O Estado de S. Paulo
Trajetória majoritária via candidatura de
Bolsonaro à reeleição é de alto risco para o Centrão
Partidos que não têm condições de lançar um
candidato competitivo à Presidência possuem como segunda melhor alternativa
concentrar esforços e recursos nas campanhas proporcionais, mirando alcançar um
bom desempenho para a Câmara dos Deputados.
Ao ocupar um maior número de cadeiras na
Câmara, tal partido, além de ter acesso a uma maior parcela dos fundos
Partidário e eleitoral no novo ciclo legislativo, poderá se posicionar como o
partido pivotal de qualquer governo que venha a se tornar vitorioso na eleição
presidencial.
Muito provavelmente, o partido do candidato
que vencer a eleição presidencial, e tampouco a sua coligação eleitoral, não
terá maioria legislativa para governar. Necessitará, portanto, convidar outros
partidos para fazer parte da sua coalizão.
O partido pivô, especialmente se for ideologicamente amorfo e não tiver disputado a Presidência, será quase sempre a alternativa de “coadjuvante perfeito” pelo majoritário vencedor.
Os partidos do Centrão, sob a liderança do
presidente da Câmara, Arthur Lira, têm jogado o jogo do partido coadjuvante do
governo Bolsonaro quase à perfeição. Não aderiu ao governo num primeiro
momento. Quando foi convidado para fazer parte da coalizão em 2020, Bolsonaro
já estava vulnerável, com popularidade declinante, denúncias de rachadinha
envolvendo familiares, vários pedidos de impeachment e em plena pandemia.
O Centrão, portanto, ao ter poder de
barganha, pôde estabelecer os termos de troca. Além de passar a ocupar vários e
importantes ministérios e diretorias de estatais, passou a ter a
discricionariedade na elaboração e na execução de uma “nova” moeda de troca: as
emendas de relator. Só no ano eleitoral de 2022 foram previstos R$ 16,5 bilhões
para serem executados via “orçamento secreto”, o que pode gerar uma alta taxa
de reeleição para seus deputados.
Mas parece que a ambição do Centrão ainda
não foi saciada. Com a filiação de Bolsonaro ao PL, seus partidos mudaram de
trajetória e agora seguem a trilha majoritária via candidatura à reeleição do
presidente. Embora inicialmente atrativa, se transformou em uma jogada de
altíssimo risco com a perda de competitividade eleitoral de Bolsonaro,
especialmente após o escândalo de corrupção no MEC, de sua tentativa de
interferência na PF e de obstrução da Justiça.
Se derrotado, como apontam as pesquisas de
opinião, o Centrão pode sair do céu e ir direto para o inferno. Lira precisa
ser lembrado de que, embora constrangedor, noivos ainda podem ser abandonados
no altar. Abandonar Bolsonaro pode, portanto, ser um caminho mais seguro e
relativamente mais vantajoso para o Centrão no próximo governo.
O Centrão ainda aposta no Bolsonaro? Só rindo!
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