sexta-feira, 24 de junho de 2022

Bruno Boghossian: Um programa para o 3º turno

Folha de S. Paulo

Ajustes nas diretrizes foram feitos para permitir negociações também depois da eleição

Os ajustes feitos pelo PT no programa de governo de Lula foram calculados para atravessar o que o partido trata como uma eleição em três turnos. Os acenos incluídos no texto e as lacunas mantidas em certas diretrizes têm o objetivo de preservar eleitores fiéis, deixar a porta aberta para novas adesões e, principalmente, permitir negociações caso chegue a hora de governar.

De saída, a plataforma de Lula buscou uma marca social para consolidar o favoritismo do ex-presidente no primeiro turno em segmentos como o eleitorado de baixa renda. Além disso, sustentou bandeiras tradicionais da esquerda na economia, como o veto a privatizações e a reversão de normas trabalhistas.

A campanha decidiu recuar de outras mensagens direcionadas a esse público próximo. Sumiu do plano, por exemplo, a sugestão de uma flexibilização do direito ao aborto. Assim, os petistas querem evitar uma fuga, ainda na primeira etapa, de eleitores conservadores que podem votar em Lula pela economia.

A campanha optou ainda por uma linguagem vaga o suficiente para permitir barganhas futuras no mercado eleitoral. Sem fórmulas definitivas para medidas econômicas, Lula espera contar com alguma margem para conversar com atores de direita, empresários e investidores num possível segundo turno.

Há também sinalizações para o tal terceiro turno, que vai da contagem de votos até o início de um eventual governo. Estão lá a nova proposta de valorização das carreiras policiais e as menções suaves aos militares —tentativas de reduzir o antagonismo desses grupos no caso de ameaças de tumulto pós-eleitoral.

Uma preocupação adicional dos petistas está na virada do calendário. Dirigentes do partido preferem manter até lá algum mistério em torno de pontos importantes como o teto de gastos e a reforma trabalhista. A ideia é deixar algumas brechas para discutir soluções específicas com parlamentares e atores econômicos que provavelmente não estarão com os dois pés no barco petista.

 

Um comentário:

  1. A campanha de Lula optou por uma linguagem vaga o suficiente para não sabermos se as práticas CORRUPTAS dos 2 mandatos anteriores voltarão ou se serão AMPLIADAS no próximo. Mensalão no primeiro... Petrolão no segundo... O que virá no terceiro?

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