O Estado de S. Paulo
A nova guerra entre esquerda e
bolsonaristas: quem ameaça mais a democracia?
Engana-se quem considera que o presidente
Jair Bolsonaro está morto para as eleições de outubro. Apesar de todos os
absurdos, erros e perdas de apoios, o presidente tem o cargo, estrategistas e
vai operar cada vez mais o temor do irreal “comunismo” e real da volta do PT e
do ex-presidente Lula.
Se o Supremo, setores do Congresso e da
opinião pública trabalham com a hipótese de Bolsonaro reagir a la Donald Trump
em caso de derrota, grupos bolsonaristas, inclusive da área militar, reagem na
mesma moeda: segundo eles, se alguém tem condições de agitar as ruas do País
são Lula e esquerda.
No discurso público e nos bastidores, oficiais de Exército, Marinha e Aeronáutica garantem que não participarão de nenhuma “aventura golpista” a favor de Bolsonaro ou de ninguém. E acrescentam: vão respeitar o resultado das urnas, qualquer que seja o novo presidente – ou seja, o novo comandante em chefe das Forças Armadas.
Nas conversas ao pé do ouvido, porém, as
três forças trabalham com variados cenários e o mais drástico é de convulsão
nacional. Isso vale também para o caso de derrota de Lula, não só para a de
Bolsonaro.
Nessas análises, as ameaças de Bolsonaro
são mais explícitas, mas menos críveis. Para um filho, basta “um cabo e um
soldado” para invadir o Supremo, para um então ministro, os ministros da Corte
deveriam ser presos, daqui e dali fala-se em “novo AI-5”. E o próprio
presidente ameaça descumprir ordem judicial em pleno Sete de Setembro. Só
“bravata”?
O problema, para setores militares e
bolsonaristas, porém, está na esquerda. Segundo eles, Lula tem liderança, está
ressentido depois de preso e conta com MST, sindicalistas e radicais, com
capacidade para produzir tumultos de rua, quebra-quebra e ameaças à democracia
em caso de derrota.
Atenção: não considero esse risco, mas
escrevo porque se trata de informação relevante, para ficar no radar o que
setores bolsonaristas pensam e, eventualmente, podem usar para validar algum
tipo de “reação à altura”.
Na realidade, foi Bolsonaro quem desde o
início do seu governo armou civis, foi complacente com o motim da PM no Ceará e
forçou alianças com as polícias. E é ele quem insiste na fake news de que a
eleição de 2018 foi fraudada e as urnas eletrônicas não são confiáveis. É ele,
enfim, quem replica Trump, capaz de estimular o Capitólio.
Não é à toa que, após quase 40 anos da
redemocratização, os presidentes do Supremo, do TSE e do Senado se sentem
obrigados a defender a democracia e as instituições. Não há clima nem
lideranças capazes de incendiar o País, ganhe quem ganhar, mas a campanha vai
ser sangrenta...
A jornalista Cynara Menezes deve ter lido apenas o título do artigo,Eliane Catanhêde deixa bem claro que não é o ponto de vista dela.
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