Folha de S. Paulo
A turbulência está só começando; apertemos
os cintos
Bolsonaro apresentou, nos últimos dias,
pequena mostra de como será sua campanha à reeleição. Dá para identificar três
eixos muito bem coordenados. Um deles é o discurso e a produção de símbolos
para arregimentação de suas bases. Nisso, merecem destaque sua imagem em um
clube de tiro e os palavrões, emitidos em estudado tom de desabafo, em comício,
no Nordeste.
Também voltaram os ataques golpistas ao sistema eletrônico de votação e deturpações, como a expressão "ditadura das canetas", em evidente alusão às decisões de ministros do STF. Misturadas a muitas baboseiras, proliferam ameaças explícitas, como a que foi feita por Eduardo Bolsonaro: "(...) a gente vai dar um golpe que a gente vai acabar com o Lula". São apitos para mobilizar os cães de guerra.
Um segundo eixo é tentar inundar a
sociedade com mais armamento e munição, como se pode notar na proposta de
"anistia" para quem tem armas em situação irregular. É o anabolizante
que vem apascentando (não apenas) milícias e facções bolsonaristas. Por último,
há a engrenagem digital do ódio, operada de dentro do governo.
Essas dimensões convergem para promover a
violência em escala individual e coletiva, num ciclo multiplicador e permanente
de tensões sociais. Esse é o terreno onde grassaram o nazismo e o fascismo. Não
é à toa que a defesa do nazismo
surge com aparente naturalidade em um podcast com milhões de
seguidores.
Nada é aleatório. É perceptível um método
de propagação e reverberação de ondas de fúria, que degradam os valores da
civilidade e sedimentam a brutalidade e a estupidez como referências para o
convívio social e a resolução de conflitos cotidianos.
Bolsonaro age com desenvoltura no pântano e
é assim que ele imagina enfrentar Lula, chegar ao segundo turno e vencer. Se
não der certo, restará o delírio de insuflar algo semelhante ao
"capitólio" de Trump, nos EUA. A turbulência está só começando.
Apertemos os cintos.
Se eu fosse repórter não iria cobrir a provável posse do Lula,periga ter tiroteio.
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