Por Pedro Venceslau / O Estado de S. Paulo
Em entrevista ao ‘Estadão’, Bruno Araújo afirma ainda que reunião da executiva que definirá aliança ocorrerá ‘no prazo da política’
Após o ex-governador João Doria abrir mão de sua pré-candidatura e a cúpula do MDB selar o apoio à senadora Simone Tebet (MS), o PSDB inicia agora a última etapa de negociação antes de fechar a aliança com a legenda.
Em entrevista ao Estadão, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, disse que a “quase totalidade” do partido defende a tese de que os tucanos devem abrir mão de um nome próprio, apesar de ainda existir um foco de resistência. A reunião da executiva, que estava marcada para essa terça-feira, 24, ainda não tem data para acontecer, segundo Araújo. “O prazo será o da política”, afirmou.
Para
sacramentar o acordo, no entanto, o PSDB colocou uma condição: que o MDB apoie
seus candidatos a governador no Rio Grande do Sul, em Mato Grosso do Sul e em
Pernambuco. “Esses três Estados são fundamentais para avançarmos nessa
construção. Só vai ter sentido formalizarmos a reunião da executiva quando essa
construção política e programática estiver consolidada”, disse Bruno Araújo.
Em
caso de consenso, o presidente do PSDB afirmou considerar “natural” que o
candidato a vice na chapa de Simone Tebet seja tucano. “Mas esse é o último
enredo neste episódio”, disse.
Leia a entrevista:
A proposta
de o PSDB apoiar Simone Tebet está pacificada no partido?
Estamos
em um processo de construção. Eu diria que quase a totalidade do partido
gostaria de ter uma candidatura própria, porque isso é da natureza do PSDB
desde1989. Mas a mesma totalidade tem a compreensão que são os acordos que
mantêm a atividade política de pé. É público que o (então)
governador João Doria, eu e o (então)
vice-governador Rodrigo Garcia levamos ao presidente Michel Temer e ao Baleia
Rossi (presidente do MDB)
em dezembro do ano passado uma proposta de aliança. Com o gesto de dignidade de
João Doria nós damos sequência a esse processo de construção.
O que
falta para o PSDB e o MDB selarem a aliança?
Depois
do gesto do Doria, há três pilares nesta construção. O primeiro o MDB superou
nesta terça-feira quando a executiva confirmou o nome de Simone Tebet como
pré-candidata. Isso dissipa as dúvidas com relação à sustentabilidade política
da candidatura dentro do partido. Esse assunto está superado. O segundo pilar é
o programa de governo. O ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, que liderou o
processo de construção do programa de governo da pré-candidatura do PSDB, vai
agora compatibilizar uma construção pública de compromissos com MDB e
Cidadania. Temos muitas visões comuns. O programa do PSDB precisa ser
incorporado nessa composição política. O terceiro pilar é a reciprocidade nos
palanques regionais que são fundamentais para o PSDB. O Rio Grande do Sul, onde
a liderança de Eduardo Leite é fundamental na eleição estadual. A parceria com
o MDB é vista por nós como sendo fundamental. Isso se repete no Mato Grosso do
Sul, Estado da senadora Simone Tebet e governado pelo PSDB. Não nos parece
coerente que não haja essa unidade. E Raquel Lyra em Pernambuco, que é uma das
apostas nossa desta renovação de lideranças do PSDB. Esses três Estados são
fundamentais para avançarmos nessa construção. Só vai ter sentido formalizarmos
a reunião da executiva quando essa construção política e programática estiver
consolidada.
Quando
será a reunião?
Não
vamos mais criar a expectativa de prazos. Os prazos nos desgastaram muito com a
opinião pública. O prazo será o da política.
Há
resistência do MDB em apoiar o PSDB nestes três Estados?
Destacamos
um conjunto de parlamentares nossos que vão sentar com o MDB nessa construção.
Eventuais resistências são naturais da política, mas o PSDB está sentando à
mesa para discutir (o apoio a)
uma candidatura que não seja nossa pela primeira vez desde 1989. O PSDB foi
fundado com o princípio de não ser fim em si mesmo. O fim nosso é o Brasil.
Pelo País estamos dispostos a avançar numa aliança.
