O Globo
A busca de uma alternativa à polarização
entre o passado e o presente que não satisfazem esbarra em interesses
amesquinhados que impedem uma visão mais ampla de futuro. São tantos partidos,
e tão baixas as negociações comerciais, não políticas, que trabalhar em cima de
um consenso ou de um programa comum torna-se tarefa impossível nesta fase da
campanha eleitoral. Nem se fala nisso, na verdade.
O PL teria oferecido R$ 30 milhões para assumir o controle societário do PTB? O
União Brasil, fruto de uma joint venture entre o PSL e o DEM, será dominado
pelo caixa milionário de Bivar ou pelos interesses baianos do ACM Neto? O MDB
vai apoiar mesmo Simone Tebet, ou está apenas marcando posição para vender no
mercado futuro seu apoio? O PSDB de Doria terá condições de conseguir uma
federação partidária que o apoie ou ficará isolado diante da resiliência do
governa- dor paulista, cujo objetivo é a Presidência da República?
O instituto da federação partidária é dos mais importantes já concebidos na
nossa geleia geral partidária. Daria consistência à união de legendas, pois
teriam que atuar em conjunto nos próximos quatro anos, o que geraria uma
homogeneidade de atuação que se refletiria nos votos. Além do mais, enxuga-
ria, na prática, o número de partidos em ação no Congresso.
Mas até agora não se consegue chegar a um acordo, mesmo entre partidos de
esquerda que geralmente são satélites do PT, mas se vendem caro nessa fase do
processo. O PSB é o único que tem condições de caminhar pelas próprias pernas,
com força real em Pernambuco, Rio Grande do Sul, São Paulo e Espírito Santo,
mas ideologicamente tem setores que se aproximam do PT.
PSOL e PCdoB precisam da federação para sobreviver às cláusulas de barreira.
Rede, PV e Cidadania também, mas desses, o único que pode fazer uma federação
mais ao centro é o Cidadania, que tem no PSDB seu parceiro preferencial. Todos
estes casos são circunscritos à esquerda, onde provavelmente será mais fácil um
acordo, devido à vantagem que o ex-presidente Lula tem nas pesquisas
eleitorais.
Lula, que não se deixa morder pela mosca azul, sabe que a vitória não está
garantida, embora provável. Não cai na esparrela de alguns setores da esquerda
que, certos da eleição oito meses antes, já começam a desdenhar dos opositores,
a apresentar planos mirabolantes de repetir os mesmos erros de sempre. Ao
contrário, o ex-presidente trata de consolidar sua dianteira procurando setores
não alinhados ideologicamente, como o representado pelo ex-tucano Geraldo
Alckmim.
Outro objetivo de Lula é o PSD de Gilberto Kassab, que está à cata de um
candidato para seu partido, porque Rodrigo Pacheco não decolou. Apareceu agora
a ideia de convidar o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, para ir
para o PSD e fazer o papel de candidato à presidência. É possível que aconteça,
mas vai ter um impacto muito menor do que se tivesse vencido as prévias do
PSDB. Aí sim, ele apareceria como um grande líder político dentro de um partido
forte, ao derrotar o governador João Doria.
Teria outra importância a vitória dele, viabilizando uma campanha eleitoral
importante. Hoje, se acontecer essa adesão, não vejo muita novidade, nem
possibilidade de ele levantar apoios e empolgar eleitores a ponto de se
transformar em uma alternativa a Lula e Bolsonaro.
A política tem símbolos e momentos importantes, e acho que o momento de Eduardo
Leite já passou. Ele não tem carisma, nem história política que justifiquem uma
mudança do quadro eleitoral. Não é uma escolha que tenha consequências no jogo
político. Se não der certo, Kassab vai para o plano C, que sempre foi, na
verdade, seu plano A: aderir a Lula, mas numa posição de independência, de
força, e não uma adesão pura e simples. Por isso, tenta viabilizar um candidato
que dê a ele cacife para nego- ciar apoio a Lula no segundo turno. Se não der
certo, Kassab vai para o plano C, que na verdade sempre foi seu plano A; aderir
a Lula, mas numa posição de independência de força, e não uma adesão pura e
simples. Por isso, tenta viabilizar um candidato um candidato que dê a ele
cacife para negociar apoio a Lula no segundo turno. Se não der certo esta
manobra com Eduardo Leite, e não aparecer outro candidato, é provável que
Kassab apoie Lula ainda no primeiro turno.
A novidade da vez pode ser a senadora Simone Tebet, com notável capacidade de
mobilização do eleitorado feminino, que representa mais da metade do
brasileiro. Se contar com o apoio do MDB, que tem capilaridade nacional, pode
ter viabilidade.
Os partidos funcionam como uma empresa mesmo,só o dinheiro importa.
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