Folha de S. Paulo
O romantismo não é uma criação maléfica do
patriarcado, e sim manifestação sublime da nossa humanidade
Vivemos na era das problematizações. Cada
aspecto da vida cotidiana é destrinchado para que se encontre uma relação
política de dominação. Logo, o Dia dos Namorados vira o dia de desconstruir o
romantismo e a monogamia.
O amor romântico seria um instrumento criado pelo patriarcado para manter as mulheres submissas. De tanto ouvir histórias de homens idealizados que as salvam da solidão ou do perigo, as mulheres introjetam esse papel passivo e acabam presas no casamento. Será? Ao decidir ficar com Romeu, Julieta foi contra sua família, que era inimiga da família de Romeu. Ou seja, Julieta se liberta do jugo familiar e se sente como um indivíduo único justamente porque vê apenas em Romeu o seu amor.
Essa relação entre romantismo e liberdade
individual se espraia pela literatura e pelo cinema. Em ficções científicas que
se passam em sociedades distópicas sob regimes totalitários, geralmente o
personagem principal se liberta do poder estatal através do amor românico.
Assim é em "1984", em "Nós", em "Admirável Mundo
Novo" e no filme "THX-1138". O romantismo nos torna sujeitos
independentes de controles sociais.
O amor romântico não é uma criação maléfica
de um ente abstrato (o patriarcado), e sim a construção de artistas que colocam
nas páginas e nas telas as dores e alegrias humanas da vida real. Quando Mildred Loving (uma mulher negra) acionou a Suprema Corte
dos EUA em 1967 para poder se casar com o homem branco que amava, foi submissa?
E a paquistanesa Zeena Rafig, que foi assassinada pela própria
família porque se casou escondido, também? Não, são exemplos de afirmações
poderosas contra sistemas totalitários.
Quando somos livres para amar, é fácil
dizer que o amor romântico é uma prisão. Dá-se por garantida essa manifestação
de liberdade que foi duramente conquistada e que, justamente pela dificuldade,
faz parte do acervo cultural da humanidade. Então, enamorados do mundo,
uni-vos! Vocês não têm nada a perder, a não ser os seus grilhões.
Verdade,antigamente se casava por indicação e imposição dos pais,minha avó chegava chorar porque não queria casar com meu avô.
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