segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Fernando Gabeira - E tudo se acabar na quarta-feira

O Globo

As manifestações bolsonaristas de amanhã devem ser grandes. Houve empenho do governo, intensa campanha nas redes sociais, financiamento para aluguel de ônibus do interior — enfim, um esforço excepcional.

Elas podem até ter algumas consequências adiante, mas, do ponto de vista de objetivo político, são um momento de sonho para vestir fantasias que não sobrevivem na quarta-feira.E, quando não há objetivo político válido, dificilmente uma força se impõe, mesmo havendo muita gente e até poder militar.

Uma das bandeiras do bolsonarismo está praticamente morta. É o voto impresso. Foi derrotado no contexto legal em que deveria ser analisado, e não há como voltar atrás. Nesse caso particular, estarão simplesmente carregando um defunto, na expectativa de que lhes possa ser válido no ano que vem, em caso de derrota eleitoral.

A outra bandeira do bolsonarismo será, aparentemente, a liberdade de expressão. Em termos abstratos, ninguém se coloca contra ela. A dificuldade é aceitar que se preguem a violência e a invasão de prédios públicos como se estivessem exercitando a liberdade, quando, de fato, ultrapassam seus limites legais.

Essa aceitação de limites está presente, por exemplo, no parecer da subprocuradora Lindôra Araújo, que denunciou o ex-deputado Roberto Jefferson.

Demétrio Magnoli - Política como imitação

O Globo

Uma semana antes do 7 de Setembro, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) publicou o manifesto do bolsonarismo. A Fiesp e a Febraban ensaiaram o discurso da democracia, curiosamente definida como “harmonia entre os Poderes”. Em contraponto, a Fiemg intitulou sua declaração com a senha de combate da extrema direita: Manifesto pela Liberdade.

Há um centro de comando único do bolsonarismo, uma espécie de Comitê Central que esculpe seus discursos. O texto da Fiemg não foi escrito em Belo Horizonte, mas no Planalto. Na hora em que vinha a público, as bandeiras dos atos bolsonaristas de amanhã sofriam uma padronização, organizando-se em torno da senha principal. Tudo — os ataques ao STF, as injúrias contra governadores e parlamentares, a contestação das urnas eletrônicas — será recoberto por uma mão de tinta fresca que exibirá a palavra liberdade.

“Assistimos a uma sequência de posicionamentos do Poder Judiciário que acabam por tangenciar, de forma perigosa, o cerceamento à liberdade de expressão no país”, escrevem os industriais mineiros para condenar o inquérito das fake news — e, de passagem, oferecer um apoio implícito ao pedido de impeachment do juiz Alexandre de Moraes. Liberdade, desdobrada em “liberdade de expressão” e “liberdades individuais”, eis a mensagem.

A senha emerge, igualmente, em textos assinados pelo ministro da Defesa, Braga Netto, um expoente da agitação bolsonarista entre os militares. Na nota de repúdio às declarações do senador Omar Aziz (7 de julho), o general proclama que “as Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”. Pouco depois, em nota de desmentido de ameaças de golpe (22 de julho), ele expressa o compromisso das Forças Armadas com “a manutenção da democracia e da liberdade do povo brasileiro”.

Marcello Serpa - Poliana e Bismarck contra o medo

O Globo

Alguns anos atrás, numa viagem de surfe, encontrei um surfista italiano. Conversamos numa mistura de português, espanhol, italiano e nossas mãos. Depois de muitas risadas, me arrisquei a perguntar: como uma figura tão polêmica, o então primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, conseguia se manter tanto tempo no cargo mesmo enrolado em acusações de sedução de menores, corrupção e abuso de poder?

Meu amigo sacudiu os ombros e respondeu: “Molto semplice. Berlusconi o comunisti, comunisti o Berlusconi”. Era isso então, o eterno medo da ameaça vermelha fazendo um país inteiro refém de um político fanfarrão.

Desde o Manifesto Comunista de 1848, o medo da revolução do proletariado dominou o Ocidente. Marx e Engels pensaram numa Alemanha industrializada e em sua enorme massa de trabalhadores como palco para a primeira luta de classes e para o estabelecimento da ditadura do proletariado.

