Valor Econômico
Em meio a escândalo, vetos presidenciais
prejudicam o MEC
Enquanto o ex-ministro da Educação Milton
Ribeiro era levado na quarta-feira passada para a carceragem da Polícia
Federal, as preocupações do presidente Jair Bolsonaro em relação ao MEC iam
além do escândalo envolvendo a pasta.
O governo corria contra o tempo para não
perder o prazo de análise do Projeto de Lei 184, de 2017, proposta sensível
para os bolsonaristas mais ideológicos e que cerca de três semanas antes havia
sido aprovada pelo Congresso.
O projeto passou sem chamar atenção no
Senado e, como não foi modificado, seguiu direto para o Palácio do Planalto.
Lá, optou-se pelo veto integral.
Apresentada pelo PT, a proposta tenta mudar a lei de diretrizes e bases da educação para atualizar a didática aplicada nas escolas do campo. Mais precisamente, sua intenção é permitir a adoção de conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às necessidades dessas unidades de ensino, “com a possibilidade de uso, dentre outras, da pedagogia da alternância”.
Ressalte-se: possibilidade. Ainda assim,
ela foi mais uma vítima da polarização provocada por aqueles que, por questões
ideológicas, preferem tentar impedir a implementação de políticas públicas das
quais discordam a discutir os prós e contras dessas ações com profundidade.
Veio no “Diário Oficial da União” a
justificativa do presidente. E citando fundamentação que lhe foi repassada pelo
Ministério da Educação, explicou Bolsonaro: “A proposição legislativa contraria
o interesse público e incorre em vício de inconstitucionalidade ao substituir a
expressão ‘escolas rurais’ pela expressão ‘escolas do campo’, de sentido mais
restrito, pois estas se referem somente às escolas situadas em ambientes rurais
e que se enquadram na modalidade de educação do campo, enquanto aquelas podem
se enquadrar nas modalidades de educação do campo, de educação escolar indígena
e de educação escolar quilombola”. O argumento nem de longe é consenso entre
especialistas.
O despacho acrescenta que a “proposta de
utilização da pedagogia da alternância nas escolas do campo retiraria a
possibilidade de outras modalidades de educação” e, também, infringiria trecho
da Constituição que estabelece a garantia de respeito aos valores culturais e
artísticos, nacionais e regionais, na fixação dos currículos.
Guerra ideológica. No fim de 2020, ou seja,
já durante o governo Bolsonaro, o Conselho Nacional de Educação (CNE),
colegiado vinculado ao MEC, tratou do assunto com menos emoção. E reconheceu
essa metodologia como uma realidade histórica no Brasil, a qual poderia,
inclusive, ser replicada em comunidades urbanas - sobretudo aquelas com
estudantes oriundos do campo, florestas, agrovilas e assentamentos.
Segundo a literatura especializada, a
pedagogia da alternância surgiu na França em 1935 e tem como origem a interação
entre famílias rurais, o sindicato e religiosos. Eles buscavam o
desenvolvimento de uma metodologia integral de educação para as crianças, uma
forma que reunisse, a partir da realidade local, ensinamentos teóricos e
práticos.
Especialistas apontam que a pedagogia da
alternância chegou ao Brasil em 1968, no Espírito Santo, e pela atuação de um
padre jesuíta. Era um momento em que movimentos sociais eram reprimidos pela
ditadura. Mas ainda hoje ela é aplicada em alguns lugares, normalmente
identificada por seu foco nas atividades agropecuárias desenvolvidas por
famílias em pequenas propriedades e o estímulo ao desenvolvimento sustentável
de áreas rurais. Em outras palavras, o equilíbrio entre as atividades agrárias,
a saúde de quem as pratica e o meio ambiente. Algo que tem sido cada vez mais
valorizado mundo afora, mas está fora de moda desde 2019 no Brasil.
Por ironia, esse método defende que o aluno
permaneça, por exemplo, duas semanas em sistema de internato, na sede da
escola, e a outra quinzena com a família no meio em que vive. Neste período,
segundo a prática inicial francesa, os pais se responsabilizavam pelo
acompanhamento das atividades dos filhos. Ou seja, a ideia foi vetada
justamente por aqueles que defendem o “homeschooling”.
Ainda na semana passada, mas já na
quinta-feira, outra notícia vinda do Planalto foi lamentada pelos profissionais
da educação. Pouco depois de Bolsonaro dizer em uma “live” que se arrependia de
ter afirmado que colocava a cara no fogo por Milton Ribeiro (mas ainda
colocaria a mão no fogo por seu ex-auxiliar), informou-se que o presidente
vetara outro dispositivo considerado fundamental por aqueles que querem assegurar
as verbas do setor.
Desta vez, o veto era de um trecho do
projeto que estabeleceu um teto de 17% ou 18% para a cobrança do ICMS que
incide sobre combustíveis, energia elétrica, comunicações e transportes
coletivos. Justamente aquele que garantia a disponibilidade financeira para que
os mínimos constitucionais em saúde e em educação sejam mantidos, o que
incluiria os recursos do Fundo de Manutenção da Educação Básica (Fundeb). A
frente parlamentar da educação se mobiliza para derrubar os dois vetos.
Este é o retrato de um governo que ficará
conhecido pelo desleixo com o qual tratou a educação.
Após a vitória de Bolsonaro na eleição de
2018, militares e acadêmicos que trabalharam na elaboração do programa de
governo foram surpreendidos com a notícia de que o professor de filosofia Olavo
de Carvalho indicaria o Ministro da Educação.
Mas nem com a demissão de Ricardo Vélez
Rodríguez eles conseguiram assumir a pasta, que passou para as mãos da ala
ideológica com a nomeação de Abraham Weintraub. E depois foi a vez dos
evangélicos tomarem o comando do MEC, com Milton Ribeiro e companhia fazendo o
que acabou virando assunto de polícia. Já o atual ministro fez carreira na
Controladoria-Geral da União (CGU).
Vê-se, pela linha do tempo, como foi
mudando a prioridade em relação a uma das pastas mais estratégicas para
qualquer país que leve minimamente a sério o próprio futuro. Na campanha,
Bolsonaro só deve ter uma realização a apresentar na área: a renegociação de
dívidas estudantis do Fies, uma tentativa de se contrapor às administrações de
Lula.
Bolsonaro AFUNDOU a Educação brasileira! Ministros e técnicos olavistas... Pastores safados misturando religião com corrupção no MEC... E ainda teve o marinheiro que falsificou o currículo e foi indicado MINISTRO, que nem chegou a assumir... Ministro SEM educação - Weintraub! Mais preocupado em agredir e prender ministros do STF que tratar dos problemas da Educação brasileira! VERGONHAS e TRAGÉDIAS desde o primeiro dia no Ministério da Educação no DESgoverno Bolsonaro!
ResponderExcluirEducação,cultura,saúde,segurança,meio ambiente,economia,não tem área que não foi destroçada por Bolsonaro.
ResponderExcluirUm governo de canalhas!!
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