O Globo
O presidente do Banco Central, Roberto
Campos Neto, disse que o BC está “totalmente preparado” para todas as
turbulências deste ano eleitoral. Pela avaliação dele, vários preços estão
mostrando que “o mercado está menos receoso da passagem de um governo para o
outro”, porque “provavelmente um governo que representava um risco de medidas mais
extremas está se movendo para o centro”. Campos Neto disse que não estava
fazendo análise de candidato, mas avaliando o que indicam os preços do mercado.
A pergunta que eu havia feito era sobre a eventualidade de o ex-presidente Lula, favorito em todas as pesquisas de intenção de voto, ganhar a eleição. Quis saber se esse cenário estava “precificado”, como eles dizem no mercado, ou se haveria turbulência. A resposta integral dele é bem importante.
— O que a gente pode comentar é o que a
gente captura dos preços de mercado. E nos preços de mercado o que tem
acontecido mais recentemente é uma eliminação de vários preços que mostram o
risco da passagem de um governo para outro. Mais recentemente, a gente vê,
quando olha esses preços, é que eles atenuaram. Caíram um pouco. Significa que
o mercado passou a ser menos receoso da passagem de um governo para outro. Isso
é o que a gente pode interpretar. Porque provavelmente um governo que
representava um risco de cauda, com medidas mais extremas, está se movimentando
para o centro. Essa é a nossa interpretação do que a gente captura de preços de
mercado. Lembrando que o Banco Central ganhou a posição de autonomia exatamente
para ter independência entre o ciclo político e os ciclos de política
monetária. Não cabe fazer comentários sobre o que seria cada candidato. Então
na nossa interpretação, olhando os preços de mercado, ele removeu um pouco o
risco da passagem de um governo para outro. Mas na nossa interpretação é muito
cedo ainda, muitas coisas devem acontecer ainda ao longo do processo eleitoral
— disse ele na entrevista que me concedeu ontem na Globonews e que foi ao ar às
23h30.
Roberto Campos Neto ressaltou também que a
autonomia do Banco Central foi conquistada no atual governo. Que muitos
tentaram, mas não fizeram. Os presidentes ou os ministros da economia não
quiseram abrir mão de poder. Ele disse isso quando perguntei se ele pretendia
ficar até o fim do mandato:
— Primeiro quero deixar claro que fico até
o fim do mandato. Farei tudo que estiver ao meu alcance para isso, exatamente
para a gente ter certeza de que solidificou a representatividade que o Banco
Central ganhou exatamente para atravessar o ciclo político com autonomia. Isso
é bom para este governo e qualquer governo que venha. Segundo, é preciso dizer
que a autonomia foi feita por este governo. É importante reconhecer isso. Este
governo finalizou esse processo, dando os devidos créditos ao poder
legislativo. E nesse processo o governo abre mão de poder.
Na entrevista, lembrei que o ministro Paulo Guedes tem dito que os indicadores
fiscais melhoraram, mas o BC falou em aumento do risco fiscal. Melhorou ou
piorou, perguntei:
— Essa é a pergunta que está no centro de
todos os debates dos economistas. Houve um efeito parcial da inflação no
fiscal, mas só parcial. Houve mudanças estruturais que permitiram que as contas
melhorassem. Quando nós falamos que piorou é olhando o longo prazo, e o que
está afetando o longo prazo é o baixo crescimento.
Perguntei se ele manteria o combate à
inflação, mesmo com a economia tão fria, ou se preferia suavizar a curva de
juros para atingir seus objetivos só no ano que vem:
— Nossa principal missão é a inflação.
Entendemos que a melhor forma de ajudar o crescimento sustentável e estrutural
é fazendo com que a inflação fique sob controle.
Ele não quis comentar o aumento do
desmatamento, mas disse que hoje a questão climática é importante para as
empresas e os fundos de investimento:
— A população anseia por crescimento que
seja sustentável e inclusivo.
Sobre a crise da Ucrânia, que levou o
petróleo de US$ 64 em novembro para U$ 92 na abertura de ontem, o presidente do
Banco Central disse que a tensão está sendo acompanhada de perto. A entrevista
na íntegra pode ser conferida no Globoplay, mas o que ficou claro é que o Banco
Central usará a autonomia que conquistou para exatamente descolar a política
monetária do ciclo eleitoral. Uma grande conquista.
Amém!
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