O medo também pode ser um grande agente de mudanças. Em 1871, o ultraconservador Otto von Bismarck, primeiro chanceler alemão, transformou seu medo e ódio pelos comunistas em inteligência política. Percebeu como as péssimas condições de trabalho dos trabalhadores alemães os transformavam no público-alvo perfeito para a propaganda socialista. Em 1883, ele iniciou a aprovação de um conjunto de leis de proteção ao trabalhador que, juntas, se tornaram o primeiro Estado de Bem-Estar Social do mundo. Melhores condições de trabalho, seguro-desemprego, pensão por tempo de serviço, seguro de saúde. Tudo financiado pelas três partes interessadas: o trabalhador, o empregador e o Estado. Essa inédita rede de segurança social tirou o vento das velas revolucionárias na Alemanha. A Revolução Bolchevique e a ditadura do proletariado só deram certo em 1917 num Estado absolutista, retrógrado e agrário, a Rússia dos czares.

Bruno Carazza* - A matemática da crise

Valor Econômico

Política brasileira se tornou um jogo de soma zero

A se confirmarem os prognósticos, o feriado da Independência terá temperatura elevada em todo o território nacional. Insuflados pelo presidente da República, os bolsonaristas vêm se preparando para tomar as ruas do país e realizar uma demonstração de sua potência máxima.

Desde pelo menos os protestos de junho de 2013, a cada evento político as divisões entre a população brasileira se intensificam. Das eleições de 2014, cujo resultado foi contestado pelo PSDB de Aécio Neves, passando pelo impeachment (ou golpe, na visão dos petistas) de Dilma Rousseff e chegando à vitória de Jair Bolsonaro em 2018 - sem falar no fator Lava-Jato -, a paz foi subtraída das discussões políticas.

Olhando à frente, o embate entre Lula e Bolsonaro nas urnas em 2022 promete ser o nosso máximo divisor comum, num encontro entre os líderes políticos mais amados e odiados de nossa história recente. A praticamente um ano das eleições, o país parece estar resignado a esperar a definição do próximo pleito para então decidir qual rumo tomar.

Enquanto isso, os números do PIB divulgados na semana passada pelo IBGE sugerem que, apesar do avanço da vacinação, a derivada da retomada econômica mudou de sinal. A despeito do crescimento das exportações (9,4% em relação ao trimestre anterior), o consumo das famílias ficou estagnado (0,0%) e os investimentos das empresas caíram 3,6% na mesma base de comparação.

Sergio Lamucci - A captura do Orçamento por emendas parlamentares

Valor Econômico

Nesse processo, ganharam espaço as prioridades eleitorais e paroquiais dos congressistas, em detrimento de políticas de interesse coletivo

A apropriação de fatias cada vez maiores do Orçamento a serem definidas por emendas parlamentares avançou com força nos últimos anos, levando a um resultado pouco transparente e muito preocupante. Em 2021, um pouco mais da metade do investimento da União deverá ser decorrente dessas emendas - serão R$ 18,9 bilhões de um total previsto de R$ 37 bilhões, segundo consta do Orçamento deste ano.

Os números aparecem em artigo de Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo, e dos economistas Marcos Mendes, pesquisador associado do Insper, e Fabio Giambiagi, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), publicado na edição deste mês da revista “Conjuntura Econômica”, da FGV.

Chefe da assessoria especial do ministro da Fazenda de 2016 a 2018, Mendes diz que, com esse processo, o Orçamento fica mais rígido, “na medida em que as emendas se repetem ano após ano e vã se tornando uma espécie de direito adquirido dos parlamentares”. Além disso, fica menos transparente porque “há um processo de indicação de despesas e contemplação de parlamentares, comandado pelos presidentes das duas Casas do Congresso e seu entorno político”.

Gustavo Loyola* - Incertezas afetam recuperação econômica

Valor Econômico

Arroubos contra a democracia de Bolsonaro afetam negativamente o ambiente econômico

O resultado desapontador do PIB do segundo trimestre deixou evidenciado os obstáculos enfrentados para a recuperação da economia brasileira ao longo de 2021, após a queda livre da atividade no ano passado.

