O Globo
Funai é alvo de militarização e desmonte no
governo Bolsonaro
Em setembro de 2019, Bruno Pereira
articulou uma grande operação para reprimir o garimpo ilegal no Vale do Javari.
A força-tarefa destruiu cerca de 60 balsas que operavam em território indígena.
Dias depois, o indigenista foi punido pelo serviço exemplar: perdeu o cargo de
coordenador de Índios Isolados da Funai.
O desaparecimento de Bruno e do jornalista
Dom Phillips jogou luz sobre o desmonte da autarquia. Desde a posse de Jair
Bolsonaro, a Funai foi capturada pela causa anti-indigenista. Passou a atuar
contra os povos que deveria proteger.
Um dossiê divulgado nesta semana descreve o
desmanche em detalhes. O documento pinta um quadro de asfixia orçamentária,
leniência com o crime e perseguição a servidores de carreira.
No dia em que vestiu a faixa, Bolsonaro transferiu a Funai para o Ministério dos Direitos Humanos, entregue à pastora Damares Alves. A mudança foi revertida pelo Congresso, embora o então ministro da Justiça, Sergio Moro, tenha manifestado desinteresse em reaver o órgão.
Depois de seis meses sob as ordens de um
general, a Funai passou ao comando do delegado Marcelo Xavier. Ex-assessor da
bancada ruralista, ele radicalizou o aparelhamento da autarquia. Das 39
coordenações regionais, hoje só duas têm um servidor como chefe titular. Outras
17 estão nas mãos de militares, e quatro são chefiadas por policiais.
A militarização multiplicou os episódios de
truculência e abuso de autoridade. No ano passado, o coordenador do Vale do
Javari, um tenente reformado do Exército, foi gravado incentivando líderes
locais a “meter fogo” em índios isolados.
Na ânsia de bajular o chefe, o presidente
da Funai chegou a remover o vermelho do logotipo do Museu do Índio. A cor se
referia a um grafismo do povo Kadiwéu, e não ao comunismo que assombra o
capitão.
O dossiê também dá números ao esvaziamento
do órgão. Em 2020, a Funai tinha mais cargos vagos (2.300) do que profissionais
em atividade (2.071). Isso é resultado da falta de concursos e do afastamento
voluntário de servidores como Bruno Pereira, que preferiu atuar no terceiro
setor.
O desmonte não é fruto do acaso. Na
campanha de 2018, Bolsonaro avisou que não demarcaria “mais um milímetro” de
terra indígena. E acrescentou:“Vou dar uma foiçada na Funai, mas uma
foiçada no pescoço, Não tem outro caminho”.
Bolsonaro deu uma ''foiçada'' em tudo,destruição total.
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