O Globo
Estava claro que um reajuste nos preços dos
combustíveis anularia os efeitos do teto ao ICMS. Daí por que a intervenção na
Petrobras pretendia represar o repasse dos custos até a eleição. A solução,
segundo o governo gambiarra, seria paralisar a petroleira,
deslegitimado seu comando, enquanto se derramam duas Eletrobras em renúncias fiscais e subsídios — cerca
de R$ 50 bilhões para segurar a onda até o fim do ano. A própria definição de
voo de gado.
O jeitinho falhou. E toda a reação do
Planalto e do consórcio parceiro Lira/Nogueira/Costa Neto compõe a admissão de
que as medidas tomadas são ineficazes até mesmo como conjunto de pilantragens
para maquiar bombas de gasolina por quatro meses.
Falemos do mundo real. De um problema real.
Para começo de conversa, o governo deveria ter coragem para tratar do Preço de
Paridade Internacional? É contra? Hein, Guedes? Até aqui, o liberalismo à sachsida tem enrolado.
Tentarão empurrar com a barriga de novo?
Os sócios, Lira e seus nogueiras, são contra o PPI. O governo não precisa de alteração legislativa para aterrá-lo. Indicando o quarto CEO para a companhia, controlando o conselho, formando diretoria, por que não matou no peito e bancou a mudança? Só a incompetência explicará? A CPI da Petrobras investigaria isso? Investigaria o efeito especulativo de tantas gritas e trocas no comando da empresa?
Agora, a partir do Parlamento, fala-se em
sobretaxar a petroleira. Há até ideias boas. Com atraso, diz-se que o dinheiro
iria para subsídios focados, destinados aos mais pobres. Note-se, contudo, que
a nova providência viria como camada de resposta ao fracasso daquela ainda não
sancionada, a do ICMS — a de artifícios já comidos pelo reajuste nos preços dos
combustíveis, ainda assim a avançar para nos tragar R$ 25 bilhões em
desonerações.
Que tal? E vem aí a PEC da Compensação, a
emborcar outros tantos em subsídios para a gasolina que enche o tanque das
motociatas.
De puxadinho em puxadinho, empilhando
dívidas, governo e sócios vão esculpindo juros de 2023 à cata de ser
competitivos em outubro. Em todos os casos, nós financiamos o
experimento, doadores compulsórios da campanha de Bolsonaro.
Até aqui, em prol da reeleição, e de mais
quatro anos de parceria no orçamento secreto, a escolha foi por enfrentar um
problema real contratando custos fiscais imprevisivelmente, investindo no
descompasso entre demanda e oferta, oferecendo anabolizantes à inflação e
inibidores de apetite ao crescimento — e tudo para o sacrifício do pacto
federativo, sacrificado desde há muito o teto de gastos.
Por que não olhar para a ideia do fundo de
estabilização, a ser acionado em situações excepcionais predefinidas para
assistência limitada aos pobres? O problema não é o lucro da Petrobras, como
brada a visão capitalista precária do patrimonialista Lira, mas a destinação
que se dá aos dividendos da União em momentos como o atual. Onde está Guedes?
(O governo que esperneia contra os
resultados da companhia é o mesmo que celebra arrecadação recorde e gasta fiado
boa parte dos dividendos extraordinários.)
A opção por enfrentar o problema delegando
ao modelo Lira de trator significa não apenas torrar bilhões, mas ampliar a
capacidade do motor de instabilidades indutor permanente da inflação
brasileira. Significa multiplicar o efeito — e a conta — das inseguranças
conforme ministradas por Bolsonaro. Veja-se o poder do homem, um presidente da
Câmara cujo autoritarismo produz a renúncia do presidente da Petrobras.
Parabéns! E agora? Vão mexer — repito — no PPI?
Ou serão novamente — não pode ser só isto —
incompetentes, terceira troca no comando da companhia e ainda a incapacidade de
derrubar a política de preços contra a qual estrebucham? Ou essa blitz para
enfraquecer a governança da petroleira, para afrouxar a Lei das Estatais, lei
que veio em resposta à pilhagem do petrolão, tem como objetivo reconstituir
aquele tempo em que a Petrobras era da “família”, e o partido de Lira fazia os
paulo-roberto-costas?
(Adapto a Lira, que é da família, senhor do
orçamento secreto, cujas emendas distribui arbitrariamente Alagoas adentro, as
perguntas que ele propôs aos diretores da Petrobras em seu artigo na Folha:
como constituiu patrimônio?; seus parentes: investem onde e são ligados a
quem?; e seus interlocutores: são ligados a que interesses?)
Bolsonaro deu a letra sobre o quarto CEO da
empresa:
— Na troca, a gente pode colocar gente
competente lá dentro.
Na terceira troca. Não pode ser só incompetência. Mas é preciso apurar o que seria “gente competente”. Se não der certo, o presidente pode agitar nova “revolta dos caminhoneiros”. Lira, cujo capitalismo de “benevolência” é recebido com rapapés no mercado, estará na boleia. Ele é o Brasil que “vai enfrentar a Petrobras”. Será nossa a fumaça. (E a fatura.)
Quero cheirar fumaça de óleo diesel,embriagar até que alguém me esqueça,pai afasta de mim este cálice...
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