Para interlocutores da cúpula emedebista, candidatura da senadora blinda postulantes que evitam polarização
Por Bernardo Mello e Eduardo
Gonçalves / O Globo
Rio e Brasília - Com apoio formal da
maioria dos diretórios regionais do MDB, a pré-candidatura da senadora Simone
Tebet (MDB-MS) à Presidência convive com acenos de correligionários ao
ex-presidente Lula (PT) ou ao presidente Jair Bolsonaro (PL) em pelo menos 13
estados. Reservadamente, lideranças partidárias dizem que o desempenho tímido
de Tebet nas pesquisas, sem passar de 2% até aqui, faz com que parte dos
pré-candidatos a cargos majoritários e ao Legislativo busquem se associar aos
nomes mais competitivos por ora no cenário nacional.
Apesar desses acenos e de admitirem
possíveis traições na campanha, os caciques emedebistas mantêm o discurso
pró-Tebet para seguir a linha defendida pelo presidente nacional do MDB, Baleia
Rossi. Segundo interlocutores de Baleia, a estratégia de lançar chapa própria
ao Planalto ajuda candidatos que, por circunstâncias locais, preferem evitar
tomar lado entre Lula e Bolsonaro — caso do próprio presidente emedebista, que
tem como reduto o interior de São Paulo.
Levantamento do GLOBO apontou que 22 dos 27
diretórios do MDB externaram apoio a Tebet. Cinco estados evitam endossá-la. Em
Rondônia, o diretório é comandado por Lúcio Mosquini, vice-líder do governo
Bolsonaro na Câmara, que avalia compor um palanque bolsonarista. Nos outros
quatro — Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas —, o partido defende
apoio a Lula.
Em outros estados do Nordeste, como Bahia e Piauí, o MDB formará chapas com candidatos do PT ao governo e pretende estar no palanque do ex-presidente.
— Defendo a unidade do partido, mas ninguém
vai obrigar uma pessoa a apoiar outra. Nos estados onde Lula é forte, isso
favorece seus aliados a eleger deputados, e o MDB é um partido que busca força
legislativa — afirmou o ex-deputado Lúcio Vieira Lima, presidente de honra do
MDB baiano.
Em Sergipe, o ex-governador Jackson Barreto
se diz “pessoalmente simpático a Lula” e alinhado ao governador Belivaldo
Chagas (PSD), que apoia o petista.
— Também há pessoas mais bolsonaristas aqui
no diretório. Meu plano é ser candidato ao Senado na chapa governista. Mas isto
ainda será discutido — declarou Barreto.
Governadores hesitam
A hesitação em abraçar a candidata do MDB
se repete com os três governadores da sigla. Em Alagoas, eleito neste mês para
um mandato-tampão, Paulo Dantas (MDB) é aliado do senador Renan Calheiros, um
dos nomes mais resistentes a Tebet no partido, e já declara apoio a Lula.
No Pará, o governador Helder Barbalho
chegou a receber a senadora no estado, mas disse na última semana, ao jornal
Folha de S. Paulo, que o cenário eleitoral é de “polarização consolidada”.
Helder já recebeu declaração de apoio de Lula e mantém boa relação com o PT
local, que lançou como pré-candidato ao Senado o deputado Beto Faro, próximo ao
governador. Seu pai, o senador Jader Barbalho, principal liderança do MDB no
estado, se alinha a Renan no grupo contrário a Tebet.
Já no Distrito Federal, o governador
Ibaneis Rocha (MDB) tem feito elogios a Tebet, mas também garantiu palanque a
Bolsonaro. Flávia Arruda (PL) e Damares Alves (Republicanos), ambas
ex-ministras do atual governo, disputam a vaga ao Senado na chapa de Ibaneis.
No Rio, o MDB oscila entre Lula ou
Bolsonaro. O presidente do diretório estadual, o ex-deputado Leonardo Picciani,
é mais próximo à ala do partido que defende aliança com o PT. Já o ex-prefeito
de Duque de Caxias Washington Reis tem conversas encaminhadas para ser vice do
governador Cláudio Castro (PL), que dará palanque ao atual presidente.
Há também afinidades entre o MDB e o
palanque bolsonarista em Santa Catarina e Goiás. Nesses dois estados, o partido
manifestou apoio formal a Tebet, mas suas lideranças já calculam aderir a
Bolsonaro. O pré-candidato ao governo catarinense Antídio Lunelli (MDB), por
exemplo, antecipou seu voto no presidente num eventual segundo turno contra o
PT.
As dificuldades de Tebet envolvem ainda
dúvidas sobre emedebistas importantes que até agora são contabilizados
internamente como apoiadores da senadora. Um deles é o ex-senador Romero Jucá,
chefe do partido em Roraima. Depois de declarar apoio à candidatura própria do
partido, ele articulou uma aliança no estado entre MDB e PL para evitar o apoio
de Bolsonaro a seus adversários. Sua mulher, a ex-prefeita de Boa Vista Teresa
Surita, concorrerá ao governo com um vice do partido do presidente ad República
No Maranhão, a ex-governadora Roseana
Sarney, que também declarou apoio a Tebet, cultiva boa relação com Lula. Seu
pai, o ex-presidente José Sarney, mantém conversas com o petista e com
Bolsonaro, e transita entre as diferentes alas do MDB.
Tebet pode ter de dividir o apoio do MDB
até mesmo em seu estado, Mato Grosso do Sul. O pré-candidato emedebista ao
governo, André Puccinelli, é cortejado pela direção nacional do PT para abrir
palanque a Lula. A relação entre Puccinelli e Tebet sofreu um abalo em 2018,
quando a senadora recusou seu convite para concorrer ao governo.
Alas emedebistas pelo Brasil
Pró-Lula
Nordeste
Além dos quatro estados (Ceará, Rio Grande
do Norte, Paraíba e Alagoas) em que lideranças defendem aliança com PT no
primeiro turno, os diretórios do MDB na Bahia, Sergipe e Piauí terão candidatos
em palanques com Lula.
Pará
O PT já declarou apoio ao governador Helder
Barbalho (MDB). Lideranças do partido avaliam que o apoio de Helder a Lula pode
se tornar explícito a depender dos rumos da campanha, em que deve ter como
adversário o bolsonarista Zequinha Marinho (PL).
Pró-Bolsonaro
Centro-Oeste
Em Goiás e no DF, o MDB deve ter palanques
amigáveis a Bolsonaro.
Roraima
Romero Jucá articulou aliança local do MDB
com PL de Bolsonaro.
Rondônia
O MDB pode formar um palanque bolsonarista
com Marcos Rocha (União) ou Marcos Rogério (PL).
Santa Catarina
O pré-candidato Antídio Lunelli antecipou voto em Bolsonaro.
Apoiar Bolsonaro nesta altura do campeonato só tem um nome,mau-caratismo.
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