O Globo
Se as pesquisas continuarem a apontar
vitória de Lula no primeiro turno, Bolsonaro vai antecipar sua tentativa de
golpe para o dia 7 de setembro, mas não vai dar certo
Se as pesquisas continuarem
mostrando que o crescimento de Lula se consolida, aumentando a possibilidade de
vitória já no primeiro turno eleitoral, Jair Bolsonaro vai antecipar sua
tentativa de golpe para o dia 7 de setembro. Será uma nova setembrada, como a
do ano passado, mas desta vez com mais violência e sem freios. Não tenha dúvida
de que o presidente do Brasil vai incentivar a invasão do Supremo Tribunal
Federal e do Tribunal Superior Eleitoral. De maneira mais clara e direta do que
em 2021. Mas, desde já é bom que ele saiba que não vai dar certo. Pior. Além de
errado, vai significar o fim de sua carreira política e muito provavelmente o
seu encarceramento.
Bolsonaro deveria aproveitar
que está nos Estados Unidos e prestar atenção no que acontece desde
quinta-feira no Congresso americano. Um comitê suprapartidário investiga a
tentativa de obstrução da diplomação de Joe Biden com a invasão violenta do
Capitólio no dia 6 de janeiro do ano passado. Invasão estimulada por Donald
Trump, objeto número 1 das investigações. Como uma CPI no Brasil, o comitê não
tem poder de Justiça, não podendo mandar prender o golpista frustrado. Mas pode
remeter suas conclusões para o Judiciário, que aliás já avisou que vai usar
todos os dados e provas coletados para subsidiar uma investigação própria.
O comitê, que fez audiências com diversos envolvidos no episódio, inclusive membros do governo Trump e alguns de seus familiares, como sua filha e genro, já apontou onde o ex-presidente se situava no episódio da invasão do Capitólio. Ele estava “no centro” da tentativa de golpe. Dados novos somam-se a outros já vastamente conhecidos como o discurso que fez incentivando os direitistas que se manifestavam em frente à Casa Branca para marchar sobre o Congresso que naquele momento se reunia para referendar a vitória eleitoral de Biden. O que Trump queria, afirmou o comitê, era impedir pela força que a vontade do povo manifestada em eleição se concretizasse.
Trump pode ser o
primeiro presidente americano preso. Por muito menos, Richard Nixon quase teve
este destino no episódio de Watergate. Nixon foi perdoado pelo seu sucessor,
Gerald Ford. Trump não terá a mesma clemência de Biden se vier a ser condenado.
No Brasil, Bolsonaro poderá ser o segundo presidente encarcerado. Também não se
configura provável no horizonte um indulto ou uma graça em seu favor.
No Brasil, em 7 de
setembro do ano passado, Bolsonaro chamou o ministro Alexandre de Moraes de
canalha, disse que não atenderia mais a suas ordens e insuflou contra o Supremo
as massas ensandecidas para as quais discursou em Brasília e em São Paulo.
Agora, o presidente convoca mais uma vez seus apoiadores para irem às ruas na
próxima data cívica para socorrê-lo, pobrezinho, acuado que está pelo STF que
não o deixa governar.
Nas suas palavras, numa entrevista que
deu ao SBT, as pessoas irão às ruas no 7 de setembro, não para celebrar o
bicentenário da independência, mas “para mostrar de que lado estão”. Ele disse
ainda que seus apoiadores organizam nova manifestação para “sensibilizar o
Judiciário”. Típica linguagem de torturador, mafioso ou miliciano antes de
descer a porrada.
A conspiração de Donald
Trump nos Estados Unidos para impedir a troca de poder é semelhante a que
Bolsonaro promove aqui quando se avizinha cada vez de maneira mais clara sua
derrota eleitoral. Nos EUA, Trump atacou o voto pelos correios, aqui são as
urnas eletrônicas. A ideia de Bolsonaro é abusada e obtusa não por ser
antidemocrática, mas porque visa apenas e tão somente atender ao desejo de um
maluco desalmado, egocêntrico, autoritário que não suporta a ideia de perder a
eleição.
Lá, Trump terá de se
haver com o Congresso, com a Justiça e com o povo americano, que quase viu sua
vontade frustrada. Aqui, mais cedo ou mais tarde, Bolsonaro será confrontado
pelas dezenas de crimes que cometeu no exercício da Presidência e que o
Congresso jamais teve coragem de interromper. Lá, os invasores do Capitólio
estão sendo identificados e presos, um a um. Aqui, poderemos ver desfecho
semelhante se a alucinação presidencial virar fato.
Méritos de Ciro
Nove das dez melhores escolas do Brasil,
segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), são públicas e
são do Ceará. E não é de hoje, há anos o Ceará vem mantendo e melhorando este
desempenho. Impossível negar que este é um mérito dos irmãos Gomes, Ciro e Cid,
com a colaboração de governadores do PT e do PSDB que os sucederam no comando
do estado. Se Lula ainda quiser tentar uma aproximação com Ciro, o único
caminho é pela educação pública.
