sábado, 8 de janeiro de 2022

Claudio Ferraz: O que pensam os economistas dos presidenciáveis?

O Globo

Quase todos, mesmo os que representam candidatos de centro-direita, falam da necessidade de gerar crescimento econômico com redução da desigualdade

Nesta semana, o jornal Folha de S. Paulo publicou uma série de artigos de economistas que assessoram alguns potenciais candidatos à Presidência em 2022. Apesar de os artigos não serem planos de governo completos, eles nos permitem entender as visões e prioridades de alguns dos economistas que assessoram os candidatos.

Confesso que acho um pouco prematuro um exercício desses. Tenho certeza de que muitas coisas escritas nem foram conversadas com os candidatos presidenciais. Mas, mesmo assim, há coisas interessantes neste conjunto de artigos.

A primeira delas é uma preocupação generalizada com a redução da desigualdade. Quase todos os economistas, mesmo os que representam candidatos de centro-direita, falam da necessidade de gerar crescimento econômico com redução da desigualdade de renda.

Mas as propostas e prioridades que aparecem são bastante diferentes. Enquanto Henrique Meirelles e Nelson Marconi deixam claro que a redução da desigualdade social depende do crescimento sustentado de empregos de melhor qualidade, Affonso Pastore fala em “dar a todos o mesmo ponto de partida através de educação e saúde.”

Mas, em um mundo onde os serviços e a tecnologia são cada vez mais importantes, simplesmente focar na igualdade de oportunidades não será suficiente para a criação de empregos de qualidade.

A menos que pensemos que a redistribuição de renda será feita somente por meio de programas de renda mínima, precisamos pensar em como incorporar trabalhadores ao mercado de trabalho formal.

Nesse sentido, o artigo de Guido Mantega parece ter sido escrito há 20 anos. Não traz nenhuma ideia nova e, quando menciona a palavra emprego, é para dizer que “o governo deve coordenar um ambicioso plano de investimentos públicos e privados, aumentar a produtividade e gerar muitos empregos.”

A segunda coisa que me chamou a atenção foi a ênfase no meio ambiente dada por Nelson Marconi e Henrique Meirelles, em contraste com a quase ausência do tema nos artigos de Celso Pastore e Guido Mantega.

Não há dúvidas de que o Brasil tem enormes oportunidades econômicas, como argumenta Marconi, com “o desenvolvimento de novas fontes de energia, a reorientação do uso do petróleo, as alterações na forma de produzir carnes e outros alimentos, a implantação de uma infraestrutura de baixo uso de carbono.”

Além disso, a economia de carbono zero e a preservação da Amazônia e sua valorização são citadas por Meirelles. Já no artigo de Guido Mantega, o meio ambiente entra como uma nota de rodapé. O foco é no governo retomar as políticas industriais e de investimento tecnológico, sem esquecer as questões climáticas e ambientais.

Mas não colocando essas questões no centro de uma estratégia de inovação e desenvolvimento. De novo, parece que Mantega está escrevendo em 1998 e não em 2021.

Finalmente, não posso deixar de mencionar a minha surpresa com a ênfase nos aspectos macroeconômicos fiscais que dominam a pauta no lugar de discussões mais microeconômicas centradas em inovação tecnológica, investimentos em pesquisa e desenvolvimento, robotização e inteligência artificial, educação e qualificação da mão de obra, inovação financeira e fintechs.

É claro que acertar a questão fiscal será importante para dar estabilidade ao país, principalmente depois de uma crise econômica que se alastra desde 2016, mas nenhum país do mundo cresceu no longo prazo somente colocando as finanças públicas em ordem. Precisaremos ir muito além disso se quisermos que o Brasil volte a crescer com mais igualdade.

 

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