Vários fatores estão por trás da frustração das expectativas de crescimento, mas os erros na gestão macroeconômica e as turbulências políticas provocadas pelo próprio governo são os responsáveis maiores por tais dificuldades.

Os recorrentes arroubos antidemocráticos do presidente Bolsonaro são a face mais grave das preocupações e incertezas que afetam negativamente o ambiente econômico. A estabilidade das instituições é fundamental numa economia de mercado, porém essa obviedade parece ser ignorada por muitos integrantes da administração Bolsonaro, a começar pelo próprio presidente da República.

Declarações suas ameaçando o pleito de 2022, por exemplo, mesmo que meros surtos de retórica, trazem um clima de incerteza sobre o cenário político que sem dúvida já afeta, em maior ou menor grau, as decisões dos agentes econômicos e a precificação dos ativos brasileiros.

Além disso, a condução caótica da agenda legislativa também é fonte de incertezas que atrapalha as decisões de investimento. A proposta de mudanças no Imposto de Renda apresentada pelo governo ao Congresso Nacional é um exemplo de como gerar turbulências desnecessárias. Em vez de buscar simplificar o sistema tributário e reformar os tributos que incidem sobre o consumo, o Ministério da Economia patrocina um projeto que, com as alterações aprovadas de forma atabalhoada na Câmara dos Deputados, agrava as distorções e aumenta os custos de compliance para as empresas.

Carlos Pereira* - Conservadorismo não é sinônimo de autoritarismo

O Estado de S. Paulo

O elemento aglutinador em torno de Bolsonaro é o conservadorismo, e não a saudade do autoritarismo

Muitas pessoas têm mostrado grande preocupação com a descontinuidade do perfil liberal da democracia brasileira. Alguns, inclusive, identificam riscos iminentes de quebra da ordem democrática, especialmente a partir das últimas ameaças do presidente Bolsonaro de “ruptura” institucional se ministros do STF não se “enquadrarem”.

As inúmeras respostas das organizações de controle aos arroubos iliberais de Bolsonaro, especialmente contra o STF, parecem que não estão sendo suficientes para gerar tranquilidade e segurança. A imposição de sucessivas derrotas às iniciativas do presidente, tanto no Legislativo quanto no Judiciário, não tem bastado. Tampouco a abertura de quatro inquéritos no STF e um no TSE contra o presidente e a instalação da CPI da Covid, mesmo em um contexto em que dois de seus filhos enfrentam investigações pelo Ministério Público de lavagem de dinheiro por meio de “rachadinhas”.

Diante do estresse quase que cotidiano produzido pela estratégia confrontacional de Bolsonaro, as pessoas desconfiam da resiliência e da capacidade dessas organizações de impedir retrocessos institucionais.

Celso Rocha de Barros - Vai ter golpe?

Folha de S. Paulo

Atos bolsonaristas foram convocados do centro do poder para destruir os limites que a democracia lhe impõe

Nesta terça-feira (7) os golpistas de Bolsonaro farão uma manifestação para tentar convencer os quartéis de que um golpe seria popular.

É quase impossível que as manifestações não encham. É, de longe, a manifestação fascista que passou mais tempo sendo planejada. Prefeitos bolsonaristas, pastores bolsonaristas, líderes bolsonaristas do agronegócio, todos estão trabalhando pela manifestação fascista com muito mais empenho do que nos Ustrapaloozas anteriores.

A contabilidade do bolsonarismo é sempre clandestina e ilegal, mas não há dúvida de que será uma manifestação cara.

Não será, nem de longe, uma manifestação como as outras, um análogo das Diretas Já, das marchas dos sem-terra, da Marcha para Zumbi, dos protestos de 2013, dos atos pró-impeachment de 2016, dos protestos recentes contra Bolsonaro.

Todas essas foram manifestações típicas de regime democrático, convocadas para protestar contra o centro do poder ou para apresentar-lhe reivindicações.

Sempre pode haver militantes violentos em manifestações democráticas. Mas há uma diferença radical entre um maluco com um coquetel molotov feito em casa e o presidente da República convocando as Forças Armadas e os policiais à deserção, pedindo-lhes que usem as armas do Estado brasileiro em favor de um dos lados da disputa política.

