O Estado de S. Paulo
Depois de uma era viciada em mitos, teremos um ganho se o debate for baseado em evidências
Evidências não é apenas a música mais
cantada nos karaokês da pequena Tóquio encravada no centro de São Paulo. A
palavra é recorrente no jargão acadêmico atual, a ponto de ser a marca da nova
geração de intelectuais brasileiros.
Dizer que o conhecimento se baseia em
evidências é, claro, uma obviedade. Toda boa pesquisa acadêmica se assenta em
fatos. Num país onde as “fake news” se tornaram moeda corrente, no entanto, a
“geração evidências” se destaca por trazer algum rigor à conversa.
Será lançado na próxima semana o livro
Reconstrução, um belo cartão de visitas da “geração evidências”. Ele reúne
ensaios sobre o Brasil escritos por intelectuais que juntam as duas
características: o amor pelos fatos e – como destaca o economista Persio Arida
no prefácio – a juventude. A média de idade dos autores é 34 anos. A orelha do
livro ficou a cargo de Arminio Fraga.
O livro, organizado por João Villaverde, Laura Karpuska e Felipe Salto – os dois últimos são colaboradores fixos do Estadão –, nasceu de uma angústia. “Todos víamos a destruição que este governo vem perpetrando em várias áreas das políticas públicas”, diz João Villaverde, professor da Fundação Getúlio Vargas e entrevistado no minipodcast da semana. “Montamos um grupo para ver o que poderíamos fazer a respeito.”
A constatação do grupo é de que há, nas
academias, nos “think tanks”, e até tramitando no Congresso, um número enorme
de políticas bem desenhadas e baseadas em evidências, do meio ambiente à
educação, da saúde ao combate às “fake news”. Os artigos de Reconstrução,
assim, não se resumem a críticas e diagnósticos. “Todos eles trazem pelo menos
uma solução prática para os problemas apresentados”, diz Villaverde.
A “geração evidências” sucede, no debate
brasileiro, não apenas à de Persio e Arminio, mas também à “geração Cebrap” – a
dos intelectuais que lutaram pela redemocratização, que teve entre seus
expoentes Fernando Henrique Cardoso e Paul Singer. Singer e Cardoso, aliás,
mantiveram um diálogo produtivo ao longo da vida, apesar de divergirem nas
posições políticas – um foi para o PT, outro fundou o PSDB. É sempre assim: os
inteligentes dialogam, enquanto os obtusos se refugiam nas bolhas da
polarização.
Como Fernando Henrique e Paul Singer, ou
Arminio Fraga e Persio Arida, alguns dos autores de Reconstrução certamente
entrarão na política – o lugar onde, nos regimes democráticos, as ideias se
tornam realidade. Serão bem-vindos. Depois de uma era viciada em mitos,
paranoia e conspirações, teremos um ganho se o debate do futuro for baseado em
evidências.
*Escritor, professor da Faap e doutorando
em ciência política na Universidade de Lisboa
Pensei que o artigo fosse sobre música de novo - Aquele ''clássico-sertanejo'' é um porre,brega demais.
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