terça-feira, 24 de maio de 2022

César Felício: Gesto lembra mais capitulação do que estratégia

Valor Econômico

Doria busca não deixar herdeiros com sua retirada

O ex-governador João Doria, do PSDB, se retirou da disputa com um "até breve", o que sinaliza que não pretende se retirar propriamente da política. Deixou claro, entretanto, que está fora da campanha presidencial deste ano, ou seja, não será candidato a vice e nem se propõe a ser um apoiador de ninguém. Irá se contentar, em suas palavras, em seguir como um "observador sereno". Diz que o Brasil precisa de uma alternativa aos extremos- ou seja, é contra um apoio a Lula e Bolsonaro- mas que "o PSDB saberá tomar a melhor decisão".

Não há nenhuma palavra, salvo as protocolares, em apoio ao atual governador de São Paulo e seu sucessor, Rodrigo Garcia. E muito menos qualquer indicação, aí nem mesmo protocolar, em favor da senadora Simone Tebet (MDB-MS). Ele não quer creditar mais ganhos aos maiores ganhadores de sua retirada.

Tanto Simone quanto Garcia são os maiores beneficiários naturais da saída de Doria da disputa. Garcia porque quer ficar desatrelado na disputa nacional, uma vez que não tem possibilidade de se aproximar nem de Lula e nem de Bolsonaro, cada qual com seu afilhado na disputa paulista. Simone porque acredita em uma possibilidade de receber um apoio do PSDB e do Cidadania por gravidade, por WO, na infinita novela das negociações da terceira via.

Ainda resta Eduardo Leite. O ex-governador gaúcho, que nunca abriu mão de nada neste processo, nem da pretensão presidencial depois da derrota nas prévias, nem de uma candidatura à reeleição fora do cargo em seu Estado, nem de ser vice de alguém, ou candidato ao Senado, ou postulante à Câmara, deve quem sabe agora finalmente se posicionar sobre seu destino. A possibilidade de entrar na disputa presidencial deve se recolocar naturalmente, mas tanta tergiversação cobra seu preço. A viabilidade da candidatura agora parece menor do que era antes.

A saída de cena de Doria obviamente foi intempestiva. Há apenas dez dias ele ameaçou judicializar a sua queda de braço com a cúpula do partido para fazer valer o resultado das prévias partidárias, na famosa carta de papel timbrado do advogado eleitoral Arthur Rollo. Naquele momento, Doria sinalizou que procuraria prolongar a contenda ao máximo. Mudou de ideia. É um sinal de que a carta de renúncia de ontem guarda muito mais um aspecto de capitulação do que de estratégia. A permanência ou não de Doria na cena política dependerá agora de variáveis que ele não controla.

Um comentário:

  1. Um advogado eleitoral chamado Arthur Rollo é um predestinado-absoluto,rs.

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