segunda-feira, 7 de março de 2022

Poesia | Charles Baudelaire: A destruição

Sem cessar a meu lado se agita o Demônio;
Nada à minha volta como um ar impalpável;
Eu o engulo e sinto que me queima o pulmão
E o preenche de um desejo eterno e culpável.

Toma às vezes, conhecendo meu amor da Arte,
A forma da mais sedutora das mulheres,
E, sob especiosos pretextos de rufião,
Acostuma meus lábios a filtros infames.

Ele me leva assim, longe do olhar de Deus,
Ofegante e morto de cansaço, até o meio
Dos campos do Tédio, profundos e desertos,

E lança em meus olhos cheios de confusão
Vestimentas imundas, feridas abertas,
E a aparelhagem sangrenta da Destruição!

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