José Serra Senador defende resultado das prévias vencidas por Doria e diz que diálogo com Lula é ‘natural’
Adriana Ferraz / O Estado de S. Paulo
Senador da República por São Paulo; foi
chanceler, ministro da Saúde, governador, deputado e prefeito da capital
paulista
Federações. Para senador, ‘exigências e peculiaridades locais’ podem travar acordos de união partidária
O senador paulista José Serra (PSDB), que
pediu licença médica de quatro meses no ano passado para tratar da doença de Parkinson,
ficou oficialmente afastado da política, mas não se desligou. Diz ter
acompanhado as prévias tucanas, a tentativa de aproximação do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) com quadros históricos de seu partido – considerada
“natural” por ele –, e a novidade das federações.
Aos 79 anos, Serra afirma não ter se
decidido se vai tentar renovar o mandato, que se encerra em dezembro. Em
entrevista ao Estadão por email, o senador disse que o PSDB deve respeitar o
resultado das prévias que escolheram o governador João Doria como pré-candidato
à Presidência, mas acha que os partidos precisam se unir em torno de um nome
com chances de romper com o que classificou como “polarização entre extremos”.
Como o sr. avalia o processo de prévias
tucanas e a vitória de Doria?
Como democratas, optamos por um processo de votação interna com candidatos qualificados. Agora, há que se respeitar o resultado das nossas urnas. O foco principal do partido deve ser a busca por projetos e planos de governo estruturantes para o País.
Acredita que a terceira via possa se unir
em torno de uma candidatura única?
É fundamental que os partidos se unam em
torno de um nome com chances de acabar com essa polarização entre extremos,
cada vez mais acentuada.
Como vê esse movimento do ex-presidente
Lula de buscar diálogo com tucanos? Ele procurou o sr.?
Acho natural e importante o diálogo político. É da democracia, inclusive entre atores que não compartilham suas bandeiras e ideologia. Não fui procurado por ele.
Como avalia uma eventual chapa
Lula-Alckmin?
O Geraldo é mais indicado para responder.
O PSDB deve optar por formar uma federação?
Por conta de todas as exigências e
peculiaridades locais de partidos orgânicos, acho mais provável, neste primeiro
momento, que as federações não ocorram entre siglas médias ou grandes, mas
entre as siglas menores.
Vai tentar a reeleição?
No momento adequado, decidirei com o meu
partido.
Quais são suas prioridades neste final do
mandato?
Vou priorizar três áreas: social, meio
ambiente e fiscal. Vou focar nessas questões, com novas proposições, mas sem
deixar de atuar em projetos que preveem, por exemplo, o voto distrital, o
parlamentarismo e novo marco regulatório do pré-sal.
Em 2015, quando o sr. foi para o Senado, a
presidente era Dilma Rousseff. Depois, Michel Temer e Jair Bolsonaro. Como
avalia as mudanças do período?
Tem sido turbulento. Mas seria muito
leviano afirmar que nada foi feito. À parte opiniões técnicas sobre elas, houve
reformas macro relevantes, como o teto de gastos e a reforma da Previdência. No
campo fiscal, acho que o período demonstrou a necessidade de compromissos
políticos, sobretudo por parte do Executivo, para que o equilíbrio fiscal seja
preservado. Nas demais áreas, os últimos anos acenderam alertas. Durante um bom
tempo, muito se falou sobre o amadurecimento institucional do País. Parece que
nem tanto: certas áreas de políticas têm sido objeto de desmonte; outras
estagnaram-se. Nosso sistema de Justiça tem-se mostrado poroso a injunções
políticas de ocasião.
Como ex-chanceler, como avalia a viagem de
Bolsonaro à Rússia?
Considero completamente inoportuna. Em termos de política externa, o presidente Bolsonaro está constantemente dando sinais trocados. A Rússia é um importante parceiro comercial do Brasil, mas este não é o melhor momento para qualquer gesto que signifique complicar as relações do Brasil com outros parceiros igualmente importantes, como Estados Unidos e União Europeia, por exemplo. Parece querer mostrar que o Brasil está na contramão do mundo.
Respostas curtas e diretas.
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