Eleitoral ao responder, on-line, em tempo real, às mentiras que Bolsonaro foi espalhando na live da última quinta-feira. O TSE ocupou espaço nas redes sociais — território bolsonarista — e deu argumentos técnicos, detalhados, contra as fake news. Mostrou que uma urna cheia de papeizinhos impressos é mais vulnerável a roubos de toda espécie do que a urna eletrônica.

Portanto temos aqui uma linha de resposta. Não cair na armadilha do bate-boca, mas responder com serenidade, mostrando fatos, sem exclamações.

Isso vale especialmente para a imprensa independente. E é o que temos procurado fazer aqui, no Grupo Globo. Os leitores não imaginam o tempo e os recursos que usamos para checar e rechecar as falas do presidente e sua turma.

Lógico, há uma parte dos eleitores de Bolsonaro — os fiéis dos cercadinhos — que nem sequer se inteira do que se publica na imprensa independente. Vive, como seu chefe, no mundo das fake news da internet.

Pablo Ortellado – Tragédia anunciada

O Globo

O incêndio de um edifício da Cinemateca Brasileira é tragédia anunciada, fruto do abandono deliberado do governo Bolsonaro. Movida por uma mistura de fanatismo ideológico e ignorância arrogante, a Secretaria Especial da Cultura suspendeu os recursos necessários para a manutenção da mais importante cinemateca da América Latina.

A Cinemateca Brasileira é uma instituição de preservação e difusão do audiovisual que foi fundada em 1956 pelo crítico Paulo Emílio Salles Gomes e incorporada pelo governo federal em 1984. Seu acervo inclui uma parte muito expressiva da produção audiovisual brasileira, em que se destacam os arquivos da extinta TV Tupi, produções dos estúdios Vera Cruz e Atlântida e o acervo do diretor Gláuber Rocha. Ela divide seu acervo em dois edifícios, um que abriga a maior parte dos filmes, no bairro da Vila Mariana, em São Paulo, e outro, onde ocorreu o incêndio, no bairro da Vila Leopoldina, que abriga documentos e equipamentos antigos guardados para a constituição de um museu.

Com o incêndio, pode ter sido perdida toda a documentação histórica dos últimos 50 anos das políticas de audiovisual do país, do Instituto Nacional de Cinema, de 1966, até a Secretaria do Audiovisual, passando pela Embrafilme (1969-1990). O edifício abrigava cerca de quatro toneladas de documentos.

Marcus Pestana* - A saúde, o veto e as inovações tecnológicas

Na última terça-feira, saiu publicado no DOU o veto do presidente Jair Bolsonaro ao Projeto de Lei no. 6330/2019, de autoria do senador Reguffe (PODEMOS/DF), que pretendia estabelecer a incorporação automática dos medicamentos antineoplásicos de uso oral a partir do simples registro na ANVISA, sem a devida “Avaliação de Tecnologias em Saúde” (ATS) pela ANS, para todos os usuários de planos e seguros de saúde.

Sempre considerei que a aprovação de qualquer medida legislativa deveria se dar a partir da avaliação criteriosa de seu conteúdo e não de sua origem ou da postura governista ou oposicionista do parlamentar. Não há sentido em uma oposição sistemática do tipo “quanto pior, melhor”. Ouso dizer, na linha de Rodrigo Maia, que o veto presidencial está correto.

Filiação de 41 prefeitos aliados a Doria leva a novo impasse no rito de votação das prévias do PSDB

Aliados do governador dizem que novos integrantes do PSDB poderão votar na eleição interna que escolherá candidato do partido à Presidência. Adversários contestam e acusam paulista de inflar colégio eleitoral das primárias com liberação de recursos

Gustavo Schmitt e Sérgio Roxo / O Globo

SÃO PAULO - A filiação de uma leva de 41 prefeitos paulistas tem provocado polêmica no PSDB. Aliados do governador João Doria querem que esses novos tucanos tenham direito a voto nas prévias que escolherão em 21 de novembro o candidato do partido à Presidência da República. Outra ala do partido, no entanto, acha que quem aderiu à sigla recentemente não deve participar das primárias.

Adversários de Doria ainda acusam o governo do estado de cooptar os prefeitos com liberação de recursos para suas cidades. Do grupo de novos filiados, pelo menos 24 anunciaram nas redes sociais nos últimos dois meses terem sido contemplados por programas do governo estadual, seja por meio de promessa de repasses para obras, recebimento de equipamentos ou benefícios para seus moradores.

No último dia 14, o PSDB realizou uma cerimônia na sede do diretório de São Paulo para anunciar a chegada de 41 prefeitos e 24 vices ao partido. Desde então, o departamento jurídico nacional da legenda foi consultado diversas vezes sobre as regras de votação das prévias e a permissão de participação de políticos com cargos que se filiarem até 30 dias antes da disputa.