Além do
apoio do MDB nestes três Estados, o PSDB também reivindica a vaga de vice de
Simone Tebet?
Se
acontecer a consolidação dessa construção, me parece absolutamente natural. Mas
esse é o último enredo neste episódio. Tanto é que não citei isso como um dos
pilares neste processo de construção.
Ventilou-se
a possibilidade de o ex-governador João Doria ser o vice de Simone. Essa
possibilidade está na mesa?
João
Doria teve uma atitude generosa, digna e politicamente inteligente. Ele ficou
no PSDB maior do que era como pré-candidato. O ex-governador passa a ser uma
voz mais poderosa e importante do que como pré-candidato no meio de um ambiente
de disputas internas. Será uma voz importante sobre o que o partido vai fazer
daqui para frente.
Há
resistências sobre a possibilidade de Doria ser o vice ou isso nem está
colocado?
Não
vejo resistências. Hoje o PSDB é credor do gesto de João Doria.
O senador
Tasso Jereissati e o ex-governador Eduardo Leite são opções para ser vice?
Estamos
no campo da especulação, mas o senador Tasso tem tamanho para ser candidato a
presidente da República. Tem o Eduardo, que disputou as prévias, e outras
lideranças nossas, como a senadora Mara Gabrilli. Essa será a última etapa. Não
vão faltar alternativas.
Qual a
força do bloco que resiste no PSDB à tese de apoiar Simone?
É
uma discussão legítima que no conteúdo pode representar o sentimento das raízes
do partido, mas na forma está reduzida. Há compreensão da sólida maioria do
partido de que há a construção de um compromisso político trazido por um
conjunto de partidos. A maioria do partido tem a compreensão de que temos um
acordo político em andamento.
Descarta a
possibilidade de uma reviravolta na reunião da executiva do PSDB?
Respeito
o tempo das coisas. O que eu creio é que quando houver a reunião da executiva
já teremos uma posição muito clara de qual será o nosso caminho, mesmo que
eventualmente haja divergências. A reunião vai acontecer quando essa decisão
estiver amadurecida no partido com a construção dos pilares que citei.
Já que o
PSDB não terá candidatura própria, os quadros do partido estarão liberados para
apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou o presidente Jair
Bolsonaro?
A
orientação é seguir de forma coletiva a candidatura apoiada pelo partido. Mesmo
com candidaturas próprias tivemos casos ao longo da campanha de faltar firmeza
no apoio local. Mas do ponto de vista institucional não vamos apoiar um
candidato de mentirinha.
Como
recebeu a declaração do ex-senador Aloysio Nunes de que vai apoiar Lula no 1°
turno?
O
senador Aloysio é um dos quadros que mais respeito na vida pública. Tenho
discordância em relação à opção que ele fez nesse momento, mas guardo de forma
respeitosa sua opinião.
Não teme
que o PSDB perca protagonismo sem um candidato próprio ao Palácio do Planalto?
O
PSDB está pagando a conta da eleição presidencial de 2018. A redução de quadros
e do tamanho do partido se estabeleceu com o resultado tímido que o PSDB teve
na eleição presidencial. Não é o fato de ter candidatura que fixa o
posicionamento político no Parlamento. Não é a eleição presidencial que vai
marcar a unidade nas Casas Legislativas.
Em 2018 o
PSDB errou na estratégia ou foi a conjuntura que tornou impossível qualquer
chance de vitória do ex-governador Geraldo Alckmin?
A
condução da campanha não foi do PSDB, mas do governador Geraldo Alckmin. O PSDB
confiou a ele a autonomia plena. Ele não só era candidato à Presidência da
República, mas também presidente do partido. Aglutinava todo o poder e força
política. Estamos pagando o preço de um resultado eleitoral tímido. Foram mais
erros do que acertos nas decisões que foram tomadas.
O PSDB
errou em 2018 ao focar nas críticas a Bolsonaro em vez de ao PT?
Os
candidatos nossos que venceram para governador tiveram um discurso mais firme.
Estamos colhendo os efeitos colaterais daquela eleição.
Como vê o
futuro político de Doria?
Está
tudo muito recente. A única coisa certa é que ele tem um futuro político
sólido.
Volte pro seu reduto Doria.
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