O Globo
Kassio Nunes Marques já vestiu a toga há um
ano e meio, mas continua empenhado em mostrar serviço ao governo. Ontem o ministro
do Supremo deu mais uma mãozinha a Jair Bolsonaro. Numa canetada, anulou a
cassação de Fernando Francischini, deputado estadual no Paraná.
O bolsonarista perdeu o mandato em outubro
de 2021. Tornou-se o primeiro político cassado por difundir mentiras contra as
urnas eletrônicas. Ao condená-lo, o TSE estabeleceu um precedente para punir a
indústria das fake news. Ao anular o julgamento, Nunes Marques voltou a
transformar a internet numa terra sem lei.
Francischini conquistou três mandatos de deputado pelo sistema eletrônico de votação. Isso não o impediu de propagar desinformação contra as urnas. No dia do primeiro turno de 2018, ele relatou uma suposta fraude para impedir a vitória de Bolsonaro. Era tudo invenção para minar a credibilidade da Justiça e inflamar a militância de extrema direita.
Acionado pelo Ministério Público Eleitoral,
o TSE concluiu que o bolsonarista cometeu abuso de poder e uso indevido dos
meios de comunicação. Por 6 votos a 1, ele perdeu o mandato e ficou inelegível
por oito anos.
Ao anular a condenação de Francischini,
Nunes Marques afirmou que a Justiça não pode demonizar a internet. A frase
revela uma tentativa de inverter papéis. Na verdade, foi o deputado que usou a
internet para demonizar a Justiça.
A liminar de Nunes Marques não representa
apenas um ultraje ao TSE. Seu autor também afrontou três ministros do Supremo
que participaram daquele julgamento: Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís
Roberto Barroso.
Em conversa reservada, um dos ministros que
votaram contra Francischini classificou Nunes Marques como um “quinta-coluna”.
No momento em que o bolsonarismo ataca a cúpula do Judiciário, ele se alinha à
cruzada contra os próprios colegas.
A liminar teve efeito imediato. Ontem à
noite, Bolsonaro se sentiu livre para repetir as mentiras do deputado
paranaense. Mais cedo, o ministro Fachin disse que atentar contra a Justiça
Eleitoral é atentar contra a democracia. Ao rasgar o veredicto do TSE, Nunes
Marques voltou a mostrar de que lado está.
Kassio e Jair são da mesma laia.
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