Folha de S. Paulo
Presidente recorre a medidas temporárias e
aborto para contornar mal-estar com economia
Aconselhado por
um marqueteiro, Jair Bolsonaro ajustou o discurso para tentar melhorar seus
índices entre os eleitores de baixa renda. Num evento em Maceió, ele citou
realizações do governo, disse ter "um olhar especial para os mais
humildes" e repetiu a promessa de aumentar o Auxílio Brasil para R$ 600.
O antigo personagem não ficou para trás. Após listar "coisas materiais", o presidente encerrou o discurso falando de "coisas imateriais, que têm a ver com nosso espírito". Arrancou aplausos ao se dizer contra o aborto, a liberação das drogas e o que chamou de ideologia de gênero.
Bolsonaro precisa que os brasileiros mais pobres esqueçam que ficaram mais pobres —pelo menos até outubro. Por um lado, o governo fabrica medidas temporárias para aliviar o peso da inflação sobre a população mais vulnerável. É o caso do Vale Gás turbinado e do bônus pago aos beneficiários do Auxílio Brasil, que só valem até o fim de 2022.
Em outra frente, Bolsonaro segue uma rota
conservadora para contornar o mal-estar com a economia. Ele recorreu a essa
caixa de ferramentas na quinta-feira (23), assim que foram divulgados os
números da última pesquisa do Datafolha. Em menos de quatro horas, Bolsonaro
fez dez
publicações críticas ao aborto realizado por uma menina de 11 anos em
Santa Catarina.
O assunto é um conhecido artifício de
Bolsonaro para agitar o eleitorado evangélico, mas ressoa além das paredes dos
templos. A proibição total do aborto tem apoio
maior na população mais pobre, que recebe até dois salários mínimos por
mês: 39% são contra a interrupção voluntária da gravidez. Esse índice fica em
24% na faixa seguinte e cai para 17% entre os brasileiros que ganham mais de
cinco salários.
O presidente quer convencer o eleitorado de
que a economia não é a única questão em jogo nas urnas. Por isso, ele deve
levar ao palanque temas da agenda conservadora, da segurança pública e até da
corrupção, apesar dos efeitos incertos da prisão do ex-ministro Milton Ribeiro.
Poucos se preocupam com ''ideologia de gênero'',que na verdade nem existe,a direita politizou e distorceu uma questão de ordem íntima e pessoal.
ResponderExcluir