O Estado de S. Paulo
Na ida à Rússia, Bolsonaro busca fotos para usar na reeleição e esfregar na cara de Biden
A viagem do presidente Jair Bolsonaro à
Rússia, entre os dias 14 e 17, é arriscada e pode se confirmar inconveniente
sob vários ângulos: será no pior momento, em meio à crise da Ucrânia, e
Bolsonaro tem um longo histórico de fiascos em suas investidas internacionais,
por falta de gosto, talento, conhecimento, instrumental e... de fazer o dever
de casa.
Não foi à toa que os EUA pediram ao
presidente que adiasse a visita, já que a ameaça russa de invadir a Ucrânia se
transformou num confronto entre Washington e Moscou, desde que a Europa faz
corpo mole e mais ainda quando a China sela uma “amizade sem limites” com a Rússia,
tentando equilibrar melhor sua fragilidade política com sua força econômica.
E o Brasil com isso? Presidentes só se metem em vespeiros assim quando têm peso para mediação ou os interesses internos se sobrepõem. O Brasil é peça miúda num tabuleiro de gigantes, distante do conflito e vai ladeira abaixo pela política externa, a gestão da pandemia e do ambiente e pelas próprias viagens de Bolsonaro, desde que desperdiçou preciosos minutos de discurso em Davos no início do governo.
A orientação da diplomacia para Bolsonaro é
ter foco no bilateral e nas convergências com a Rússia, que divide assentos com
o Brasil nos Brics, no G-20 e no Conselho de Segurança da ONU, e “encapsular” o
tema Ucrânia: falar pouco e manifestar opinião menos ainda. Oremos!
Basta decorar algumas linhas: o Brasil se
mantém fiel à resolução 2202 do Conselho de Segurança, a favor das vias
diplomáticas, não militares. No mais, sorrisos, fotos, acertos bilaterais,
preces e torcida para que ele não invente fazer uma gracinha ou dar uma de
machão.
Na agenda bilateral, desenhada em idas à
Rússia dos ministros Bento Albuquerque (MME) e Tereza Cristina (Agricultura),
além do almirante Flávio Rocha (Assuntos Estratégicos), estão comércio,
energia, fertilizantes, agricultura e defesa.
Bolsonaro, porém, busca fotos. Uma para
esfregar na cara de Joe Biden, outra para tentar neutralizar na campanha à
reeleição a pizza nas ruas de Nova York, os discursos na ONU, a ausência na COP
26, o fiasco no G-20, o vexame de ignorar o novo chanceler da Alemanha, as
desfeitas com a França, os ataques à China...
Um constrangimento a mais é que Bolsonaro, que dará uma esticada ideológica à Hungria, não é vacinado contra a covid19 e a ideia do Cerimonial de Vladimir Putin pode ser um tapete de uns 20 metros no brinde entre os dois. Pode resolver o problema do vírus, não as fotos para Washington e para a campanha brasileira.
Bolsonaro é chacota no mundo inteiro.
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