O Globo
Quando Ciro Gomes concorreu ao Planalto
pela primeira vez, em 1998, o real valia um dólar e o litro da gasolina não
passava de 80 centavos. O Brasil mudou, mas ele não desistiu do sonho. Aos 64
anos, lançará sua quarta candidatura presidencial.
Ao que tudo indica, será uma campanha mais
solitária. Ciro é o único presidenciável relevante que ainda não conseguiu
fechar alianças. Foi esnobado pela chamada terceira via e agora começa a
amargar traições no próprio partido. No último Datafolha, apareceu com 7% das
intenções de voto, bem atrás de Lula e Jair Bolsonaro.
“Não sou o favorito. Estou numa guerra
contra o sistema”, desabafou ontem, em sabatina na rádio CBN. “Se eu ganhar,
venci o sistema. É quase impossível, mas ciclicamente o povo brasileiro produz
essas disrupturas”, disse.
Na dúvida, o pedetista toca seu realejo. Promete retomar 14 mil obras paradas, gerar 5 milhões de empregos, socorrer 65 milhões de endividados. Para tirar a numeralha do papel, projeta arrecadar R$ 300 bilhões por ano com o corte de isenções fiscais e a taxação de lucros, dividendos e grandes fortunas.
A mordida nos super-ricos não é a única
ideia com potencial para assustar a elite. Ciro pretende revogar a autonomia do
Banco Central, que define como “criminosa”. Na CBN, ele garantiu que os atuais
diretores, com mandato até o fim de 2024, renunciarão no dia de sua posse. E se
não renunciarem? “A prisão em flagrante é uma ferramenta para quem comete crime
continuado”, ameaçou.
O pedetista também flertou com o
bonapartismo ao tentar explicar sua fórmula para governar sem o Centrão. Propôs
“botar o povo na jogada” e convocar plebiscitos para enquadrar um Congresso
hostil à sua plataforma. “Só quero ser presidente se for para mudar”,
justificou.
O isolamento de 2022 não foi propriamente uma escolha. Até o mês passado, Ciro tentou negociar o apoio de chefões partidários como Gilberto Kassab e Luciano Bivar. Frustrado com as recusas, refugiou-se no discurso antissistema. Ontem ele passou o dia em São Borja, berço histórico do getulismo. Diante do túmulo de Leonel Brizola, fez outro desabafo: “Coragem é um atributo que falta extensamente aos nossos dirigentes”.
Coragem,Ciro,não será desta vez.
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