O Globo
Jair Bolsonaro desembarcou em Moscou. Vai
conhecer o inverno russo e experimentar a comida do Kremlin. Esnobado pelos
líderes ocidentais, o capitão tenta se enturmar com Vladimir Putin. É a opção
que resta para disfarçar seu isolamento internacional.
O presidente inaugurou a era da
antidiplomacia. Nomeou um chanceler que não passaria no psicotécnico, hostilizou países amigos e
investiu na bajulação a Donald Trump. Quando o republicano foi
derrotado, Bolsonaro endossou a mentira da fraude nas urnas. Expôs o Brasil ao ridículo e virou persona non grata
na Casa Branca.
A visita à Rússia ocorre num mau momento.
Putin moveu tropas para a fronteira e ameaça invadir a Ucrânia. O capitão nunca
esteve tão perto de uma guerra de verdade. Mas há exagero na tese de que ele
deveria ter cancelado a viagem, marcada meses antes da crise militar.
A Rússia é parceira do Brasil no G20 e nos Brics. Tem 140 milhões de habitantes e consome apenas 0,6% das nossas exportações. O Brasil pode estreitar as relações com Moscou sem tomar partido no conflito. Basta focar no interesse nacional, como reza a tradição do Itamaraty.
Na segunda-feira, dois pré-candidatos
usaram a viagem para atacar Bolsonaro. Ciro Gomes o acusou de fazer “turismo
com recursos públicos”. Sergio Moro disse que o presidente tem a “incrível
capacidade de estar no lugar errado e na hora errada”. Pode ser, mas há pouco
tempo ele o tratava como o homem certo na hora certa.
Ciro e Moro apostam na tática do
franco-atirador, compatível com quem vai mal nas pesquisas. Na campanha de
Lula, o tom é mais pragmático. O ex-chanceler Celso Amorim chegou a defender a
caravana. Ele sabe que os líderes passam e os países ficam: é preciso pensar na
diplomacia do pós-Bolsonaro.
O principal risco da viagem não está nas armas, e sim na língua do presidente. Nos últimos dias, líderes de Argentina, França e Alemanha passaram pelo Kremlin. Nenhum deles saiu com a pecha de marionete de Putin. Se não se meter na crise alheia, o capitão também deve escapar ileso. E ainda pode convencer sua tropa de que ajudou a evitar a Terceira Guerra.
Moro criticando Bolsonaro não cola,como se diz no popular.
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