Desfaçatez
A reportagem de Patrik Camporez e Aguirre
Talento, do GLOBO, sobre o uso do Ministério da Saúde pelo filho do ministro
Marcelo Queiroga para alavancar sua candidatura a deputado federal pela
Paraíba, mostra como é desqualificado este governo e como são infames o pai Queiroga e o filho Queiroguinha. O
filho passou a intermediar verbas do ministério do pai para prefeitos de
cidades paraibanas onde vai cabular votos. Uma vergonha registrada. Um crime
eleitoral evidente. Uma desfaçatez.
Supervivos
Há três semanas, num encontro com
empresários de supermercados, Bolsonaro foi aplaudido e ouviu vivas
quando, aos
gritos e em meio a palavrões, disse que a eleição de
outubro será conturbada. Na quinta, agora, pediu ao mesmo público que reduza
seus lucros “ao mínimo possível” para não estimular a inflação. Dessa vez o
encontro foi virtual, por isso foi mais fácil para estes supervivos se fingirem
de mortos. Não se ouviu hurras nem aplausos, só um sorrisinho galhofo quando o
ex-liberal Paulo Guedes propôs nova tabela de preços só em 2023.
Comerciantes
Os aplausos, os gritos de apoio e as
risadas para as piadas grotescas feitas no discurso abestalhado e golpista de
Bolsonaro quarta-feira na Associação Comercial do Rio de Janeiro não provam
nada. A não ser uma coisa: nossos comerciantes estão muito mal representados na
sua agremiação de classe. Porque, claro, você sabe, a este tipo de
encontro só
comparecem os que querem aplaudir. Quero ver como
reagiriam se o presidente fizesse a eles um apelo para reduzir seus lucros ao
mínimo.
Calm Waters
Numa entrevista a Stephen Colbert, do The
Late Show, Robert De Niro disse que desde a posse de Joe Biden dorme mais tranquilo. De
acordo com o ator dono de dois Oscar, que nunca escondeu seu horror a Donald
Trump, Biden levou os EUA para águas calmas, e que esta sempre foi a ideia (He got us to calm waters, that was the whole
idea). Ele tem razão. Lá, como aqui, apenas os turbulentos gostam
de turbulência.
Só Moro?
Está em vigor e deve ser respeitada por
todos a lei que exige que um candidato tenha pelo menos um ano de domicílio
eleitoral e outros três meses de vínculo com a cidade por onde vai concorrer. O
PSOL anunciou que vai impugnar a candidatura de Tarcísio de Freitas, que
concorre ao governo de São Paulo embora tenha morado nos últimos oito anos em Brasília. Vamos
ver. Eduardo Cunha, que foi deputado pelo Rio em sucessivos mandatos desde
2002, disputa uma vaga na Câmara também por São Paulo. Se fosse para valer a
lei do domicílio eleitoral, Cunha poderia ser no máximo candidato pelo Paraná,
já que ficou preso em Curitiba alguns anos. Na História, vale citar o caso de
dois ex-presidentes. O gaúcho Getulio Vargas foi eleito senador por dois estados
e deputado por seis estados, no mesmo pleito e por dois partidos distintos. E o
maranhense José Sarney foi eleito senador pelo Amapá já com as regras
eleitorais atuais em vigor.
Fala sério
Advogados ligados a sertanejos denunciados
por fazerem shows caríssimos (com dinheiro público) em cidades pobres dizem que
os eventos dão dinheiro para os municípios. Alegam que os shows atraem turismo regional importante.
Está certo. Imaginem então quanto a mineira Conceição do Mato Dentro levantaria
com os turistas de cidades vizinhas, como Santana do Riacho (4.315 habitantes),
Morro do Pilar (3.399), Ferros (9.949) e Dores de Guanhães (5.154), no show de
R$ 1,2 milhão de Gusttavo Lima que quase contratou.
Bandido remunerado
Projeto de Lei que atualiza o Código do
Processo Penal Militar à luz da Constituição de 1988 prevê que militar que
perder o posto ou patente em razão de sentença penal condenatória deixará para
seus beneficiários pensão correspondente ao posto ou graduação que possuía. O
projeto de autoria do deputado Coronel Tadeu (PL) passou por todas as comissões
necessárias e já está no plenário da Câmara para ser votado. O texto determina
que juiz que condenar
militar criminoso deve deixar essa determinação expressa
na sua sentença. Trata-se de um estímulo ao crime ou não?
Público x privado
O processo disciplinar do vereador Gabriel Monteiro, acusado de abuso de menor, revelou o que não deveria ser surpresa para ninguém em se tratando de um bolsonarista. Todos os advogados do réu são servidores comissionados do seu gabinete. Trata-se da velha prática de misturar o público com o privado. Na prática, isso significa que é a Câmara, ou o cidadão carioca, quem está pagando a defesa de Monteiro.
Está tudo dominado!
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