Para Lavareda, candidatos à direita disputam o controle da segunda via e devem ter clareza de que o adversário principal é Bolsonaro, sem desperdício de energia com ataques a Lula
Por Cristian Klein / Valor Econômico
Rio - A seguir os principais pontos da entrevista do presidente do conselho científico do Instituto de Pesquisas Sociais Políticas e Econômicas (Ipespe), Antonio Lavareda:
Valor: Qual é a chance dos candidatos da terceira via?
Antonio Lavareda: Terceira via
significa, de saída, um formato triangular, e hoje estamos próximo disso. Na
verdade, temos mais. Nos votos válidos, há quatro candidatos [Lula, Bolsonaro,
Moro e Ciro] com mais de 10%. Isso já configura quatro candidatos competitivos,
ou seja, com mais de dois dígitos. Hoje há um formato quase quadrangular.
Valor: Não temos um quadro de polarização?
Lavareda: Pode ser um
formato quadrangular, como tivemos nas eleições de 1989 e 2002. As pesquisas
estão batendo na trave. Eu desconfio que vai ser reduzido para um formato
triangular, como foi em 1998, 2010, 2014 e 2018, havendo risco de ir para o
formato bipolar, como ocorreu em 1994 e 2006. Acredito que a lógica do segundo
turno vai se impor, vai se imiscuir no final da disputa do primeiro turno.
Valor: Que fatores prejudicam a terceira via?
Lavareda: Qual é a
plataforma que impulsiona a candidatura de Bolsonaro? É a incumbência, que é o
magneto do debate público. Qual é a plataforma que impulsiona Lula e o lulismo?
É a ex-presidência.
Candidatos atacam Lula e Bolsonaro. Mas não
estão disputando com os dois. O adversário deles é o bolsonarismo
Valor: Como os concorrentes podem se destacar numa
eleição tão baseada nesse voto retrospectivo?
Lavareda: Mais que desafio, o problema dos candidatos da terceira via é que, para protagonizarem a disputa eleitoral, eles ficam batendo à direita e à esquerda. Atacam Bolsonaro e atacam o Lula. Esses ataques nem sempre desgastam os dois candidatos, mas com certeza atraem a ira dos eleitores desses dois candidatos.
Valor: É o caso de Moro.
Lavareda: Logo mais,
ele vai conseguir ser o campeão em rejeição, óbvio, está indo nessa direção. Em
geral, quando um candidato ataca outro com uma densidade eleitoral bem superior
à dele, o efeito mais visível é a elevação da rejeição do candidato de menor
dimensão. Isso é praticamente uma regra, não sei como os marqueteiros desse
povo não sabem disso. Quando o candidato que tem 2% ataca o que tem 42%, a
credibilidade dele já é baixa... A credibilidade decorre do tamanho, da
expressão. Ataque é sempre uma coisa delicada em campanhas eleitorais, porque
pode ter efeito “backfire”, bumerangue.
Valor: Qual é a alternativa?
Lavareda: Ataque de
candidato nanico é um risco imenso. Tem que terceirizar, sair por outro canal,
não por ele. Candidato em patamar modesto tem que fazer discurso positivo,
atrair o eleitor pelo que tem a contribuir ao debate público. Ainda não tem
musculatura para boxear com os líderes.
Valor: E o Doria?
Lavareda: O Doria parou
de fazer isso. O pessoal dele, provavelmente, olhou as pesquisas e entendeu que
não era hora de atacar, mas de crescer. Não vai crescer atacando.
Valor: Já o Ciro ataca todos.
Lavareda: O problema do
Ciro é que era o candidato para liderar a esquerda no segundo turno e quando
Lula volta, após decisão do STF, ficou encurralado. Aí ele foi à direita, à
centro-direita, passou pelo centro, agora é candidato rebelde, ficou em
situação difícil do ponto de vista de posicionamento. Ciro deixou de competir
como um banco, com estratégias mais tradicionais e abrangentes, e passou a
adotar estratégia de nicho, como uma fintech. Você vê a Simone Tebet. Mais da
metade dos brasileiros não a conhecem. Como ela vai crescer? O Alessandro
Vieira, o Felipe d’Avila, o Rodrigo Pacheco, que praticamente está saindo da
competição... Então, esses candidatos têm extrema dificuldade.
Valor: Que marca tem a eleição?
Lavareda: Esta eleição
está ratificando o que se deu em 2018. Primeiro, que o eleitorado à esquerda é
do PT. Em seu pior momento o partido conseguiu manter a liderança desse
segmento. Segundo, houve uma troca de guarda no voto do centro para a direita.
A representação que era tucana foi empalmada pelo bolsonarismo. E isso está se
mantendo agora. Ou seja, o PSDB está correndo o risco de desaparecer como ator
relevante da representação desse campo do espectro político-ideológico.
Bolsonaro no segundo turno é a consolidação disso. Essa centro-direita vai
ficar subordinada eleitoralmente ao Bolsonaro num eventual segundo turno.
Valor: Ciro pode ser considerado terceira via?
Lavareda: Eu tiro o
Ciro Gomes disso. Ele é a quarta via. Ele é o supletivo da esquerda, o cara que
se o Lula amanhã, por qualquer motivo, desistisse da eleição, boa parte da
votação dele iria para o Ciro. Ele é a segunda opção de uma porção grande dos
eleitores do Lula.
Valor: E os demais candidatos?
Lavareda: Na verdade,
eles não são terceira via. O intuito deles é substituir a segunda via, a
representação desse campo político-ideológico [à direita], que hoje é
Bolsonaro, e, entre 1994 e 2018, foi exercida pelo PSDB. A lógica deles é
desalojar o Bolsonaro do segundo turno. E é uma tarefa hercúlea você desalojar
um incumbente - e sobretudo um incumbente que foi votado por eles. O Doria
tenta retomar para o PSDB. E ainda que não seja para o PSDB, eles querem alguma
coisa desse campo político que não seja o Bolsonaro.
Valor: O alvo deles está errado?
Lavareda: É uma ilusão
de ótica dos candidatos, dos proponentes e dos patrocinadores da terceira via
imaginarem que essa terceira via é algo que entra, investe ao centro do
espectro, entre o lulismo e o bolsonarismo. Não é. Não são o centro
equidistante, são centro-direita. A única chance é de substituir o
bolsonarismo. Em suma, precisam ter a clareza de que o adversário deles é
Bolsonaro, é quem controla os votos que poderiam ser deles. Eles têm que
enfrentar o Bolsonaro. Mas atacam Lula e Bolsonaro. Não estão disputando com os
dois. Lula, eventualmente, será adversário no segundo turno. É a lógica das
primárias nos Estados Unidos, em que estariam disputando duramente a indicação
do partido que controla esse campo.
Valor: Ciro tem chance?
Lavareda: A maior
oportunidade do Ciro - ou para qualquer outro nome, partido ou força política
que quisesse ultrapassar o PT à esquerda - passou, que era em 2018.
Valor: Não era também a grande oportunidade do Moro,
que estava no auge da popularidade?
Lavareda: O Moro teria sido imbatível em 2018, ganhava no primeiro turno. É candidatura que chega tardiamente. Mesmo assim, ele saiu do ministério em abril de 2020, com até 15% de intenções. Se tivesse ficado no Brasil, fazendo política, pré-campanha, talvez tivesse numa melhor situação hoje. O Moro é o Ciro Gomes do Bolsonaro.
Parece que ninguém tem chance nenhuma,é Lula e Bozo no segundo turno.
ResponderExcluir