O Estado de S. Paulo
Recados do presidente de Portugal, ao vir duas vezes ao Brasil antes das eleições
Ao vir ao Brasil duas vezes no mesmo semestre,
às vésperas das eleições, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, de Portugal, um
país invadido por brasileiros, cria uma situação ruim, desconfortável, e outra
boa, neutralizante.
A ruim é que as visitas e fotos podem ser
interpretadas como apoio à reeleição de Jair Bolsonaro. A boa é que, com ele e
outros estrangeiros, Bolsonaro vai pensar duas vezes antes de repetir nos 200
anos da Independência as ameaças à democracia do ano passado.
No último encontro, Rebelo de Sousa ficou chocado com Bolsonaro, que, isolado no mundo, sem entender de geopolítica internacional nem de questões bilaterais, saiu contando piadas de péssimo gosto.
Então, por que se dispõe a vir novamente ao
Brasil duas vezes, em julho e em setembro, com o risco de Bolsonaro ameaçar
descumprir ordem judicial e dar golpes? Porque ele não tinha como negar o
convite feito aos líderes dos nove países de língua portuguesa e porque, com
convidados internacionais, Bolsonaro terá coragem de ameaçar eleições, Supremo,
democracia?
Rebelo de Sousa deu seu recado na
conferência “Brasilportugal: perspectivas de futuro”, da Fundação Calouste
Gulbenkian: governos vêm e vão, o que importa é o povo. E, sem citar Bolsonaro,
disse que viria ao Brasil a convite do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco –
que estava presente, ao contrário de Arthur Lira, da Câmara, e do chanceler
Carlos França, que não apareceram. O governo só foi representado pela
embaixada.
Pacheco também deu seu recado. Fez uma
lista de avanços do Brasil nos últimos governos, como Plano Real, Bolsa Família
e reforma da Previdência e, sem citar Bolsonaro, disse o que brasileiros e
portugueses queriam ouvir: as instituições brasileiras, a começar pelo Senado,
estão prontas para defender as eleições e a democracia.
Rebelo de Sousa também tratou
carinhosamente Marina Silva no seu discurso e ao se apresentar a ela: “Então, é
a senhora que tanto encanta os portugueses?” Em jantar em Queluz, onde d. Pedro
I nasceu e morreu, o presidente conduziu Pacheco e Marina para conhecer os
salões impregnados de história. A deferência com a ex-ministra teve um tom de
desagravo, após resistências brasileiras a ela na conferência, em meio a
desastre ambiental, Amazônia, reservas indígenas e o assassinato brutal de
Bruno Pereira e Dom Phillips.
Ou seja: o presidente português deixou claro lá e deixará claro cá que não se mete em questões internas e não apoia nem rejeita candidatos. Ah! Para enterrar qualquer dúvida, ele também deverá se encontrar com Lula.
Marina merece todos os elogios.
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