Blog do Noblat / Metrópoles
Não se debate como erradicar o
analfabetismo que atinge 12 milhões de adultos ou como melhorar a qualidade das
escolas
Nos últimos dias os educadores têm debatido quatro propostas: a) dispensar alunos de frequentarem escola para estudarem em casa, b) cobrar mensalidade dos estudantes das universidades federais porque eles são filhos de ricos, c) militarizar escolas para recuperar a disciplina e d) estender por 50 anos a adoção de cotas para ingresso no ensino superior. Estes debates dizem respeito a como evitar retrocessos para aqueles que já estão na escola, não se debate como erradicar o analfabetismo que atinge 12 milhões de adultos; nem qual estratégia para que a educação brasileira esteja entre as melhores do mundo e ricos e pobres, brancos e negros tenham acesso à escola com a mesma máxima qualidade; nem debatemos como recuperar a paz dentro das escolas, sem necessidade de militares; nem o que fazer para que os pais percebam as vantagens de seus filhos estudarem em escolas, aprendendo com outras crianças e com o mundo externo à família. O debate tem sido para evitar retrocessos, não para fazer avanços na combalida e desigual educação brasileira: de um lado, reacionários-conservadores que desejam impor retrocesso; de outro, progressistas-conservadores que não lutam por avanços: implantar um Sistema Único Público Nacional que ofereça educação com qualidade a máxima qualidade para todas nossas crianças.
Ficamos na defesa correta, mas
insuficiente, das cotas para os poucos que terminam o ensino médio, sem olhar
para a imensa perda dos que ficam para trás, sem educação de base com qualidade
suficiente para se aventurar no vestibular, mesmo com a possibilidade de cotas.
Defendemos corretamente que as cotas existam para reduzir o impacto da educação
de base desigual, mas não nos mobilizamos para que ela seja a mesma para ricos
e pobres, nem acreditamos que isto seja possível antes de 50 anos.
Acertamos ao nos opor ao retrocesso de
limitar acesso às universidades federais apenas aos que podem pagar, mas não
nos preocupamos com aqueles que nem perto chegarão dela, por serem analfabetos
para as exigências do vestibular. Tampouco adotamos a honestidade intelectual de
dizer que a universidade já é paga pela sociedade, não existe gratuidade plena,
a pergunta devia ser “quem paga” e “quem se beneficia”, e como fazer a
universidade servir aos interesses públicos e da nação. Estamos certos em não
querer que a universidade seja apenas para quem possa pagar, mas estamos
errados ao aceitar a manutenção de um sistema escolar com escolas de qualidade
apenas para quem pode pagar caro.
Não lutamos pela gratuidade das escolas de
educação de base com qualidade. Defendemos que as universidades sejam grátis,
sem defender a gratuidade das escolas de ensino médio com qualidade. Defendemos
que alguns poucos pobres possam entrar na universidade, mas não que todos eles
concluam o ensino médio em escola com a mesma qualidade dos filhos dos ricos.
Possivelmente, nem se acredita que isto seja necessário e possível.
Corretamente defendemos o direito das
crianças de famílias ricas e de classe média frequentarem escola para
aprenderem com outras crianças, mas pouco fazemos para que as crianças pobres
tenham escola com a qualidade que os filhos destas famílias terão em casa. Nem
nos preocupamos em saber onde estamos errando ao ponto dos pais desejarem tirar
os filhos da escola.
Reagimos ao absurdo de ocupar as escolas
com militares, mas não reconhecemos os erros que cometemos ao tolerar a
indisciplina, devido a erros pedagógicos, dominação sindical, desprezo à
educação por parte de governos e educadores. Não apresentamos, não lutamos nem
praticamos métodos que deixem a escola funcionar ordeira e respeitosamente, sem
necessidade de ocupação militar.
Ao observar este debate, percebemos que no
Brasil o progressista é conservador: defende conceitos arraigados, interesses
sindicais e eleitorais, e direitos adquiridos pelos que já têm acesso à
educação, ignorando os excluídos que vão ficando abandonados.
*Cristovam Buarque foi senador, ministro e
governador
É,o importante seria o ensino de qualidade na base,mas tá difícil.
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