quarta-feira, 1 de junho de 2022

Bruno Boghossian: O apetite pela reeleição

Folha de S. Paulo

Por que um presidente sem soluções para o país pede mais quatro anos de mandato?

Para um político em busca da reeleição, Jair Bolsonaro demonstra um desinteresse curioso pelo ato de governar. O presidente abriu a semana com um sobrevoo na região atingida pela chuva em Pernambuco. Foi econômico ao indicar soluções para a tragédia e se saiu com um comentário resignado: "Infelizmente, essas catástrofes acontecem. Um país continental tem seus problemas".

Apontar problemas é um talento especial de Bolsonaro. Ele admitiu que políticos têm responsabilidade pela ocupação desordenada das cidades, mas dividiu a culpa e afirmou que "a população poderia colaborar", evitando áreas de risco. Faltou lembrar que seu governo congelou a construção de novas casas populares e murchou investimentos em programas habitacionais.

O presidente também parece ter desistido de procurar caminhos para amenizar o impacto da inflação. Nesta terça-feira (31), Bolsonaro sugeriu que os brasileiros orem e aguentem a escalada de preços. "A gente conta com a população, com a sua resiliência, com a sua fé e a sua força para vencer esse obstáculo."

Nem os cobiçados votos dos caminhoneiros despertam o presidente. Ao defender medidas para segurar a alta dos combustíveis, Bolsonaro praticamente reconheceu que topa fazer um racionamento de diesel caso essas manobras levem a um desabastecimento. "Você vai fazer uma campanha para economizar, né?"

Os passeios de jet ski, as marchas religiosas e as ameaças golpistas deixaram Bolsonaro sem tempo para trabalhar. Depois de mais de 1.200 dias no cargo, o presidente disse que não sabe como funciona a formação de preços da Petrobras. "A tal da paridade de preço internacional: queremos saber a mecânica disso."

Os eleitores de Bolsonaro podem se perguntar por que um governante sem nenhum plano para o país tem tanto apetite por mais um mandato. A resposta certamente está nos cargos ocupados por aliados do presidente e na blindagem que a cadeira oferece contra as investigações que cercam seu grupo político.

 

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