Ana Cristina Rosa - Os gritos do Sete de Setembro

Folha de S. Paulo

Este já é um dos 7 de Setembro mais conturbados da história

Independentemente do que aconteça, este já é um dos 7 de Setembro mais conturbados da história. Houve momentos de tensão relacionados à data anteriormente, mas, segundo historiadores, geralmente tratava-se de episódios isolados, como na província da Bahia em 1839.

Na ocasião, um artigo publicado no jornal Gazeta da Bahia contendo críticas à Independência e afirmando que o país deveria ter continuado unido a Portugal foi censurado com base na legislação vigente. O ato causou tumulto e constrangimento num momento em que a Bahia recém havia saído da Sabinada, revolta contra o Império ocorrida entre 1837 e 1838.

Catarina Rochamonte - O Brasil entre 7 e 12 de setembro

Folha de S. Paulo

Via democrática é melhor alternativa entre direita autoritária e corrupta e esquerda corrupta e autoritária

Colecionando denúncias por crimes de responsabilidade, envolvido em rachadinhas familiares que compram mansões, implicado em negociatas no âmbito do Ministério da Saúde, Bolsonaro gasta seu tempo exacerbando o fanatismo de que é objeto, aumentando a tensão entre os Poderes e instigando a beligerância ideológica e a polarização excessiva tão prejudicial ao país.

É improvável que neste 7 de Setembro Bolsonaro consiga efetivar o golpe com que almeja submeter as instituições e estabelecer seu poder personalista, mas não é impossível que consiga provocar tumulto.

Um grande estrago já foi feito: o país está radicalizado e poucos são os bolsonaristas dispostos a aceitar a derrota eleitoral —cada vez mais provável— de quem bravateou só vislumbrar para seu futuro três alternativas: “estar preso, ser morto ou a vitória.”

Mathias Alencastro* - De Bolsonaro ao bolsonarismo


Folha de S. Paulo

7 de Setembro será decisivo para o futuro da extrema direita

Todos concordam que a história da manifestação de setores extremistas no 7 de Setembro está intimamente ligada à invasão do Capitólio dos Estados Unidos no dia 6 de janeiro, no apagar das luzes da Presidência de Donald Trump. Bolsonaristas conseguiram replicar na perfeição os dois primeiros atos da trama trumpista: a polêmica do voto impresso jogou dúvida sobre a fiabilidade do sistema eleitoral, e os inúmeros ataques às instituições radicalizaram as manifestações.

O terceiro ato é o mais imprevisível. Bolsonaristas descrevem o assalto ao Capitólio como uma insurreição popular que almejava a tomada de poder em Washington —prova disso, o governo brasileiro foi um dos últimos a reconhecer a vitória de Biden. Uma leitura dos acontecimentos desmentida pelas autoridades americanas. Segundo o último relatório do FBI, publicado uma semana atrás e submetido à comissão de inquérito parlamentar do Congresso, apenas 40 dos 600 delinquentes indiciados pelos mais de 1.000 atos criminosos se envolveram em algum nível de planejamento antes do evento. Os envolvidos não pretendiam dar um golpe. Mas a violência fundadora dos seus atos assegurou a Donald Trump o momento catártico indispensável para perpetuar seu movimento além do mandato de quatro anos marcado por dois impeachments e centenas de milhares de mortes evitáveis na pandemia, sem contar as cinco vítimas no ataque ao Capitólio.

Vinicius Torres Freire – Bolsonarismo ou morte

Folha de S. Paulo

As ameaças de violência no 7 de Setembro e ainda mais depois fazem parte da Grande Involução

Suponha-se que no 7 de Setembro bolsonarista não aconteçam quebra-quebras, mortes, quarteladas ou motins. Admita-se que uma nova promessa golpista de Jair Bolsonaro seja tratada mais uma vez com covardia conivente. Para por aí?

Provavelmente, virá mais do mesmo, a mistura de golpismo tateante com o programa reacionário da Grande Involução. Bolsonaro não é um raio em dia de céu azul.

Parece que a extrema direita vai juntar gente bastante para incutir em parte do país o receio de que pode promover baderna subversiva nas ruas. Bolsonaro terá sido então capaz também de fazer propaganda para reanimar o rebanho.

Parece não ser o suficiente para um ataque frontal, decisivo, contra a democracia, mesmo degradada. Mas ao menos Bolsonaro mostrará capacidade de ao menos manter sua guerra de posição, uma tentativa improvável, tosca e avacalhada, mas perigosa, de conseguir hegemonia, como se fora um Gramsci influencer em molho de TV mundo cão, para citar o comunista que é anátema para o semiletrado bozismo.

Mirtes Cordeiro* - 7 de Setembro…salve a Independência!

Falou & Disse

 “Amanhã será um lindo dia… Amanhã mais nenhum mistério…O astro rei vai brilhar… A luminosidade alheia a qualquer vontade há de imperar…” (Guilherme Arantes)

Muitas especulações e ameaças têm surgido em função das comemorações tradicionais do dia de Independência do Brasil, amanhã, 07 de setembro, quando estaremos a um ano das comemorações do bicentenário, que acontecerá em 2022.

Coisas deste tempo de bolsonarismo que, pelo que parece, está findando.

Fazem parte das comemorações do Dia da Independência os desfiles escolares e militares, acompanhados de bandas de música capazes de entusiasmar a população que sai às ruas em todos os recantos do país.

Famílias acompanham seus filhos, orgulhosas pelos lugares de honra conquistados ao carregar as bandeiras ou pelos destaques nas alegorias, e até mesmo por conduzir faixas e cartazes anunciando os avanços pedagógicos de suas escolas.

As pessoas vão às ruas para assistirem entusiasmadas a passagem dos soldados das Forças Armadas com seus uniformes militares cheios de distintivos, medalhas, e com alguns instrumentos de defesa da Pátria, como os que são usados para sobrevivência nas batalhas ou nas missões, até algumas armas e veículos.

Tudo isso faz parte do imaginário do nosso povo e foi moldado através da nossa formação cultural desde o processo de colonização.

O Brasil tornou-se independente no dia 7 de setembro de 1822 e o grito de Independência ou Morte foi dado por D. Pedro I, às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo. O momento ficou marcado como “O Grito do Ipiranga”, segundo alguns historiadores.

Foi assim que aprendemos nos livros, que nos contavam nas escolas, a história sob a ótica dos dominadores. Muitos fatores concorreram para que o Brasil se tornasse independente, todos relacionados a movimentação política entre as nações estrangeiras que reivindicavam maior poder sobre as colônias, e as disputas internas entre as forças que assumiam a organização da economia no novo país, baseada no sistema escravagista.

Opinião do dia – Karl Marx*

“Toda vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que levam a teoria para o misticismo encontram a sua solução racional na praxis humana e na compreensão dessa praxis.”

*Karl Marx, Teses sobre Feuerbach (1845)

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

O vírus do autoritarismo

O Estado de S. Paulo

Se cada cidadão agir conscienciosamente como um anticorpo, a democracia pode destruir o vírus do autoritarismo

Há um processo de erosão das instituições democráticas no Brasil? Nossa democracia está em risco? Ao fim e ao cabo, vai ter golpe? Para enfrentar essas perguntas cada vez mais presentes – das redes sociais à academia, da imprensa às salas de jantar –, a Fundação FHC e o Estado promoveram um debate com diversos cientistas políticos.

Como em todo bom debate, prevaleceu a dialética. E, como reza a boa dialética, as disputas foram travadas sobre uma base de consenso. O consenso é de que há uma crise global da democracia caracterizada pela ascensão dos populismos e tremendamente agravada no Brasil pelo autoritarismo desabrido do presidente da República. Os dissensos versaram sobre o grau de resiliência das instituições.

Há risco de ruptura? Carlos Pereira foi categórico: “Não”. O Judiciário vem dando “sinais coerentes e consistentes”. Contrastando com a cisão entre garantistas e punitivistas à época da Lava Jato, as ameaças de Jair Bolsonaro “unificaram o Supremo”. No Legislativo, as Comissões de Inquérito cumprem o papel de fiscalizar e constranger o presidente. A imprensa, como com todos os governos na redemocratização, dispara diuturnamente suas críticas. Nossa democracia é “incerta, vibrante e competitiva”, disse Pereira, “e isso lhe dá vitalidade”.