Prioridade na eleição de parlamentares e cenário presidencial fazem partidos projetarem menos candidatos a governador em 2022

PT, PSB e MDB estão entre as legentas que projetam uma redução de postulantes aos Executivos estaduais em relação a 2018

Gustavo Schmitt e Sérgio Roxo / O Globo

SÃO PAULO - A necessidade de priorizar a eleição para a Câmara dos Deputados, que serve como parâmetro para o cálculo dos fundos partidário e eleitoral, deve ditar a estratégia dos partidos para lançar candidatos aos governos estaduais na eleição do próximo ano. Legendas como PT, PSB e MDB projetam uma redução de postulantes aos Executivos estaduais em relação a 2018. Além de fortalecer as bancadas federais, e assim garantir uma fatia maior de recursos, a construção de alianças para a disputa presidencial também deve ser levada em conta.

O veto ao aumento do fundo eleitoral aprovado pelo Congresso, prometido novamente ontem pelo presidente Jair Bolsonaro, pode impactar diretamente a estratégia dos partidos. Ao aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), os parlamentares elevaram de R$ 2 bilhões para R$ 5,7 bilhões o valor destinado para as legendas bancarem as campanhas. Bolsonaro já indicou apoio a um fundo de R$ 4 bilhões. Ontem, em uma mudança de posição, afirmou que só vai permitir a correção do valor do fundo de 2018 ( R$ 1,7 bilhão) pela inflação. Ele não explicou o período de cálculo do aumento nem o índice que seria seguido. Se a promessa for cumprida, o valor ficaria em torno de R$ 2,2 bilhões. Eventual veto ainda tem que ser submetido ao Congresso, que pode derrubá-lo.

— Vou vetar tudo que exceder... Você leva em conta o que foi usado na campanha de 2018. Isso é lei. Sou obrigado a cumprir a lei. Valor “x”. Aplica a inflação de lá para cá. Será “x” mais “y”. O que exceder, vou vetar — disse o presidente à rádio 89FM, de São Paulo.

Com desemprego de 14,6%, Guedes faz crítica ao IBGE. Analistas destacam o peso da informalidade

Dados do instituto mostram que trabalhadores sem carteira e conta própria representam 40% do mercado de trabalho

Carolina Nalin e Raphaela Ribas / O Globo

RIO - Pouco mais de um ano após o início da pandemia, a crise no mercado de trabalho ainda ensaia recuperação, de acordo com dados divulgados pelo IBGE.  Em maio, a taxa de desemprego ficou estável, em um patamar elevado, de 14,6%, com 14,8 milhões de pessoas em busca de uma oportunidade, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua.

Perguntado sobre o resultado, o ministro da Economia, em evento no Rio, criticou a metodologia do IBGE dizendo que ele está “na idade da pedra lascada”.

Na avaliação de especialistas, a pesquisa do IBGE mostra um retrato de recuperação gradual, com aumento da procura por vagas, puxada pelo avanço da vacinação e da retomada da atividade econômica.

Como o aumento da oferta de postos de trabalho não é suficiente para atender a demanda, o brasileiro busca uma saída no emprego sem carteira assinada ou no trabalho por conta própria.

A taxa de informalidade vem subindo desde maio do ano passado e atingiu 40%, o equivalente a 34,7 milhões de pessoas.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Bolsonaro insulta o Brasil

O Estado de S. Paulo

É muito provável que Jair Bolsonaro continue sua campanha para minar a democracia, ao lançar dúvidas sobre a lisura das eleições

O presidente Jair Bolsonaro insultou o Brasil inteiro ao mobilizar as atenções do País para o espetáculo imoral e degradante que protagonizou na noite de quinta-feira. Usando recursos públicos, com transmissão pela TV Brasil e pelas redes oficiais da Presidência, desde o Palácio da Alvorada, residência oficial, e ao lado do ministro da Justiça, Anderson Torres, Bolsonaro disseminou mentiras escandalosas para minar a confiabilidade do sistema de votação brasileiro. Foi um ataque direto e inequívoco à democracia.

Bolsonaro passou a semana prometendo apresentar “provas” – uma “bomba”, segundo definiu – de que as urnas eletrônicas foram fraudadas para prejudicá-lo na eleição passada. Faz três anos que Bolsonaro anuncia ter as tais “provas”, mas nunca as mostrou. Chegado o momento, o presidente passou mais tempo ofendendo o Tribunal Superior Eleitoral – em particular seu presidente, ministro Luís Roberto Barroso, acusado por Bolsonaro de impedir que haja eleições “limpas”, para favorecer o petista Lula da Silva – do que demonstrando a alegada vulnerabilidade do sistema.

Quando afinal resolveu exibir as tais “provas”, limitou-se a mostrar vídeos com falsas denúncias que circulam há anos na internet, um deles produzido por um astrólogo que diz fazer acupuntura em árvores, e a dar crédito a análises estatísticas claramente distorcidas.

Por fim, admitiu candidamente que “não temos prova” e que “não tem como comprovar que as eleições foram ou não foram fraudadas”. Bolsonaro disse haver “indícios”, mas nem isso foi apresentado pelo presidente.

As agências de checagem de informações e a Justiça Eleitoral trabalharam dobrado para verificar, em tempo real, todas as mentiras de Bolsonaro. Mas, na prática, é ocioso esperar que a exposição da patranha seja suficiente para constranger o presidente, pois a mentira é a essência de Bolsonaro e do bolsonarismo.