segunda-feira, 6 de junho de 2022

Felipe Moura Brasil: Os bons companheiros de Bolsonaro e Lula

O Estado de S. Paulo.

Por que Queiroz, que silenciou como Dirceu, teria de amargar o abandono de Palocci?

A morte de Ray Liotta em 26 de maio trouxe de volta a reverência mundial ao filme Os Bons Companheiros, de 1990, dirigido por Martin Scorsese, no qual o ator interpretou a versão adulta do mafioso Henry Hill, que narra sua própria trajetória em Nova York. A quem quiser entender as facções políticas do Brasil atual, aproveito para relembrar, também, as lições dadas por Jimmy Conway, vivido por Robert De Niro, ao então novato Henry, em versão adolescente interpretada por Christopher Serrone, quando ele é solto após sua primeira passagem pela cadeia.

“Parabéns. Aqui está o seu presente de graduação”, diz o veterano, colocando dinheiro no bolso do garoto, no corredor de saída do tribunal.

“Pelo quê? Eu fui em cana”, reage Henry, surpreso.

“Todo mundo vai em cana, mas você fez o certo. Você não contou nada a eles, e eles não conseguiram nada”, explica Jimmy.

“Eu pensei que você ficaria bravo.”

“Bravo? Eu não estou bravo. Estou orgulhoso de você.”

“Você pegou sua primeira cana como um homem e aprendeu as duas coisas mais importantes da vida.”

“Quais?”

“Olhe pra mim. Nunca caguete seus amigos e sempre mantenha sua boca fechada.”

Fora da sala, os comparsas de Jimmy recebem Henry com aplausos, abraços e apertos de bochecha. “Oh, você perdeu o cabaço!”, zomba um deles.

Fabrício Queiroz, apontado pelo MP-RJ como operador de Flávio Bolsonaro, contou em podcast que tem respondido a quem pergunta se a família do presidente vai apoiar sua candidatura a deputado federal que “é um absurdo se eles não me apoiarem”. Ao contrário do que fez Antonio Palocci com Lula, o pai da personal Nathália não entregou Flávio nem Jair. Não foi tão difícil, é verdade, já que João Otávio de Noronha, do STJ, e Gilmar Mendes, do STF, garantiram a ele e a sua então foragida mulher uma prisão domiciliar, depois relaxada. Mas Queiroz se comportou na Taquara e tem razão em cobrar seu presente.

O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, por exemplo, sempre foi afagado pelos pares. Tinha boquinha em Itaipu garantida por Dilma Rousseff enquanto era investigado e ganhou outra na CUT-PR após sair da prisão. Hoje atua nos bastidores da campanha lulista, assim como o estrategista José Dirceu, mensaleiro condenado na Lava Jato até pelo STJ. Por que Queiroz, que silenciou como Vaccari e Dirceu, teria de amargar o abandono de Palocci? Só porque não aprendeu a ser discreto na hora da eleição, como seus homólogos petistas? Queiroz também é um bom companheiro, Jair. Dá uma forcinha pra ele.

Um comentário: