O Globo
Game over? Não, diferentemente dos
videogames em que uma jogada encerra a partida, a maioria formada pelo Supremo
Tribunal Federal para disciplinar a excrescência chamada emenda do relator ao
Orçamento não põe fim à aliança entre Jair Bolsonaro e Arthur Lira, que tem
como horizonte a campanha à reeleição do presidente. Por isso, ainda que haja
razões concretas para celebrar a decisão do STF, a oposição não deve achar que
o jogo acabou. O consórcio Bolsolira ainda tem outras vidas.
O Supremo deu um recado eloquente ao
Congresso: o Orçamento não pode ser uma peça privada, voltada a garantir
maioria ao governo e benefícios aos parlamentares, sem nenhuma transparência ou
prestação de contas aos órgãos de controle.
Como escrevi aqui na última sexta-feira, antes de a ministra Rosa Weber conceder liminar paralisando os pagamentos via orçamento secreto, um instrumento assim desigual conspurca a democracia. Tanto Rosa quanto a ministra Cármen Lúcia salientaram esse aspecto em seus votos.
O placar formado de pronto para referendar
a decisão de Rosa também tem outro aspecto importantíssimo: mostrar que o
Judiciário não é suscetível a ameaças de retaliação vindas de Lira e seu grupo.
Atingido em cheio no seu poder imperial de distribuir dinheiro rápido e sigiloso em troca de votos, o presidente da Câmara agiu como se os membros do Judiciário estivessem sujeitos à mesma tutela que ele exerce sobre seus pares. Não colou, e outros cinco ministros fizeram questão de deixar isso patente antes mesmo da votação em segundo turno de outra anomalia chamada PEC dos Precatórios.