Correio Braziliense
Em desvantagem nas pesquisas,
declarações de Bolsonaro reforçam as suspeitas de que prepara um golpe de
estado para se manter no poder, caso perca as eleições. É um momento perigoso
No embalo das pesquisas e dando sequência à
coluna de sexta-feira (Quando a fortuna governa a política, e a virtude, não),
voltamos ao clássico dos clássicos da política, O Príncipe, de Nicolau
Maquiavel, para falar do governo Bolsonaro e das próximas eleições. O astuto
florentino foi associado ao vale tudo na política por uma frase que lhe é
atribuída, mas que nunca dissera: “Os fins justificam os meios”. Essa
interpretação errônea (ou de má-fé) é fruto do seu realismo, ao desvincular o
Estado do Direito Divino.
É lugar comum o conselho atribuído a Maquiavel de que o mal deve ser feito de uma só vez. “Por isso, é de notar-se que, ao ocupar um Estado, deve o conquistador exercer todas aquelas ofensas que se lhe tornem necessárias, fazendo-as todas a um tempo só para não precisar renová-las a cada dia e poder, assim, dar segurança aos homens e conquistá-los com benefícios. Quem age diversamente, ou por timidez ou por mau conselho, tem sempre necessidade de conservar a faca na mão, não podendo nunca confiar em seus súditos, pois que estes nele também não podem ter confiança diante das novas e contínuas injúrias”.
Arremata sabiamente: “Portanto, as ofensas
devem ser feitas todas de uma só vez, a fim de que, pouco degustadas, ofendam
menos, ao passo que os benefícios devem ser feitos aos poucos, para que sejam
mais bem apreciados. Acima de tudo, um príncipe deve viver com seus súditos de
modo que nenhum acidente, bom ou mau, o faça variar. Porque, surgindo pelos
tempos adversos a necessidade, não estarás em tempo de fazer o mal, e o bem que
tu fizeres não te será útil — eis que, julgado forçado, não trará gratidão”.
O Príncipe era o livro de cabeceira de
Napoleão Bonaparte, cujos comentários sobre a obra estão acessíveis em algumas
boas edições. Não conheço político que não tenha a obra prima de Maquiavel.
Bolsonaro e seu estado-maior, formado por generais de quatro estrelas, não
devem ser exceções.
Entretanto, pode-se concluir que Bolsonaro
está fazendo tudo errado. Governou o tempo todo contra a maioria da opinião
pública e ofensas ao Supremo Tribunal Federal (STF), além da imprensa e dos
adversários. Agora, às vésperas das eleições, tenta oferecer benefícios de uma
só vez, o que não está conseguindo, diante da conjuntura adversa. Nem mesmo
para seus aliados mais orgânicos, como os caminhoneiros e os policiais, cujas demandas
estão acima das possibilidades reais do governo.
Maquiavel dizia que “contra a inimizade do
povo um príncipe jamais pode estar garantido, por serem muitos; dos grandes,
porém, pode se assegurar porque são poucos”. As pesquisas eleitorais, porém, estão
tendo um efeito corrosivo junto aos aliados políticos de Bolsonaro, porque sua
vantagem estratégica no Brasil meridional, onde está a sua mais sólida base de
sustentação, está sendo reduzida progressivamente pelo ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Em contrapartida, a vantagem de Lula se
ampliou tremendamente no Nordeste, o eixo geográfico da aliança de Bolsonaro
com os caciques do Centrão, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), e
o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mestres da baldeação política.
Governo civil
Essa desvantagem de Bolsonaro no Nordeste
(17% contra 56% de intenções de votos a favor de Lula) se reproduz em outros
segmentos importantes do eleitorado, segundo o Datafolha de quinta-feira
passada: mulheres, 23% a 49%; jovens (16 a 24 anos), 21% a 58%; baixa renda
(até dois salários mínimos), 20% a 56%; pretos, 23% a 57%; desempregados, 16% a
57%; beneficiários do Auxílio Brasil (ex-Bolsa Família): 20% a 59%.
A situação somente se inverte entre
evangélicos, onde a vantagem de Bolsonaro se reduziu a quase um empate técnico:
39% contra 36% de Lula. Mas se mantém bem dilatada entre os empresários, 56% a
23%, e os eleitores de renda acima de 10 salários mínimos, 42% a 31% contra
Lula.
Na medida em que sua expectativa de poder se
reduz, o sistema de alianças de Bolsonaro ameaça ruir: “O pior que pode um
príncipe esperar do povo hostil é ser por ele abandonado. Mas dos poderosos
inimigos não só deve temer ser abandonado, como também deve recear que os
mesmos se lhe voltem contra, pois que, havendo neles mais visão e maior
astúcia, contam sempre com tempo para salvar-se e procuram adquirir prestígio
junto àquele que esperam venha a vencer”, ensina Maquiavel.
Bolsonaro não consegue domar a inflação.
Como o cenário eleitoral permanece adverso, mantém sua rota de colisão com as
urnas eletrônicas. Recrudesceu os ataques aos ministros Edson Fachin,
presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e Alessandro de Moraes, que o
substituirá durante as eleições. Também faz ataques diretos ao Supremo Tribunal
Federal (STF) e ameaça não cumprir suas decisões, o que é uma quebra do
juramento de posse na Presidência. Com isso, suas declarações reforçam as
suspeitas de que prepara um golpe de estado para se manter no poder, caso perca
as eleições. É um momento perigoso.
Ao falar dos governos civis, Maquiavel
tratou do assunto: “Amiúde esses principados periclitam quando estão para
passar da ordem civil para um governo absoluto (…), porque os cidadãos e os
súditos, acostumados a receber as ordens dos magistrados, não estão, naquelas
conjunturas, para obedecer às suas determinações, havendo sempre, ainda, nos
tempos duvidosos, carência de pessoas nas quais ele possa confiar”. Fica a
dica.
Estarei de volta no primeiro domingo de julho.
Diante da ameaça de golpe o levante popular deve ser organizado apartir desta premissa, não podemos enquando dirigentes do povo atrasar ainda mais essa possibilidade,. Defender a Democracia só com o povo nas ruas.
ResponderExcluirFaltou apresentar a percentagem dos homossexuais contra Bolsonaro,parece que é mais de 70%,é a categoria que mais rejeita o Bozo.
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