domingo, 15 de maio de 2022

Bruno Boghossian: O fôlego de Ciro Gomes

Folha de S. Paulo

Risco maior para pedetista não é abandono de candidatura, mas migração precoce de votos

Na eleição de 2018, Ciro Gomes sentiu um golpe quando o PSB desistiu de apoiar sua campanha. O pedetista enxergou as digitais do PT na articulação, que chamou de "desleal e traiçoeira". Agora, ele tenta reagir ao que considera um novo ataque especulativo atribuído aos petistas.

Lula procurou uma brecha para conseguir o apoio de setores do PDT ainda no primeiro turno da disputa. Pelas contas de alguns petistas, a eventual retirada da candidatura de Ciro provocaria uma migração de eleitores e daria ao ex-presidente a chance de vencer no primeiro turno. O pedetista não gostou.

Ciro aproveitou o episódio para reforçar sua contraposição a Lula e obteve um bônus de exposição para uma candidatura que parece estacionada na casa de um dígito nas pesquisas. Ele afirmou que vai continuar na corrida até o fim e vencer a eleição no segundo turno.

Ainda que o presidente do PDT, Carlos Lupi, classifique a candidatura de Ciro como irreversível, os números não favorecem o prognóstico otimista feito pelo candidato.

Apesar de contar com uma militância dedicada, o pedetista desperta entusiasmo limitado numa eleição precocemente polarizada. Na pesquisa Ipespe da última semana, só 2% dos entrevistados disseram acreditar que Ciro será eleito em outubro. Como ele aparece com 8% das intenções de voto, é possível dizer que uma boa parcela de seus eleitores não crê na vitória.

Um dos principais ativos de Ciro é virtual. O pedetista é o candidato com o maior índice de entrevistados que dizem que "poderiam votar" nele: 42%. A concentração de eleitores convictos em torno de Bolsonaro e Lula, porém, asfixia esse potencial.

O pedetista argumenta que sua saída da disputa reforçaria a polarização. Faz sentido, embora existam poucas garantias de que a manutenção sua candidatura evitará esse cenário. O maior risco para Ciro não está em negociações nos gabinetes do PT ou do PDT, mas entre os eleitores que podem migrar para Lula ou Bolsonaro já no primeiro turno.

 

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