O Globo
Estranho seria se Lula
apresentasse agora uma pauta liberal, sobretudo depois do fracassado governo de
direita e falso liberal de Bolsonaro. Por isso, não tem por que se comover com
os sinais do PT e do próprio Lula em torno de uma agenda de centro-esquerda
para um provável novo governo petista. Pode não dar certo, tem tudo para dar
errado, mas este é o seu caminho natural. Não dá para pedir algo diferente ao
candidato que lidera as pesquisas dez meses antes da eleição presidencial. Só
se quiséssemos engolir uma farsa eleitoreira, e o eleitor está farto de farsas.
Vamos ver os pontos que suscitaram o debate. O primeiro e mais óbvio é o da reforma trabalhista. Lula parabenizou o governo espanhol por reverter alguns pontos da reforma trabalhista de 2012, insinuando que poderá ir pelo mesmo caminho se for eleito. A reforma promovida pelo governo Temer mexeu em 117 artigos da CLT com a promessa de aumentar empregos no país. Obviamente não houve melhora na oferta de vagas, mais em razão da economia precária do que reflexo das mudanças. Se a reforma não é popular, mudá-la não será mera trivialidade. Lula vai precisar do Congresso para dar a guinada. E se der, ninguém garante que a vida do trabalhador vai melhorar. Pode se dar o contrário, já que a tendência natural é o enxugamento de vagas pelos empregadores.
Não dava para esperar
algo diferente de uma agremiação que atende pelo nome de Partido dos
Trabalhadores. Convenhamos.
O segundo ponto é o das
privatizações. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, lembrou na semana
passada a reestatização da empresa de energia argentina, sugerindo um caminho a
seguir no Brasil. Alguma surpresa? Nenhuma. O PT sempre foi radicalmente contra
privatizações. Nos governos de Lula e Dilma só foram privatizadas estradas e
aeroportos. Contudo, aqui também será necessário o aval do Congresso para a
revogação das privatizações. Se ocorrer, já dá para imaginar o tamanho da
bagunça. Imagine se as empresas de telefonia forem estatizadas. Haverá emprego
de montão para os companheiros, mas o serviço que já é ruim no setor vai cair
ao nível das repartições públicas.
Sobre a política de preços dos
combustíveis, a ideia do PT é encerrar a paridade dos preços internos aos
praticados globalmente. A lógica de Lula é simples, embora equivocada. Ele
afirma que a empresa é pública e o Estado pode dispor dela como melhor
entender. Muito bem, o certo então é comprar todas as ações que estão em mãos
privadas e daí, sim, fazer o que lhe der na telha. Politicamente, a proposta do
PT, apresentada ao Senado em forma de projeto de lei no ano passado, interessa
muito. É combustível eleitoral. Bolsonaro queria fazer o mesmo, mas não teve
força para tanto. Não se sabe se Lula terá, mas depois de eleito os discursos
costumam mudar.
Outro ponto é o fim do
teto de gastos. Verdade que a proposta aprovada no governo Temer surpreendeu
muita gente, até mesmo os parlamentares que trabalhavam a seu favor no
Congresso. Mas isso não a torna ruim. Ter um teto auxilia no cumprimento da lei
de responsabilidade fiscal, que determina que não se gaste mais do que se
arrecada. A questão é que o teto aprovado não apenas limita os gastos, ele
também os congela por 20 anos. O problema é o argumento de Lula para defender o
seu fim. “Governo responsável não precisa de teto de gastos”, disse ele. Exatamente
aí é que mora o perigo.
Finalmente, a proposta de
reforma tributária é a mesma que Lula apresentou na sua primeira campanha
presidencial, em 1989. O projeto é simplificar a barafunda tributária, reduzir
os impostos dos mais pobres e aumentar os dos mais ricos. O fato é que desde
então o PT vem reproduzindo a ideia no papel, mas só no papel. Nenhum
centímetro se avançou nos três mandatos e meio da era petista. O Congresso não
topou.
O PT é o PT, não adianta
querer mudar sua gênese. Normalmente, ele caminha um pouco mais pelo centro,
sobretudo sob o comando de Lula. Mas sua retórica nunca mudou e não vai mudar
agora.
Analista diplomado
Mais uma polêmica acaba de ser instalada
por gente que circula em torno de Bolsonaro e aproveita essa proximidade para
buscar e levar vantagens das estruturas governamentais. A Uninter, universidade
paranaense especializada em cursos de graduação à distância, pediu e obteve
junto ao Ministério da Educação registro de um curso superior para a formação de psicanalistas.
Um absurdo, diz nota de protesto assinada por 48 instituições ligadas ao setor
e que formam o Movimento de Entidades Psicanalíticas Brasileiras. A prática da
psicanálise não se aprende em escola. Sua formação, segundo o Movimento,
“decorre de análise pessoal, da leitura crítica da teoria e das reflexões
clínicas e se dá sempre de modo singular”, não através de grade curricular e
tempo determinado.
Analista diplomado 2
O ex-deputado federal Wilson Picler,
filiado ao PSL desde 2018, quando fez doações vultosas e participou da campanha
de Bolsonaro no Paraná, é o fundador da Uninter. Foi com esse patrimônio
político que ele acabou sendo atendido pelo MEC no pedido esdrúxulo de
estabelecer um curso para psicanalistas. Um curso à distância, é bom que se
diga. Formar um psicanalista com aulas online é mais ou menos como graduar um piloto de avião pelo WhatsApp.
