quarta-feira, 15 de junho de 2022

Fábio Alves: Copom refém da incerteza

O Estado de S. Paulo

Em cenário tão nebuloso, o Copom deveria deixar em aberto decisão sobre juros em agosto

Uma alta de 0,50 ponto porcentual da taxa Selic, para 13,25%, já é amplamente esperada para a decisão do Copom hoje, mas a grande expectativa é saber como o Banco Central vai tratar o projeto que reduz impostos sobre combustíveis e outros serviços essenciais.

Para analistas, essa avaliação no comunicado do Copom seria a principal sinalização sobre os próximos passos da política monetária, em particular se o ciclo de alta de juros poderá prosseguir em agosto. Isso porque há o temor em relação tanto à piora fiscal quanto ao efeito adverso sobre a inflação no médio prazo do que está em discussão. 

Foi mal recebida pelo mercado a proposta do governo, via PEC, para ressarcir os Estados que decidirem zerar o ICMS sobre diesel e gás de cozinha, que resultaria numa despesa ao redor de R$ 25 bilhões fora do teto de gastos.

Como a zeragem nos impostos está prevista para acabar no fim deste ano, voltando a carga tributária mais alta no ano que vem, o alívio na inflação é de curto prazo e resultará numa pressão maior sobre os preços em 2023, justamente o horizonte relevante para a política monetária.

Antes disso, há o projeto para limitar a cobrança do ICMS em 17% para combustíveis, energia elétrica, telecomunicações e transporte, o que resultaria em renúncia de arrecadação de bilhões de reais, comprometendo o resultado primário do setor público.

Por enquanto, a grande maioria dos economistas não embutiu nas projeções os cálculos já feitos sobre o impacto na inflação de 2022 e 2023 dos projetos de redução de impostos.

Após o IPCA de maio, a mediana das estimativas para a inflação de 2022 caiu para 8,70%, no levantamento do Projeções Broadcast, ante 8,89% da última pesquisa Focus, do BC. E o consenso das projeções para o IPCA em 2023 ficou em 4,50% ante 4,39% no boletim Focus.

Como a aprovação de uma PEC nem sempre ocorre no prazo desejado pelo governo ou mantém o texto original, a reunião do Copom hoje está envolta num elevado grau de incerteza. E mesmo o alívio com o teto para o ICMS chegará integralmente aos preços das bombas de combustíveis?

Além do mais, não se sabe se a piora da percepção do risco fiscal seguirá pressionando o dólar, outra variável importante para as expectativas de inflação.

Nesse cenário tão nebuloso, o Copom deveria deixar em aberto a decisão sobre os juros na reunião de agosto. Até lá, terá mais informações sobre a dinâmica da inflação, os efeitos defasados da política monetária e a aprovação das propostas para reduzir os impostos sobre combustíveis. 

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