O Estado de S. Paulo
Os Bancos Centrais têm surpreendido e adotado medidas mais duras do que o mercado esperava
É crescente a percepção do mercado de que a
pressão política em razão da disparada da inflação – e não necessariamente
ingerência de governos – acabou guiando as mais recentes decisões de política
monetária dos principais Bancos Centrais do mundo, que surpreenderam por terem
sido bem mais duras do que os investidores esperavam.
“É a política da inflação se sobrepondo à
economia da inflação”, diz o chefe do Blackrock Investment Institute e
exvice-presidente do Banco Central do Canadá, Jean Boivin. Ele se refere,
especificamente, ao desfecho da mais recente reunião do Banco Central Europeu
(BCE), no último dia 9.
Na ocasião, o BCE manteve a taxa de juros de referência inalterada e sinalizou duas altas nas reuniões de julho e setembro. Mas, enquanto muitos esperavam a sinalização de um ritmo de altas de 0,25 ponto porcentual por reunião, o BCE deixou em aberto a possibilidade de elevar os juros em 0,50 ponto em setembro. E, para além de setembro, prometeu um “ritmo gradual e sustentado” de aperto monetário.
Boivin diz que, com essa sinalização, o BCE
acabou subscrevendo a aposta agressiva dos investidores para a trajetória dos
juros na Zona do Euro, mesmo que seja improvável que consiga entregar todo o
aperto monetário projetado pelo mercado devido ao impacto na economia.
Atualmente, a taxa de referência do BCE está negativa em 0,50%.
Apesar do recado mais duro sobre a
trajetória dos juros, o BCE piorou suas estimativas para a inflação na Zona do
Euro em 2022 (de 5,1% para 6,8%) e em 2023 (de 2,1% para 3,5%), ao mesmo tempo
que cortou a projeção de crescimento do PIB neste ano (de 3,7% para 2,8%) e em
2023 (2,8% para 2,1%).
A desconfiança sobre a pressão política da
inflação alta também contamina alguns analistas no outro lado do Oceano
Atlântico, onde o Federal Reserve (Fed) surpreendeu todos e elevou os juros nos
Estados Unidos em 0,75 ponto na sua reunião da semana passada. O BC americano
também passou a projetar uma trajetória para os juros mais parecida com a
precificação de mercado, com a taxa básica a 3,4% no fim deste ano.
Essa decisão mais dura veio apenas duas
semanas depois de uma reunião entre o presidente americano Joe Biden e Jerome
Powell, que comanda o Fed. O índice de popularidade de Biden atingiu
recentemente o nível mais baixo desde o início do seu mandato, como reflexo dos
elevados preços da gasolina e da disparada da inflação. O encontro entre um
chefe da Casa Branca e um presidente do Fed é raríssimo de acontecer. É a
política da inflação no topo das prioridades.
A carestia é geral,ao menos no mundo ocidental.
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