Segundo Fernanda Zacharewicz, psicanalista e doutora em Psicologia Social pela
PUC/SP, “não há diploma que o viabilize, é a posição ética que vai sustentar o
ofício do psicanalista”. Para a psicanalista Darlene Tronquoy, graduada em
psicologia e doutora em Letras, é impossível formar psicanalistas na
universidade. “Este só pode advir de sua experiência no divã com o
inconsciente, de sua análise pessoal e da formação permanente junto aos seus
(ím)pares”, diz ela.
Analista diplomado 3
Trata-se de tragédia anunciada. Esses
homens e mulheres que se formarem estudando as apostilas online da Uninter vão
cuidar da cabeça de brasileiros. Vai dar bode, alguém tem dúvida?
A bolsa da barusca
Mulheres de funcionários graduados da
Petrobras que conviviam com Pedro Barusco, aquele gerente que ficou conhecido
por desviar US$ 100 milhões da empresa, sempre desconfiaram que havia alguma
coisa errada com ele em razão de uma
bolsa que sua mulher usava em reuniões da turma. Era uma
Hermès Jypsiere, que custa no mercado para lá de R$ 30 mil. Mais do que o
salário do marido, que era de pouco mais de R$ 23 mil.
Salto e soberba
Quando uma candidatura já nasce forte, como
a de Lula, alguns problemas acabam surgindo e atrapalhando. O principal é o
velho sentimento do “já ganhou”, que deixa a turma meio que de salto alto e
induz potenciais apoiadores a uma certa malemolência. Por isso, aliás, a
federação dos partidos de esquerda está ameaçada, empacada. O PSB já anunciou
que vai pular fora. Não disse, nem precisava, mas quer ficar livre no primeiro turno e
só apoiar Lula formalmente no segundo. Segundo turno, aliás, que pode nem acontecer,
embora o salto alto e a soberba sejam patamares bem apropriados para deles se
estabacar.
Brasil moderno
Dia 13 de fevereiro completam-se 100 anos
da Semana de Arte Moderna. Mas, em 1942, um de seus membros, o poeta e
romancista Mário de Andrade, já indagava: “Como é possível ser moderno num país com tanta desigualdade e
falta de acesso a direitos básicos?”.
Diplomatas
Já está disponível nas livrarias o título
“Os diplomatas e suas histórias”. Livro em que alguns dos maiores nomes da
diplomacia contam episódios
interessantes, curiosos e exemplares da carreira. Há
textos, todos curtos e muito bem escritos, de Rubens Ricupero, José Botafogo
Gonçalves, Celso Amorim, Marcos Azambuja, Roberto Abdenur e Leda Lúcia Camargo
(a organizadora da obra), entre outros 20 embaixadores, que mostram, como
explica Ricupero, que diplomatas “salvam vidas, aproximam povos, criam riqueza,
atraem investimentos, difundem arte, música, poesia, e contribuem para o tornar
o mundo mais humano e mais nobre”. Quanta diferença do que vemos hoje no
Itamaraty.
Chinelo e pipoca
Apesar de estar cheio de planos para este
ano, o general Santos Cruz parece bem à vontade com sua condição de aposentado. Tem
recebido interlocutores em sua casa invariavelmente de bermuda e chinelo.
Eventualmente, comendo pipoca.
Meninos armados
O Centro para o Controle e a Prevenção de
Doenças dos Estados Unidos revela que a taxa de morte de crianças com 14 anos ou
menos causada por armas de fogo cresceu 50% entre 2019 e 2020. O acesso a armas
é razoavelmente fácil nos EUA e, durante a pandemia, muitas crianças morreram
porque brincavam com armas que acharam dentro da casa de seus pais e avós.
Novak Piquet
Depois do vexame de Novak Piquet Djokovic na Austrália, onde foi barrado na entrada por não apresentar comprovante de vacinação contra a Covid, melhor seguir torcendo por Nadal e Federer. Afinal, como explicou Bolsonaro na sua live de quinta-feira, somos “tarados por vacina”.
Ascânio Seleme pelo visto é um defensor das privatizações e contra as estatizações, claro. E quem pensa assim acha que empresa privada funciona bem e as estatais são cabides de emprego, etc. Então pergunto e a Vale do Rio Doce ou simplesmente Vale? Foi estatal e depois privatizada. Se fosse estatal tais desastres ambientais talvez não tivessem acontecido. Falar nisso o nióbio brasileiro, 98% de todo o nióbio do mundo está sendo explorado pela iniciativa privada (Banco Itaú). Esse banco já vendeu aos chineses nióbio no valor de quase 3 bilhões de dólares. Pode uma empresa privada vender riqueza do solo do país? Por isso esse banco teve condições de doar um bilhão de reais para o combate à pandemia. Nenhuma outra empresa chegou perto desse valor. O Brasil tem que criar a Niobiobrás. O Itaú manda 70% de nióbio puro para os EUA. Para que? Só pode ser para fazer estoque. Bolsonaro está de olho no nióbio amazônico. Já construiu uma estrada perto do local onde fica o maior estoque de nióbio do planeta. FHC, Zé Dirceu e Cia. Queriam botar a mão nesse negócio que, segundo Marcos Valério, colocava no chinelo o dinheiro envolvido no Mensalão. Já que falou em telefonia. Os Correios tentaram entrar no mercado de internet. Fiquei interessado, mas não vi nem propaganda na televisão. Na França a internet é estatal, no Brasil é esse festival de empresas privadas. Agora na hora do 5G quero ver como vai ficar. A Petrobrás já teve suas partes mais lucrativas privatizadas. Assim é bom ser empresa privada.
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