Valor Econômico
Falta de perspectiva de poder faz partido
tender ao adesismo
A eleição de outubro pode significar o fim
do PSDB. Não no sentido literal, obviamente, porque a sigla continuará a
existir após outubro, seja qual for o resultado. Mas o PSDB com bandeiras
claras a favor da estabilidade fiscal, “longe das benesses oficiais” e um dos
protagonistas da cena política, corre sério risco de afundar no pântano do
“Centrão”.
O partido tem dificuldade de expurgar de seus quadros acusados de envolvimento em corrupção. Aécio Neves dá as cartas em Minas e influencia a bancada federal. Beto Richa acabou de reassumir a presidência do partido no Paraná para construir palanque para Doria. Marconi Perillo é vice-presidente em Goiás. Sem perspectivas de voltar a cargos majoritários, eles concorrerão a deputado federal este ano e terão força nos rumos da sigla.
Se no governo Temer (MDB) as batalhas entre “cabeças- brancas” e “cabeças-pretas” foram superadas pelo projeto nacional do partido, desta vez a falta de perspectiva clara de voltar ao poder fez a bancada se render ao adesismo puro e simples ao governo. Ganham força os pragmáticos que se alimentam da proximidade do orçamento governamental para viabilizar a própria reeleição enquanto a pré-candidatura presidencial é vista com ceticismo e cristianizada.
Tudo bem que no governo Dilma (PT) o
partido flertou com a irresponsabilidade fiscal aqui e acolá como uma forma de
enfraquecer o PT, mas a direção nacional conseguia realinhar discurso e votos.
Hoje os tucanos do Congresso, local onde as posições nacionais do partido são
reverberadas, dão de ombros aos apelos. A direção criticou o governo Bolsonaro
pela PEC dos Precatórios, que deu um calote nos credores. A bancada votou a
favor. O PSDB defendeu virar oposição ao presidente Jair Bolsonaro (PL). A
reação foi uma fidelidade ainda maior ao Executivo.
O processo de definhamento é gradual e
constante desde que deixou à Presidência (veja o quadro abaixo). O PSDB chegou
a comandar oito Estados em 2010, mas hoje governa apenas três e corre risco de
não manter nenhum. Na Câmara e no Senado, a força é hoje um terço de seus
melhores dias e cairá ainda mais na janela de março.
Esta eleição pode ser o passo decisivo para
o processo de incorporação ao Centrão. No período longe do poder, o PSDB
fiou-se no antipetismo e no governo de Estados populosos, como São Paulo e
Minas Gerais, para manter-se como relevante no cenário nacional. Perdeu o
primeiro para o bolsonarismo e para a operação Lava-Jato e corre risco de perder
o segundo em outubro, puxado pela rejeição ao pré-candidato à Presidência João
Doria (PSDB).
O desafio de manter o governo paulista
nunca foi tão grande e uma série de fatores atrapalha Rodrigo Garcia, que
assume o governo em abril:
1) Geraldo Alckmin pulou o muro para ser
vice do Lula (PT) e deve fazer campanha para Fernando Haddad (PT). Ajudará a
quebrar as resistências aos petistas no interior e no eleitor de centro ao
“professor da USP”.
2) O Datafolha de dezembro mostrou que a gestão
Doria é ruim ou péssima para 38% dos paulistas e ótima/boa para 24%. O
governador, em si, tem imagem negativa, segundo pesquisas internas. Petistas e
bolsonaristas não o suportam e mesmo quem não antipatiza o acha “muito
marqueteiro”. A campanha de Garcia terá que reverter isso sem se contaminar.
3) Bolsonaro também tem alta rejeição, mas
um eleitorado fiel que pode colocar o ministro da Infraestrutura, Tarcísio
Freitas, no 2º turno - cenário dos sonhos do PT. Na direita, Arthur do Val
(Podemos, apoiado por Sergio Moro) e Vinícius Poit (Novo) podem atrapalhar
tanto Garcia como Tarcísio nessa disputa.
4) Garcia terá o maior tempo de propaganda
na TV para construir seu nome e também a campanha mais capilarizada, com apoio
de quase todos os prefeitos. Mas, nas redes sociais, é a disputa presidencial
que pauta os temas, não a estadual.
Mesmo que vença, Garcia é novo no PSDB e
fez toda sua carreira no DEM, futuro União Brasil. O peso de São Paulo o
empurrará naturalmente para uma candidatura presidencial, mas sua antiga sigla
deve ter mais estrutura do que a atual e sua influência sobre os tucanos fora
de São Paulo é pequena. Não há garantia de que fique na sigla e, não à toa, o
partido tenta que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB),
quebre a promessa de não concorrer à reeleição e mantenha-se no páreo, à espera
de uma vaga em 2026.
Saudade da rivalidade civilizada entre PT e PSDB.
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