O Estado de S. Paulo
Desta vez, tanto o Banco Central do Brasil
quanto o Federal
Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) estão
perseguindo o inimigo no escuro.
Nesta quarta-feira, o Banco Central por
meio do Comitê
de Política Monetária (Copom) elevou os juros
básicos (Selic) em 0,5
ponto porcentual, para 13,25% ao ano – o que era esperado. Mas o Fed
foi mais agressivo do que se esperava até o início desta semana. Empurrou
os juros básicos (Fed funds) em 0,75 ponto porcentual, para faixa entre 1,50% e
1,75% ao ano - maior patamar em 28 anos.
A escuridão do nosso Banco Central se deve a não saber para onde vão os preços dos derivados, não em julho ou agosto, mas em janeiro. O ICMS sobre os combustíveis varia de Estado para Estado, de 23% a 34% na gasolina, 13% a 32% no etanol e 13% a 18% no óleo diesel. Vai desabar por decisão do Congresso para 17%. Só nessa mexida os preços podem cair em R$ 1,65 por litro da gasolina e em R$ 0,76 o do diesel, segundo cálculos do relator do projeto, senador Fernando Bezerra (MDB-PE). Mas tem mais. Se aprovada a PEC eleitoreira do governo, o ICMS sobre o diesel será zerado até 31 de dezembro, mas voltará aos 17% dia 1º de janeiro. Como surfar nesses vagalhões carregados de incerteza? Além disso, essas manobras populistas terão enorme custo fiscal ainda não claramente dimensionado que, por sua vez, tende a pressionar a cotação do dólar e também a inflação.
No comunicado divulgado após a reunião
desta quarta-feira, o Copom advertiu para esse provável impacto fiscal,
reconheceu que não pode prever com um mínimo de segurança como os preços dos
combustíveis incharão a inflação no curto prazo e no início de 2023 e
avisou que a economia global corre novo risco de recessão, em consequência da
atuação dos grandes bancos centrais no combate à alta da inflação e dos demais
impactos da guerra
na Ucrânia. É provável que, na reunião de agosto, o Copom tenha condições
melhores de visibilidade para recalibrar a Selic.
O Fed parece ter sido repentinamente
perseguido pelo fantasma de Paul Volcker. Ele era
o presidente do Fed em 1980, quando os choques do petróleo atiraram a inflação
dos Estados Unidos para o céu. A decisão de Volcker foi
atirar os juros para inéditos 20% ao ano. Os preços, afinal, foram domados,
mas à custa de brutal recessão.
Pois, na sexta-feira, o Fed e o resto do
mercado foram surpreendidos com um esticão
do custo de vida nos Estados Unidos, em maio, para a casa dos 8,6% ao ano.
E o presidente do Fed, Jerome Powell, que
semanas antes garantira
que a alta dos juros se limitaria a 0,5 ponto porcentual ao ano, deu um
jeito de vazar para o mercado que teria de ir além, para 0,75 ponto porcentual.
Essa foi a razão da turbulência que derrubou os mercados nos dias seguintes.
Ninguém sabe até onde vai a guerra nem
qual o limite para os preços da energia e dos alimentos e qual o
tamanho da recessão global, que também depende da recuperação da economia da
China.
Só vê gente reclamando da carestia.
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